Hélio Nguane
No silêncio, os escravos
escondiam os seus sentimentos. Através de sons, o silêncio ganhou voz, através
da música Jazz a liberdade ganhou vida. A Organização das Nações Unidas para
Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) consagrou o 30 de Abril, como Dia
Internacional do Jazz. No país (Moçambique), esta data foi pela primeira vez
comemorada com um evento organizado pela Associação Cultural Phiane.
Um dia anormal
Mais um dia de trabalho
na cidade de Maputo. Na Avenida 25 de Setembro, os carros seguem o seu rumo.
Pessoas em movimento. O calor do meio-dia, 12:00 horas, é infernal. É mais uma
quinta-feira.
Em frente ao Teatro
Avenida foi montado um palco. Dele saem sons. Numa mesa improvisada, ao lado do
palco, existem CD´s de Jazz à venda. Isabel Novella, Wanda Baloye, Jimmy Dludlu
e estrangeiros Milles Daves, Gregory Potter, sãos alguns dos discos
disponíveis. As pessoas que por ali passavam deixavam-se contagiar pelo som,
apreciavam os CD´s, uns compravam e outros não.
Em simultâneo, na sala
do Teatro Avenida é projectado o documentário “Jazz - Ken Burns”. Na tela
assiste-se a “ressurreição” de figuras como Louis Armstrong, Ella Fitzgerald,
Charlie Parker, entre outros. A história desta expressão musical é reconstituída.
No Centro Cultural
Municipal Ntsindya vive-se o mesmo clima: musica, venda de cd´s e documentário
sobre jazz.
Noite de Jazz
A celebração do Dia
Internacional de Jazz culminou com um concerto. Como aperitivo, o músico
Orlando da Conceição trouxe ao palco cinco dos seus estudantes de saxofone. No
piano, professor Orlando comandava os “miúdos”. Eles sopravam com convicção,
levando o público ao delírio.
O prato principal da
noite, João Cabral Band, proporcionou momentos de vibração e harmonia. A sua
banda é composta pelo baterista Almeida Ngoca, ex membro dos K10, Mindo Salato
(viola baixo), o mais velho da banda, o saxofonista Sarmento e a vocalista
Onésia, a mais nova da banda, são os restantes membros.
De olhos fechados,
Cabral manuseava a sua guitarra. Seus dedos desfilavam nas cordas daquele
instrumento e tiravam sons de tristeza, alegria. Sarmento soprava o saxofone
com “felling”. Rebelde, deixava o seu instrumento falar mais alto. A viola
baixo, a bateria e a voz acompanhavam o decurso do concerto.
Para completar a noite,
professor Orlando e seus “miúdos” subiram ao palco. Depois de uma faixa
musical, o músico, Zé Maria, saiu da plateia, subiu ao palco, pegou seu enorme
saxofone e deu aulas aos jovens saxofonistas. O improviso e liberdade
caracterizaram a actuação deste experimentado músico.
Depois do concerto, João
Cabral expressou o que lhe vinha na alma. “É um momento ímpar para mim estar a
actuar neste dia. Fui pego de surpresa, mas vi o convite como uma oportunidade
para mostrar o nosso trabalho. A banda ensaiou e o resultado foi esse”.
Zé Maria olha o Jazz
como uma manifestação do espírito. “Este ritmo simboliza a luta contra a
segregação. Em Moçambique estamos a testemunhar o surgimento de uma nova
geração de jazzistas. Jazz é improviso. É liberdade. O músico tem de estar
livre para mostrar os seus sentimentos. Que oportunidades como essas se
repitam”.
Para Orlando da
Conceição, Jazzista desde 1987 e docente na Escola de Comunicação e Artes da
Universidade Eduardo Mondlane (ECA - UEM) e na Escola Nacional de Música,
Moçambique tem condições matérias para se leccionar Jazz, mas não acontece no
ensino geral.
Exemplo disso é que no
país já nasceram grandes executores deste ritmo, tais os casos de Jimmy Dludlu,
Orlando Venhereque, Frank Paco, Morreira Chonguiça, Ivan Mazuze entre outros.
Para este experimentado
músico e docente. “Moçambique tem bons jazzistas a maioria são produto da
Escola de Musica. Na ECA existem bons músicos, mas outros indivíduos que buscam
apenas o canudo, certificado”.
O jazz teve origem nos
Estados Unidos da América. Suas raízes remontam da música da comunidade
afro-americana, escravos, no período antes de 1850. As influências nomeiam o
“Ragtime” - músicas cantadas pelos negros durante o trabalho - e o Blues. O
Jazz nasceu no período entre 1890 e 1910, tendo-se popularizado nas primeiras
décadas do século XX. Nova Orleã é reconhecida como a cidade onde este estilo
começou a ser tocado.
O Dia Internacional do
Jazz é celebrado a 30 de Abril. A data foi criada pela UNESCO e anunciada pelo
pianista e embaixador da boa vontade desta instituição, Herbie Hancock.
Em 2012, foi celebrado
pela primeira vez o Dia Internacional do Jazz. A comemoração tem como objectivo
relembrar a importância deste género musical e o seu contributo na promoção de
diferentes culturas e povos ao longo da história.
Para promover esta data
decorrem vários concertos, promovidos por escolas, grupos, associações e
músicos, com o intuito de apresentar à população este género musical. Movida
por este sentimento, a Associação Cultural Phiane, agarrou esta causa e trouxe
para Moçambique, pela primeira vez, a celebração deste dia.
“A ideia surgiu do
director artístico da associação, o conceituado Jazzista Ivan Mazuze. Ele já
vinha organizando o Jazz Festival Day na Noruega. Os restantes membros
abraçaram a causa. A UNESCO concedeu-nos o selo, autorização, e organizamos o
evento”, pormenoriza o presidente da Associação Cultural Phiane, Armando Obisse
Jr. (Buffalo).
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