domingo, 28 de junho de 2015

Xingomana: a dança da libertação

Alcides Tamele  
 
XINGOMANA não se dança com sapatos, dança-se para a liberdade. Foi isso que doze grupos de igual número de distritos de Gaza mostraram no fim-de-semana passado na aldeia moçambicana de Nwadjahane, na primeira edição do Festival Xingomana.
Dançaram e cantaram pessoas de diferentes faixas etárias, maioritariamente mulheres adultas, que não pouparam esforços para serem destacados como os melhores. Sorte teve o Grupo Cultural de Nwadjahane que convenceu o júri, ficando em primeiro lugar com um prémio monetário de 104 mil meticais.
O segundo e terceiro lugar foram atribuídos aos grupos de Xai-Xai e Bilene com os prémios de 69400 meticais e 34800 meticais respectivamente.
O júri viu-se obrigado a desqualificar o grupo da cidade de Xai-Xai que, por razões desconhecidas, todos os elementos executaram a dança calçados o que, segundo entendidos na matéria, quebra a originalidade dos movimentos.
A demonstração e o empenho mostravam que estes grupos não dançavam apenas pelos prémios, dançavam pela liberdade e soberania que tem desde que o país se libertou do colonialismo português.
Foi essa liberdade inspirada por Eduardo Mondlane, nascido em Nwadjahane, a 20 de Junho de 1920, que motivou a realização da primeira edição do Festival Xingomana.
A iniciativa pretendia celebrar a vida e obra do primeiro presidente da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), movimentou que libertou o país.
Foi com intenção de celebrar a vida do “Arquitecto da Unidade Nacional” que estes grupos dançaram e não se pouparam. Cada colectivo apresentava o seu canto, todos inspirados na ideia de liberdade, tal como apregoava Mondlane.
Trajados informalmente e com detalhes que caracterizam esta cultura, crianças, adolescentes, jovens e adultos entoavam seus cantos e dançavam, uns com mais vigor que os outros e com experiências diferentes.    
  
Sob o lema “Celebrando Eduardo Mondlane”, o Festival Xingomana também visava celebrar os 95 anos que Eduardo Mondlane completaria se fosse vivo. Foi essa uma das razões que levou cidadãos nacionais e estrangeiros a testemunharem aquele evento.
Para além da dança Xingomana, oriunda da província de Gaza, mas alargada a outras regiões do país, o festival teve outras componentes como uma feira gastronómica e visitas guiadas ao Museu Aberto de Nwadjahane.
Chude Mondlane, uma das organizadoras, esclareceu que a iniciativa mostrou-se viável e a ideia é criar condições para que o festival seja anual e com a obrigação de melhorar a qualidade a cada edição.
“Também queremos incentivar a candidatura da dança Xingomana à lista do Património Cultural da Humanidade, conferido pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura”, acrescentou.
EXPLORAR POTENCIAL TURÍSTICO E CULTURAL
A ideia dos organizadores do festival, aNkateko Produções e N’Tchaia Produções, é explorar o potencial cultural e turístico desta dança para contribuir para o crescimento local, regional e de todo o território nacional.
Para tal, será preciso integrar os conteúdos sobre esta dança no curriculum local, que, por sua vez, deverá estimular palestras, debates e concursos nas escolas, o que aumentará mais o conhecimento, a viabilidade e informação sobre a cultura xingomana.
É neste sentido que os organizadores convidaram o governo provincial de Gaza a participar nesta iniciativa. A governadora Stella da Graça mostrou-se satisfeita com o evento e manifestou total apoio, apelando a participação de todos os cidadãos nacionais.
“Demonstrar a ligação intrínseca entre a cultura e o turismo, provando que a cultura é um veículo de desenvolvimento social, cultural e económico. É preciso explorar esses recursos para o bem de todos”, referiu.  
Ela defende ainda que o Festival Xingomana pode promover o potencial histórico-cultural que pode ser explorado e associado ao turismo pode contribuir para o desenvolvimento do país.
Nwadjahane ficou, deste modo, como referência de turismo cultural da comunidade, tendo como suporte a vida e obra de Eduardo Mondlane, perpetuando, assim, os seus ideais.
UM LUGAR HISTÓRICO
Entre os participantes do primeiro Festival Xingomana estavam cidadãos de quase toda a região sul e de países vizinhos como África do Sul e Swazilândia, entre eles Godfrey Mondlane, um sul-africano que desde muito segue a história de vida de Eduardo Mondlane.
Foi com a curiosidade de conhecer o local de origem do Arquitecto de Unidade Nacional que ele e sua família se deslocaram a Nwadjahane e participaram da visita guiada ao Museu Aberto de Nwadjahane.
O local possui vários elementos culturais que ligam o espaço à vida de Eduardo Mondlane, entre os quais destacam-se o cemitério da família Mondlane, a palhota em que o obreiro da unidade nacional viveu na sua infância, a casa que mandou construir em 1961, quando já era funcionário das Nações Unidas.

O museu de Nwadjahane visa documentar os momentos da vida de Mondlane e elementos da cultura e história desta família.
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