A escravatura no Brasil
foi abolida há 127 anos, em 13 de Maio de 1888, depois de 5,5 milhões de
africanos terem sido forçados a embarcar para o país, principalmente das
regiões onde hoje se situam Angola e Gana.
Estima-se que, entre
1501 e 1866, tenham sido transportados mais de 12 milhões de escravos no mundo,
sendo 5,8 milhões em navios portugueses ou brasileiros, segundo o Voyages,
banco de dados desse tipo de tráfico, feito por professores de universidades de
diferentes países, incluindo Portugal, Brasil, Estados Unidos, Reino Unido,
Nova Zelândia e Canadá.
Dos 5,5 milhões de
escravos que embarcaram para o Brasil, 3,86 milhões eram provenientes do
centro-oeste africano, que inclui a região onde hoje é Angola, Zaire e Congo, e
877 mil da chamada Costa da Mina, ou golfo do Benim, que inclui parte dos
actuais Gana, Togo, Benim e Nigéria, segundo o banco de dados, citado pela
LUSA.
Mariza Soares,
professora de História de África da Universidade Federal Fluminense, no Rio de
Janeiro, afirmou que o tráfico de escravos africanos para o Brasil começou com
trabalhadores forçados da costa da Senegâmbia, no século XV. No século
seguinte, a região do centro-oeste africano, onde já havia portugueses
estabelecidos e cuja viagem para o Rio de Janeiro era mais próxima, passaria a
ser a maior fornecedora de escravos para o país.
A partir do século XVII
cresceu o tráfico para o Brasil da Costa do Mina, cuja viagem mais próxima era
em direcção à Baía, ainda segundo Mariza Soares, que também é curadora da
exposição sobre África no Museu Nacional do Rio de Janeiro.
“O boom do tráfico de
escravos é o final do século XVII e início do XVIII. No Brasil coincide com a
descoberta do ouro. Há uma combinação de oferta e procura, e África passa a
produzir mais escravos, com guerras e invasões de pequenos vilarejos”, disse.
Com o aumento da procura
por escravos, outras regiões passam também a participar no tráfico de escravos.
No século XIX, quando ocorreria a abolição, há a entrada de Moçambique de forma
regular no mapa desse comércio para o Brasil, mas, por ser mais longe, era uma
viagem mais arriscada para a sobrevivência dos transportados.
A historiadora também
afirmou que os escravos levados ao Brasil de locais diferentes tinham perfis
culturais distintos, o que ocorria também com os embarcados no mesmo porto que
eram frutos de aprisionamentos em diversos pequenos reinos.
“A forma de
aprisionamento também captava escravos de perfis diferentes. Em guerras,
aprisiona-se muitos homens e poucas mulheres. Já nas cidades e no campo, mais
mulheres e crianças”, disse.
Mariza Soares realçou
que os escravos que chegavam ao Brasil muitas vezes criaram relações de
proximidade cultural como forma de organização.
Em alguns casos essa
união teve efeitos práticos, como na revolta dos malês, organizada por escravos
de origem islâmica em 1835, em Salvador da Baía.
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