domingo, 3 de maio de 2015

Nelsa Guambe: diálogo com a arte

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QUANDO 2015 iniciou, Nelsa Guambe decidiu pintar com mais intensidade. Mergulhou no trabalho e criou vários quadros. Motivada pela realidade que presenciava, em conversa contínua com Moçambique, exprimiu os seus sentimentos.
Há cerca de duas semanas tomou uma decisão e já não há como voltar atrás. A irmã gémea, Nelly, fica ao seu lado em sinal de apoio. Nelsa respira fundo, busca forças, com a firmeza da decisão que tomou, segura a porta da galeria do Núcleo de Arte e convida o público para presenciar a sua primeira exposição individual - “A Arte por Trás da Mulher”. A mostra encerra esta semana (final de Abril).
Nelsa Guambe nasceu em Chicuque, província de Inhambane, em 1987. As suas ambições não cabiam naquela localidade, e para satisfazê-las rumou à África do Sul para se formar. Licenciou-se em Administração Pública e Estudos de Desenvolvimento na UNISA (University of South Africa), em 2010.
Sozinha aprendeu a dominar as artes plásticas e tornou-se membro e artista do Núcleo de Arte. Esta artista plástica moçambicana já participou em várias exposições colectivas em diversas instituições, entre as quais se destacam as seguintes: três exposições no Núcleo de Arte, em 2011 e 2012; uma exposição no Evangelische Luthersch Kirche, em Detmold, Alemanha; duas exposições no Instituto Cultural Moçambique-Alemanha (ICMA) anos de 2012 e 2015; duas exposições no Centro Cultural Franco-Moçambicano (CCFM) em 2012 e 2014.
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Actualmente, Nelsa vive em Maputo. Trabalha a tempo inteiro na sua área de formação e é ainda fundadora e responsável, juntamente com a sua irmã gémea Nelly Guambe, da marca de design de moda “Mima-te”.
Quais os sentimentos que se escondem por detrás das mulheres? Questionámos, ao que nos respondeu: Se perguntarmos à mulher o que ela tem, sente, quer e deseja, saberemos a resposta”, expressa Nelsa. Mas as perguntas por vezes tardam, por isso ela decidiu por si só responder a essa questão em uma exposição.
A artista define as suas obras como diálogos que ela trava com a sua terra-mãe. “As minhas obras são uma conversa contínua com Moçambique”. Nestas interlocuções, uma mistura de sentimento passeia nas telas, às vezes tristeza e noutras alegria.
“Às vezes, as minhas conversas com Moçambique deixam-me revoltada, indignada. A realidade social entristece-me. Mas também retrato felicidade, como na obra “Jam Session” em que dou vida a pessoas descontraídas, felizes. Enfim, a pintura é uma maneira de retratar o dia-a-dia, fazer uma análise de Moçambique através de cores nas telas”, anota.
Para Nelsa, um quadro é um espelho, cada um faz a interpretação consoante as suas experiências. “Eu gosto que a audiência faça o seu próprio juízo. Eu criei as obras, agora cabe às pessoas fazerem o seu julgamento”, narra.
O estilo artístico de Nelsa Guambe é característico. Mariana Camarate, apreciadora de artes plásticas, descreve-a nos seguintes termos: “Entre tintas acrílicas sobre a tela e pastel de óleo sobre papel, a artista desenvolve um expressionismo abstracto e figurativo de justaposição de cores vibrantes e pincelada livre. Entre figuras bizarras, desconstruções geométricas e de figura humana, a artista representa mediante vibrações africanas o que a inquieta socialmente”, pormenoriza.  
As 27 obras de Nelsa preencheram a galeria do Núcleo de Arte. Todas foram feitas em 2015, menos a obra “Eu gosto de quem gosta dela”.
Esta obra divide a galeria em duas tendências. Na primeira deparamo-nos com telas em tinta acrílica e na segunda aparecem molduras, retratos de rostos, facetas de várias mulheres, traçados usando o pastel de óleo sobre o papel.
Além da aparência física, Nelsa e Nelly partilham os mesmos gostos. O seu trajecto é similar, as duas estudaram na mesma universidade, mas cursos diferentes, e participaram nas mesmas exposições colectivas.
Antes de decidir expor, Nelsa fez várias questões a si mesma: “Será que vale a pena? Será que não devo esperar? Será que é a hora certa? Será que devo consultar mais alguém? São perguntas que surgiram, mas senti que estava preparada para fazer e decidi fazer”. 
No início, Nelly ficou reticente, mas deixou que a irmã desse o seu primeiro passo a solo.
“De princípio estava relutante se tinha de ser agora ou não. Uma exposição individual requer coragem, pois é a representação do seu ‘Eu’ à sociedade. Então perguntei à minha irmã: Tens certeza?
‘Sim, eu tenho obra suficiente e tem de ser agora’, respondeu Nelsa. Vi as obras, percebi que no fundo ela se estava preparando desde o início do ano. Sem mais nada a fazer, eu disse: wau!!! Mulher corajosa, mulher que quer mostrar o que faz e está preparada”, relatou Nelly, com admiração e orgulho da sua irmã.
Nelsa sabe que a decisão foi repentina. “Nada é fácil, a primeira vez é sempre difícil, mas tinha de ser. Abril é o mês da mulher e eu senti que é este o momento oportuno para trazer a mostra”.
A exposição tem um pedaço dos amigos e colegas de trabalho mais próximos da expositora. “Na sexta-feira, dia 10 de Abril, com ajuda dos meus amigos artistas, passei a tarde e noite dispondo as obras na galeria. Foi um trabalho duro, saímos daqui muito tarde”.
ESPLÊNDIDO
O trabalho colectivo deu resultados. Zé Maria, apreciador das artes plásticas e membro do agrupamento Pazedi, confirma: “Esplêndido! Um passo gigantesco para uma primeira exposição individual”, relata hesitante, procurando palavras para descrever o que os seus olhos vêem”. As palavras que não saíram oralmente expressa através da escrita no caderno de felicitações:
Há muito tempo que esperava ver algo da menina que agora é senhora
a empurrar a bicicleta para o Núcleo de Art.
hoje ela impura a arte na vida”, expressa o artista.
O público contemplava as obras com atenção e trocava comentários sobre as mesmas. A expositora recebia abraços, beijinhos e congratulações do público. Além da demonstração afectuosa, o público respondia de outra forma. “A exposição está a ser um sucesso. Já vendemos um bom número de obras”, constatou Nelly.
Nelsa Guambe lança um apelo: “Convido todos para que venham dar uma olhada à exposição”.
Curtindo o momento, em relação aos planos futuros, ela deixa tudo em aberto: “Não há nada em vista, mas se Moçambique quiser conversar comigo eu estou aberta”.

Hélio Nguan (Cultura do Notícias de Moçambique)

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