João Wassamba, Angop
A dança folclórica Ndembe constitui um elemento
sociocultural fulcral e aglutinador das populações das comunas do Úcua e
Kicabo, município do Dande, província angolana do Bengo, por representar a
tradição e preservar a identidade cultural desta região.
Ndembe, que significa batuque, na língua kimbundu, foi adaptada a dança
pelo chamariz da sua ressonância que se constitui num elemento unificador,
fazendo rodopiar os seus admiradores.
A dança Ndembe caracteriza-se pela exercitação corporal sincronizada,
através de movimentos rítmicos cadenciados, criando uma harmonia cuja
coreografia consiste em unir os pares.
De acordo com testemunhas da região, o Ndembe assemelha-se a algumas danças
tradicionais antigas, cuja execução rítmica consistia também nos batimentos
repetitivos dos pés dos cavalheiros no chão, conjugando com as palmas das mãos.
Segundo eles, o Ndembe está igualmente ligado aos aspectos religiosos,
festivos, históricos, a caça e lendas, bem como acontecimentos do
quotidiano e folias em recintos abertos, para celebrar a chegada de um caçador
com um animal ou um visitante na comunidade.
Para tornar a dança Ndembe mais atractiva, foram introduzidos outros
instrumentos musicais, tais como reco-reco e corneta tradicional (pungue),
cujos executantes trajam-se de indumentarias típicas de caçadores.
Relatos executantes do grupo cultural da comuna do Úcua dizem que a dança
folclórica Ndembe é animada com canções populares, cujas letras reivindicavam a
liberdade do angolano do jugo colonial português.
O regedor António Benvindo, um dos bailarinos desta dança, 79 anos, na
comuna de Kicabo (Dande), confirma que, para além da sua exuberância, a Ndembe
serve para receber visitantes, dando as boas vindas com palmas e
assobios.
A entidade tradicional sustentou que na província do Bengo existem vários
grupos folclóricos que dançam Ndembe, cuja notoriedade recai as comunas do Úcua
e Kicabo (município do Dande), cujos intérpretes continuam a dar o ar da sua
graça nas pistas de dança, sobretudo nos desfiles carnavalescos, para
incentivar os jovens a preservar esse tipo de dança.
O ancião lembrou que mesmo na época colonial, o seu grupo era convidado
para animar vários eventos como forma de preservar a arte de dançar e a
identidade cultural.
Por seu turno, Carla Saraiva, dançarina, 69 anos, residente na comuna do
Úcua, adiantou que a tipologia da dança Ndembe é característica do semba e do
kabetula, cujos dançarinos exibem-se numa roda.
Explicou que a outra vertente desta dança consubstancia-se em festejar num
determinado óbito de um caçador, onde o grupo exibe-se para homenageá-lo.
Maria Joana, a dançarina mais antiga do grupo tradicional Ndembe do Jungo,
85 anos, afirmou que já levaram esta dança em cerimónia festiva na província de
Luanda.
A velha Joana revelou, por outro lado, que dançavam o Ndembe para
homenagear os pescadores pela abundância nas suas capturas piscatórias,
trazendo o bagre, cacusso e seguilhões, mais predominante nas lagoas das
Ibêndua, Murima, Muculo.
Já o soba da região do Dande, Francisco Pedro José Neto Salamubemba,
considerou a dança como uma tradição que deve ser praticada por jovens e servir
de exemplo para as gerações vindouras.
Solicita as instituições de direito, com realce para o Ministério da
Cultura e da Justiça, a registarem a dança Ndembe para servir de baluarte
nacional, fazendo parte do acervo cultural desta região.
Por sua vez, o antropólogo Miguel João Paulo esclarece que o Ndembe pode
ser considerado “um rito histórico de passagem, visando recrear momentos gloriosos
do passado e do presente”.
Explicou que a dança Ndembe servia igualmente para focalizar os valores
religiosos, maus espíritos, a morte e momentos de jubilação quando houvesse boa
colheita na agricultura, pesca e caça.
A Direcção Provincial da Cultura do Bengo reafirma que fará a divulgação do
Ndembe e revitalizar os grupos desta dança folclórica da região, para continuar
a animar bailes e eventos culturais na província e não só.
Actualmente tem como
defensores um grupo de mais de 30 pessoas das comunidades do Jungo (Úcua) e
Kicabo, município do Dande.
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