Alcides Tamele
XINGOMANA não se dança
com sapatos, dança-se para a liberdade. Foi isso que doze grupos de igual
número de distritos de Gaza mostraram no fim-de-semana passado na aldeia moçambicana
de Nwadjahane, na primeira edição do Festival Xingomana.
Dançaram e cantaram
pessoas de diferentes faixas etárias, maioritariamente mulheres adultas, que
não pouparam esforços para serem destacados como os melhores. Sorte teve o
Grupo Cultural de Nwadjahane que convenceu o júri, ficando em primeiro lugar
com um prémio monetário de 104 mil meticais.
O segundo e terceiro
lugar foram atribuídos aos grupos de Xai-Xai e Bilene com os prémios de 69400
meticais e 34800 meticais respectivamente.
O júri viu-se obrigado a
desqualificar o grupo da cidade de Xai-Xai que, por razões desconhecidas, todos
os elementos executaram a dança calçados o que, segundo entendidos na matéria,
quebra a originalidade dos movimentos.
A demonstração e o
empenho mostravam que estes grupos não dançavam apenas pelos prémios, dançavam
pela liberdade e soberania que tem desde que o país se libertou do colonialismo
português.
Foi essa liberdade
inspirada por Eduardo Mondlane, nascido em Nwadjahane, a 20 de Junho de 1920,
que motivou a realização da primeira edição do Festival Xingomana.
A iniciativa pretendia
celebrar a vida e obra do primeiro presidente da Frente de Libertação de
Moçambique (FRELIMO), movimentou que libertou o país.
Foi com intenção de
celebrar a vida do “Arquitecto da Unidade Nacional” que estes grupos dançaram e
não se pouparam. Cada colectivo apresentava o seu canto, todos inspirados na
ideia de liberdade, tal como apregoava Mondlane.
Trajados informalmente e
com detalhes que caracterizam esta cultura, crianças, adolescentes, jovens e
adultos entoavam seus cantos e dançavam, uns com mais vigor que os outros e com
experiências diferentes.
Sob o lema “Celebrando
Eduardo Mondlane”, o Festival Xingomana também visava celebrar os 95 anos que
Eduardo Mondlane completaria se fosse vivo. Foi essa uma das razões que levou
cidadãos nacionais e estrangeiros a testemunharem aquele evento.
Para além da dança
Xingomana, oriunda da província de Gaza, mas alargada a outras regiões do país,
o festival teve outras componentes como uma feira gastronómica e visitas
guiadas ao Museu Aberto de Nwadjahane.
Chude Mondlane, uma das
organizadoras, esclareceu que a iniciativa mostrou-se viável e a ideia é criar
condições para que o festival seja anual e com a obrigação de melhorar a
qualidade a cada edição.
“Também queremos
incentivar a candidatura da dança Xingomana à lista do Património Cultural da
Humanidade, conferido pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência
e Cultura”, acrescentou.
EXPLORAR POTENCIAL
TURÍSTICO E CULTURAL
A ideia dos
organizadores do festival, aNkateko Produções e N’Tchaia Produções, é explorar
o potencial cultural e turístico desta dança para contribuir para o crescimento
local, regional e de todo o território nacional.
Para tal, será preciso
integrar os conteúdos sobre esta dança no curriculum local, que, por sua vez,
deverá estimular palestras, debates e concursos nas escolas, o que aumentará
mais o conhecimento, a viabilidade e informação sobre a cultura xingomana.
É neste sentido que os
organizadores convidaram o governo provincial de Gaza a participar nesta
iniciativa. A governadora Stella da Graça mostrou-se satisfeita com o evento e
manifestou total apoio, apelando a participação de todos os cidadãos nacionais.
“Demonstrar a ligação
intrínseca entre a cultura e o turismo, provando que a cultura é um veículo de
desenvolvimento social, cultural e económico. É preciso explorar esses recursos
para o bem de todos”, referiu.
Ela defende ainda que o
Festival Xingomana pode promover o potencial histórico-cultural que pode ser
explorado e associado ao turismo pode contribuir para o desenvolvimento do
país.
Nwadjahane ficou, deste
modo, como referência de turismo cultural da comunidade, tendo como suporte a
vida e obra de Eduardo Mondlane, perpetuando, assim, os seus ideais.
UM LUGAR HISTÓRICO
Entre os participantes
do primeiro Festival Xingomana estavam cidadãos de quase toda a região sul e de
países vizinhos como África do Sul e Swazilândia, entre eles Godfrey Mondlane,
um sul-africano que desde muito segue a história de vida de Eduardo Mondlane.
Foi com a curiosidade de
conhecer o local de origem do Arquitecto de Unidade Nacional que ele e sua
família se deslocaram a Nwadjahane e participaram da visita guiada ao Museu
Aberto de Nwadjahane.
O local possui vários
elementos culturais que ligam o espaço à vida de Eduardo Mondlane, entre os quais
destacam-se o cemitério da família Mondlane, a palhota em que o obreiro da
unidade nacional viveu na sua infância, a casa que mandou construir em 1961,
quando já era funcionário das Nações Unidas.
O museu de Nwadjahane
visa documentar os momentos da vida de Mondlane e elementos da cultura e
história desta família.
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