quinta-feira, 7 de maio de 2015

JAZZ: a liberdade em forma de música

 Hélio Nguane
No silêncio, os escravos escondiam os seus sentimentos. Através de sons, o silêncio ganhou voz, através da música Jazz a liberdade ganhou vida. A Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) consagrou o 30 de Abril, como Dia Internacional do Jazz. No país (Moçambique), esta data foi pela primeira vez comemorada com um evento organizado pela Associação Cultural Phiane.

Um dia anormal
Mais um dia de trabalho na cidade de Maputo. Na Avenida 25 de Setembro, os carros seguem o seu rumo. Pessoas em movimento. O calor do meio-dia, 12:00 horas, é infernal. É mais uma quinta-feira.
Em frente ao Teatro Avenida foi montado um palco. Dele saem sons. Numa mesa improvisada, ao lado do palco, existem CD´s de Jazz à venda. Isabel Novella, Wanda Baloye, Jimmy Dludlu e estrangeiros Milles Daves, Gregory Potter, sãos alguns dos discos disponíveis. As pessoas que por ali passavam deixavam-se contagiar pelo som, apreciavam os CD´s, uns compravam e outros não.
Em simultâneo, na sala do Teatro Avenida é projectado o documentário “Jazz - Ken Burns”. Na tela assiste-se a “ressurreição” de figuras como Louis Armstrong, Ella Fitzgerald, Charlie Parker, entre outros. A história desta expressão musical é reconstituída.
No Centro Cultural Municipal Ntsindya vive-se o mesmo clima: musica, venda de cd´s e documentário sobre jazz.
Noite de Jazz
A celebração do Dia Internacional de Jazz culminou com um concerto. Como aperitivo, o músico Orlando da Conceição trouxe ao palco cinco dos seus estudantes de saxofone. No piano, professor Orlando comandava os “miúdos”. Eles sopravam com convicção, levando o público ao delírio.
O prato principal da noite, João Cabral Band, proporcionou momentos de vibração e harmonia. A sua banda é composta pelo baterista Almeida Ngoca, ex membro dos K10, Mindo Salato (viola baixo), o mais velho da banda, o saxofonista Sarmento e a vocalista Onésia, a mais nova da banda, são os restantes membros.
De olhos fechados, Cabral manuseava a sua guitarra. Seus dedos desfilavam nas cordas daquele instrumento e tiravam sons de tristeza, alegria. Sarmento soprava o saxofone com “felling”. Rebelde, deixava o seu instrumento falar mais alto. A viola baixo, a bateria e a voz acompanhavam o decurso do concerto.
Para completar a noite, professor Orlando e seus “miúdos” subiram ao palco. Depois de uma faixa musical, o músico, Zé Maria, saiu da plateia, subiu ao palco, pegou seu enorme saxofone e deu aulas aos jovens saxofonistas. O improviso e liberdade caracterizaram a actuação deste experimentado músico.
Depois do concerto, João Cabral expressou o que lhe vinha na alma. “É um momento ímpar para mim estar a actuar neste dia. Fui pego de surpresa, mas vi o convite como uma oportunidade para mostrar o nosso trabalho. A banda ensaiou e o resultado foi esse”.
Zé Maria olha o Jazz como uma manifestação do espírito. “Este ritmo simboliza a luta contra a segregação. Em Moçambique estamos a testemunhar o surgimento de uma nova geração de jazzistas. Jazz é improviso. É liberdade. O músico tem de estar livre para mostrar os seus sentimentos. Que oportunidades como essas se repitam”.
Para Orlando da Conceição, Jazzista desde 1987 e docente na Escola de Comunicação e Artes da Universidade Eduardo Mondlane (ECA - UEM) e na Escola Nacional de Música, Moçambique tem condições matérias para se leccionar Jazz, mas não acontece no ensino geral.
Exemplo disso é que no país já nasceram grandes executores deste ritmo, tais os casos de Jimmy Dludlu, Orlando Venhereque, Frank Paco, Morreira Chonguiça, Ivan Mazuze entre outros.
Para este experimentado músico e docente. “Moçambique tem bons jazzistas a maioria são produto da Escola de Musica. Na ECA existem bons músicos, mas outros indivíduos que buscam apenas o canudo, certificado”.
O Jazz de volta as raízes
O jazz teve origem nos Estados Unidos da América. Suas raízes remontam da música da comunidade afro-americana, escravos, no período antes de 1850. As influências nomeiam o “Ragtime” - músicas cantadas pelos negros durante o trabalho - e o Blues. O Jazz nasceu no período entre 1890 e 1910, tendo-se popularizado nas primeiras décadas do século XX. Nova Orleã é reconhecida como a cidade onde este estilo começou a ser tocado.
O Dia Internacional do Jazz é celebrado a 30 de Abril. A data foi criada pela UNESCO e anunciada pelo pianista e embaixador da boa vontade desta instituição, Herbie Hancock.
Em 2012, foi celebrado pela primeira vez o Dia Internacional do Jazz. A comemoração tem como objectivo relembrar a importância deste género musical e o seu contributo na promoção de diferentes culturas e povos ao longo da história.
Para promover esta data decorrem vários concertos, promovidos por escolas, grupos, associações e músicos, com o intuito de apresentar à população este género musical. Movida por este sentimento, a Associação Cultural Phiane, agarrou esta causa e trouxe para Moçambique, pela primeira vez, a celebração deste dia.
“A ideia surgiu do director artístico da associação, o conceituado Jazzista Ivan Mazuze. Ele já vinha organizando o Jazz Festival Day na Noruega. Os restantes membros abraçaram a causa. A UNESCO concedeu-nos o selo, autorização, e organizamos o evento”, pormenoriza o presidente da Associação Cultural Phiane, Armando Obisse Jr. (Buffalo).

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