segunda-feira, 13 de julho de 2015

Dança Ndembe: preservação da identidade cultural


João Wassamba, Angop 

 

A dança folclórica Ndembe constitui um elemento sociocultural fulcral e aglutinador das populações das comunas do Úcua e Kicabo, município do Dande, província angolana do Bengo, por representar a tradição e preservar a identidade cultural desta região.


Ndembe, que significa batuque, na língua kimbundu, foi adaptada a dança pelo chamariz da sua ressonância que se constitui num elemento unificador, fazendo rodopiar os seus admiradores.
A dança Ndembe caracteriza-se pela exercitação corporal sincronizada, através de movimentos rítmicos cadenciados, criando uma harmonia cuja coreografia consiste em unir os pares.  
De acordo com testemunhas da região, o Ndembe assemelha-se a algumas danças tradicionais antigas, cuja execução rítmica consistia também nos batimentos repetitivos dos pés dos cavalheiros no chão, conjugando com as palmas das mãos.  
Segundo eles, o Ndembe está igualmente ligado aos aspectos religiosos, festivos,  históricos, a caça e lendas, bem como acontecimentos do quotidiano e folias em recintos abertos, para celebrar a chegada de um caçador com um animal ou um visitante na comunidade.
Para tornar a dança Ndembe mais atractiva, foram  introduzidos outros instrumentos musicais, tais como reco-reco e corneta tradicional (pungue), cujos executantes trajam-se de indumentarias  típicas de caçadores.  
Relatos executantes do grupo cultural da comuna do Úcua dizem que a dança folclórica Ndembe é animada com canções populares, cujas letras reivindicavam a liberdade do angolano do jugo colonial português.
O regedor António Benvindo, um dos bailarinos desta dança, 79 anos, na comuna de Kicabo (Dande), confirma que, para além da sua exuberância, a Ndembe serve para receber visitantes, dando as boas vindas com  palmas e assobios.
A entidade tradicional sustentou que na província do Bengo existem vários grupos folclóricos que dançam Ndembe, cuja notoriedade recai as comunas do Úcua e Kicabo (município do Dande), cujos intérpretes continuam a dar o ar da sua graça nas pistas de dança, sobretudo nos desfiles carnavalescos, para incentivar os jovens a preservar esse tipo de dança.
O ancião lembrou que mesmo na época colonial, o seu grupo era convidado para animar vários eventos como forma de preservar a arte de dançar e a  identidade cultural.
Por seu turno, Carla Saraiva, dançarina, 69 anos, residente na comuna do Úcua, adiantou que a tipologia da dança Ndembe é característica do semba e do kabetula, cujos dançarinos exibem-se numa roda.  
Explicou que a outra vertente desta dança consubstancia-se em festejar num determinado óbito de um caçador, onde o grupo exibe-se para homenageá-lo.
Maria Joana, a dançarina mais antiga do grupo tradicional Ndembe do Jungo, 85 anos, afirmou que já levaram esta dança em cerimónia festiva na província de Luanda.
A velha Joana revelou, por outro lado, que dançavam o Ndembe para homenagear os pescadores pela abundância nas suas capturas piscatórias, trazendo o bagre, cacusso e seguilhões, mais predominante nas lagoas das Ibêndua, Murima, Muculo.  
Já o soba da região do Dande, Francisco Pedro José Neto Salamubemba, considerou a dança como uma tradição que deve ser praticada por jovens e servir de exemplo para as gerações vindouras.  
Solicita as instituições de direito, com realce para o Ministério da Cultura e da Justiça, a registarem a dança Ndembe para servir de baluarte nacional, fazendo parte do acervo cultural desta região.  
Por sua vez, o antropólogo Miguel João Paulo esclarece que o Ndembe pode ser considerado “um rito histórico de passagem, visando recrear momentos gloriosos do passado e do presente”.  
Explicou que a dança Ndembe servia igualmente para focalizar os valores religiosos, maus espíritos, a morte e momentos de jubilação quando houvesse boa colheita na agricultura, pesca e caça.  
A Direcção Provincial da Cultura do Bengo reafirma que fará a divulgação do Ndembe e revitalizar os grupos desta dança folclórica da região, para continuar a animar bailes e eventos culturais na província e não só.  
Actualmente tem como defensores um grupo de mais de 30 pessoas das comunidades do Jungo (Úcua) e Kicabo, município do Dande. 

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