terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Cabo Verde vai ter museu da Diáspora

 

O Governo de Cabo Verde apresentou na cidade da Praia o projecto do futuro Museu da Diáspora que, a partir da zona histórica da capital, pretende perpetuar a história dos movimentos migratórios e a memória da emigração cabo-verdiana. O projecto tem duração prevista de 12 meses e deverá custar 47 milhões de escudos caboverdeanos, quase meio milhão de dólares.

O projecto , da autoria do arquitecto cabo-verdiano César Freitas, foi apresentado pela ministra das Comunidades, Fernanda Fernandes, que sublinhou a importância deste novo museu para "um melhor conhecimento e valorização do papel da emigração em Cabo Verde". "Será um museu vivo, dinâmico e interactivo", adiantou Fernanda Fernandes.
O museu, que irá ocupar um edifício na zona histórica da cidade da Praia, no Plateau, terá como ponto de partida a ideia de que "a mobilidade geográfica constitui um fenómeno estrutural da sociedade cabo-verdiana" que deixou "marcas nos quatro cantos do mundo".
Além da uma exposição permanente alusiva à história da emigração cabo-verdiana, o museu pretende reunir uma série de testemunhos das várias comunidades no estrangeiro, além de serviço educativo destinado às escolas, ao estudo e à investigação desta temática. Haverá também uma aposta na componente cultural com a presença constante de música e espaços reservados para manifestações culturais e restauração.
O edifício, que se encontra em estado de degradação avançada, será, segundo o arquitecto responsável, recuperado respeitando "tanto quanto possível" a construção original. Será ainda ampliado com recurso a materiais locais e naturais e a construção terá também preocupações ambientais com o recurso a luz natural para iluminação, energias renováveis e recolha de água da chuva para uso.

A inauguração do Museu da Diáspora, que chegou a estar prevista por altura das celebrações dos 40 anos da independência de Cabo Verde, foi adiada por falta de verbas para a recuperação do edifício.

asemana

SADC cria canal de televisão


SADC tenciona abrir canal de Televisão
A Comunidade de Desenvolvimento da África Austral, SADC, já começou a trabalhar no sentido de estabelecer um canal de televisão para a região.

O ministro zimbabweano de informação, Christopher Mushohwe, citado pelo ITWeb Africa, disse que o projecto visa impulsionar a integração e melhor compreensão cultural entre os 15 países membros da SADC.
Segundo Mushohwe, a introdução de um canal de televisão é um assunto que já foi discutido e acordado pela maioria dos países da região.
O ministro, que se escusou a revelar a data para o lançamento do novo canal de televisão, disse apenas que o mesmo será lançado brevemente.
Integram a SADC a África do Sul, Angola, Botswana, Lesotho, Madagáscar, Malawi, Maurícias, Moçambique, Namíbia, República Democrática do Congo, Seicheles, Swazilândia, Tanzânia, Zâmbia e Zimbabwe. 

rádio moçambique





Museu de arte africana abre em 2017 na África do Sul

 
O músico moçambicano Moreira Chonguiça soma mais uma realiza­ção no seu curriculum profis­sional. O saxofonista foi eleito presidente para Moçambique e representante do futuro Museu de Arte Africana Contemporâ­nea - Zeitz MOCAA, que vai abrir ao público no dia 23 de Se­tembro de 2017.
Como evento do pré-lançamen­to do museu, no sábado último foi realizada uma sessão de gala, de muitas que irão acontecer, tendo como mote a preservação e divulgação da arte africana no museu Zeitz, localizado na zona do Waterfront, na África do Sul.

Para abrilhantar a noite, uma sessão de gala concorrida pela fina flor de Cape Town, foi con­vidado Petit Noir, jovem cantor sul-africano. Cantou e encantou, igualmente, o saxofonista mo­çambicano Moreira Chongui­ça que se fez acompanhar por Hélder Gonzaga (baixo), Mark Fransman (piano), Kevin Gib­son (piano), para a satisfação da plateia.

o pais

Feira do livro em pleno navio em Maputo


Logos Hope, a maior feira do livro flutuante do mundo, vai fazer a sua primeira visita a Moçambique. Durante a sua excursão em África, Maputo será a única paragem.

Logos Hope chega à cidade de Maputo no dia 24 de Feverei­ro e vai atracar na terminal de Cabotagem (Porto de Maputo). A feira do livro do Logos Hope vai oferecer uma selecção de mais de cinco mil títulos diferentes, a preços acessíveis, cobrindo uma gama de assuntos, incluindo ciência, desporto, passatempos, culinária, artes, medicina, línguas e filosofia.

Muitos ainda se lembram de Doulos, o ex-navio irmão do Logos Hope. A última visita de Doulos à Moçambique foi em 2005, na altura foram cerca de 21.500 visitantes. Agora Logos Hope, carregando uma equipe vasta de 400 voluntários internacionais, oferece um espaço maior para os visitantes; com lugar para navegação, a tradicional feira do livro e um espaço turístico de muito interesse para os visitantes denominado Café Internacional.

o pais

Antologia de contos angolanos


Angola 40 anos” é o título da antologia de contos de 40 autores nacionais que foi lançada na última quinta-feira, em Luanda, na União dos Escritores Angolanos (UEA).
A colectânea, patrocinada pela Sonangol e editada pela Mayamba Editora, inscreve-se  no âmbito das celebrações do 40º aniversário da Independência de Angola.

O secretário-geral da UEA, Carmo Neto, que referiu “a grande contribuição” da Sonangol “em prol da cultura nacional”, principalmente da literatura, anunciou o lançamento na próxima semana de uma antologia de poesia igualmente de autores angolanos.

Os contos da colectânea são da autoria de Adriano Mixinge, Albino Carlos, Aníbal Simões, António Fonseca, António Gonçalves, António Quino, António Setas, Arnaldo Santos, Augusto Alfredo, Carmo Neto, Chicoadão, Conceição Luís Cristóvão, Dário de Melo, David Capelenguela, Domingos de Barros Neto, Fragata de Morais, Gociante Patissa, Hendrik Vaal Neto, João Melo, Laurindo Vieira, Jonuel Gonçalves, José Luís Mendonça, José Mena Abrantes, Luciano Canhanga, Luís Fernando, Luís Rosa Lopes, Manuel Rui, Maria Celestina Fernandes, Maria Eugénia Neto, Maria Helena Miguel, Marta Santos, Ondjaki, Onofre dos Santos, Paula Russa, Pepetela, Ras Nguimba Ngola, Roderick Nehone, Silvino Mazunga, Vlady Russo e Zetho Cunha Gonçalves.

jornal de angola

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Cartas de amor de Amílcar Cabral em livro

 

As cartas que o líder histórico da independência de Cabo Verde escreveu àquela que seria a sua mulher foram reunidas num livro, que será lançado em Cabo Verde no dia 12 de fevereiro.
"São cartas íntimas para aquela que foi, respectivamente no tempo, colega de curso, namorada, esposa e companheira de luta. Cartas de amor e/ou cartas com amor, ao mesmo tempo que, em linhas ou nas entrelinhas, se inferem os tempos históricos e os lugares", adianta a sinopse da obra.
 Cartas de Amílcar Cabral a Maria Helena: a outra face do homem, uma publicação da editora Rosa de Porcelana, reúne 53 cartas escritas por Amílcar Cabral a Maria Helena Vilhena Rodrigues, entre 1946 a 1960.
“São cartas íntimas para aquela que foi, respectivamente no tempo, colega de curso, namorada, esposa e companheira de luta. Cartas de amor e/ou cartas com amor, ao mesmo tempo que, em linhas ou nas entrelinhas, se inferem os tempos históricos e os lugares”, adianta a sinopse da obra.
Organizado pela filha de Amílcar Cabral, Iva Cabral, e pelos editores Márcia Souto e Filinto Elísio, o livro integra, além das cartas, fotografias, poemas e notas.
Conta ainda com textos do ex-presidente da República Pedro Pires, da professora Inocência Mata e do sociólogo Carlos Lopes.
“A leitura das cartas transmitiu-me o sentimento de como se estivéssemos numa sala de teatro com duas personagens, uma mulher e um homem que se amavam, que se confrontavam num diálogo intenso e rico, em que um e outro manifestavam as suas certezas de dúvidas, expunham as suas razões e argumentos para confirmar ou duvidar da viabilidade do projeto de união de vida em comum”, escreveu sobre o livro o histórico dirigente cabo-verdiano Pedro Pires.
O livro, que resulta de uma parceria entre a Fundação Amílcar Cabral e a Fundação Calouste Gulbenkian, será lançado na cidade da Praia a 12 de Fevereiro, em Luanda a 26 e em Lisboa a 18 de Março.
A editora está ainda a analisar a possibilidade de lançamento do livro em Bissau durante o primeiro semestre de 2016.

Na Praia, o livro será apresentado pela escritora e presidente da Academia Cabo-Verdiana de Letras, Vera Duarte, e pelo sociólogo e atual ministro do Ensino Superior, António Correia e Silva.

A traição embriagada - conto

Por Chiba Mendes

O BANHO frio logo cedo gela o corpo magro de Betinho. E ele treme, treme, não da frigidez do líquido que jorra do chuveiro, mas do líquido alcoólico que o seu organismo necessita. Treme bastante e vibra ao tentar em busílis se arrumar para o serviço.
Acena, se despedindo da esposa que há muito tempo dispensou o seu beijo alcoolizado, sai disparado e rapidamente atropela a estrada que o leva à barraca que dista a quinhentos metros da sua casa. Gagueja o pedido urgente de uma bem gelada. Antes de atender a emergência diariamente peculiar, Zuzú recorda das suas dívidas anteriores. Betinho está surdo para cobranças da barraqueira e se impacienta na espera infernal do seu remédio matinal. É assim todos os dias. Não há dia diferente, toda manhã ele está quente. Sua esposa pensa que ele vai ao serviço, mas seus filhos o costumam ver pela carrinha escolar. Seus colegas gritam: está ali o teu pai. O mais velho finge não ouvir enquanto a mais novinha acena inocente e alegremente ao seu pai que  se esconde atrás do muro.
O tempo tratou de apagar da sua lembrança a última vez que Betinho se preocupou com os filhos, a última carícia à sua amada e carente esposa. Ele mesmo confessa aos seus companheiros líquidos da roda: não participei e nem participo na educação dos meus filhos. Das pouquíssimas vezes que minha mulher me desejou ter na cama, a bebida já tinha antecipado e me levado a um profundo son(h)o amoroso.
O tempo fugiu de Betinho e ele corre atrás da bebida para que o tempo nunca mais o alcance. Ele corre não para se satisfazer dela, mas para ser satisfeito por ela. A bebida é que já não consegue ter o mesmo valor e sabor sem o organismo do homenzinho, que se tornou o preferencial habitat dela.
Na quarta ou quinta cerveja, Betinho começa a exibir o seu conhecimento vasto. Lê bastante um pouco de tudo e tem um leque rico de assuntos diversos onde se imbui como peixe na água. Bom de conversa e bom de fofoca. Fala tão bem de ciência como também se mete na vida alheia. Não é facilmente enganado por se informar sempre. Sempre seria a forma exagerada de ofender a bebida, por ela ser a eterna companhia do Betinho. As férias demasiadas longas, tanto em relação a família como ao serviço, fazem-no homenzinho da barraca. É lá onde se delicia das informações televisivas, onde discute assuntos do dia-a-dia, onde procura saber e comenta da vida deste e daquele, onde se alimenta quando Zuzú se recorda de praticar aquela obra de caridade: dai de comer a quem tem fome. À revelia da esposa, Betinho é embebedado sem se embriagar. Ela acredita piamente na presença honrosa do seu marido no serviço. Os filhos guardam consigo esse segredo.
Após várias tentativas e chamadas de atenção por parte da Direcção dos Recursos Humanos da instituição, esta conforma-se e é decretada e autorizada formalmente a dispensa por tempo indeterminado ao incorrigível Senhor Alberto Cunetácio Mosse. Ou seja, sem direito a faltas nem descontos salariais, a Direcção assumiu legalmente a bebedeira do Betinho. Como gotas de água no deserto, são as idas do homenzinho ao serviço, para reclamar do atraso e do não aumento salarial. Nas contáveis e relâmpagas vezes da sua presença o motivo é de total celebração. Seus colegas comemoram a ímpar visita de Betinho e se enchem de alegria e curiosidades infinitas do colega. Seu chefe despacha reuniões para acelerar o reencontro com o seu ex-permanentemente-dispensado-colaborador. E, nas pressas da euforia, os abraços são regados de muito champanhe e logo é ordenada a compra de comida e bebida para a festa surpresa do visitante. Sempre que Betinho se faz presente as portas da instituição são fechadas para comemoração. Após as festas, o chefe tem sempre o cuidado de perguntá-lo: deixo-te em casa ou na barraca? Betinho olha para o relógio e confirma que a essa hora sua esposa não está em casa, os filhos foram passar férias em casa da avó, então o caminho está livre para um descanso merecido.
A meio do caminho Betinho corrige sua vontade e pede ao chefe que lhe deixe na Zuzú. Satisfeita a solicitação, a bebida mergulha-se no cérebro do homenzinho que se atrapalha diante da roda dos outros. Sua esposa surpreende-o em estilo de orador, com o dedo indicador em riste, falando e ganhando voz de total razão. Fita-o como disparo de bazooca e se retira casmurra. Aquele grito silencioso fez gelar o ambiente e nem zumbido qualquer se ouviu.
Mesmo de caminhar recto, seus miolos enlouquecem e voam para questões sem respostas e tudo se confunde lentamente como o fumo preguiçoso do seu espertinho cigarro. Caminhando, deixa que a bebida toma conta de si mesmo sem tocá-lo, divaga suas interrogações em lágrimas interrompidas e calcadas. Não é seu normal se sentir assim. Ele é macho, como faz questão de sempre repetir para si e para os outros. Não chora e nem deve, foi assim que aprendeu.
Abre a porta de casa e um silêncio profundo o invade. Com o silêncio está o vazio enorme da casa. Nem o mínimo barulho dos restantes ratos se ouve. Betinho não acredita e faz um fácil raio-x à solitária casa e um minúsculo papel cansado sobrevoa baixinho sobre os cantos da casa. Nele uma escrita: fica com a tua bebida seu bêbado. Betinho não se condói, alegra-se por essa notificação vinda de sua esposa, por essa liberdade que sempre almejou ter e que agora oficialmente a tem, o divórcio alegremente antecipado em detrimento à sua fiel líquida companheira, a amiga inseparável de todos os tempos. A bebida ganha vida, forma, em seu corpo. Personifica-se e até conversam baixinho, alto, trocam confidências, conselhos e é orientado e guiado por ordens alcoólicas. É respeitosamente submisso à bebida, faz a devida vénia, idolatra-a, e aconchega-se a ela carinhosamente.
Sai como um jacto, não precisa fechar a porta duma casa nua, não sente o chão, o ar agride-o na cara e no peito e ganha mais ímpeto à caminho da Zuzú. Gargalhando e ainda ofegante, ordena uma rodada à turma que já se encontra em alto estado de embriaguez, mesmo assim, todos levantam os braços comemorando e agradecendo o gesto de Betinho. Sem ainda se saber do motivo da grande felicidade do homenzinho, todos brindam animados num vozeario ensurdecedor, quando é anunciado o motivo da festa: minha mulher finalmente me abandonou. Após um instantinho silencioso, eis que alguém intervém: tua mulher já te tinha abandonado há muito tempo homem, só compartilhavam o mesmo tecto. Todos concordaram festejando aquela ruptura conjugal. O formalismo da separação enche de alegria e tranquilidade o peito de Betinho, a sensação de liberdade tem mais sabor à libertação total daquele demónio, daquele satanás em forma de mulher. E os seus filhos? Se nunca se preocupou com eles porque o faria justamente agora que terá mais sossego, não terá mais impedimento de beber e se embebedar sem se esconder e sem fugir da esposa e filhos.
Zuzú manda várias rodadas sob comando de Betinho que já troca os passos. Querem levá-lo à casa, recusa-se. Sou do mundo, deixem-me no chão, eu sou da terra, não preciso de tecto nenhum – gagueja Betinho, babando-se todo. Ele é homem de uma palavra só. Seu desejo foi tristemente cumprido contra vontade e sob sondagem de amigos que faziam turno para guarnecê-lo. Nos intervalos dos sonhos tortos, vocifera: podem ir para vossas casas, ninguém fará mal a um ninguém que não tem ninguém. Os colegas da bebida contrariam seu desejo.
Betinho acorda encharcado, cozido, seus olhos testemunham a noite ressacadamente mal dormida. Como todo o sempre matutino seu corpo vibra clamando por álcool, desta vez não precisa se esforçar e correr até a barraca da Zuzú. Do mesmo chão que há pouco tempo era o seu leito, estica o seu braço pedindo o seu remédio. Zuzú retira do congelador a sorridente cerveja que é acolhida agradavelmente pelo Betinho. Mais que metade do líquido é agressivamente atirada ao chão por causa dos tremeliques vibradores que quase impedem os goles destinados à boca. Só na segunda ou terceira é que se restabelecem os membros de Betinho. Ele conversa sem se levantar. Zuzú serve uma sopa quentinha que o faz transpirar até seu suor salgado gotejar nela. Motivo de troça, ele não se preocupa. Um estranho homem traz um recado, Betinho deve se apresentar urgentemente com todas urgências ao serviço, mas ele se chateia porque o seu compromisso é com o álcool e não com o emprego, ele já foi empregado há bastante tempo pelo álcool e é pago por isso. Os amigos insistem-no e ele cumpre em busílis. Resmunga e vai. Ao chegar, encontra alguns colegas e mais homens desconhecidos engravatados, sentados ao redor de uma grande mesa na sala de reuniões. Admira-se franzindo a testa mas corrige a sua postura ajeitando a camisa, abotoando-a. Indicado para sentar compenetra-se receosamente na cadeira. O mais gordo e bem trajado do grupo remexe alguns papéis, receia o que vai dizer a seguir, emenda o seu nariz disfarçando não sentir o cheiro bêbado do embebedado e sem querer alongar a sua permanência naquela sala fedorenta toma a sua palavra com posse: Senhor Alberto Mosse, a partir de hoje é o novo Director da empresa. Só o seu perfil se adequa a este cargo. Betinho gelou mais do que todas cervejas geladas e congelou o seu sentar como se a cadeira tivesse um íman que não o deixasse movimentar. Seus lábios pesaram mais do que suas pernas quando o chamaram àquele local, seus olhos petrificaram no vazio. O seu corpo ainda não tinha a autorização do distra do um, dois, três, macaquinho chinês. Foi necessário levarem-no ao colo e ser acompanhado à barraca.
Betinho desmaiou de olhos abertos e só a cerveja bem gelada o trouxe de “volta”, quando pergunta o que terá acontecido.
- Betinho, você é Director – surpreende-se Zuzú.
- Sou o novo Director da tua barraca?
- Qual barraca, qual quê homem. Você é o novo Director da empresa onde trabalha.
O homem ficou louco e desatou gargalhadas grosseiramente malucas e ininterruptas, até que um dos seus parceiros bêbados esticou uma gorda, estrondosa e bem equalizada bofetada. Betinho “acordou” e devolveu com um fraquinho soco. Confusão acesa com direito a plateia, os insultos mais sórdidos ganharam asas e voaram para uma discussão inesperada de amigos fiéis do copo. Parem com essa confusão na minha barraca. Nem parecem amigos – quase que chorava Zuzú. Sem transpirar Betinho fede a álcool, a transpirar, o seu cheiro é dos urinóis alcoólicos improvisados de barracas.
Surpreendentemente o Senhor Alberto Mosse acordou bem cedo, engravafateou-se pegou chapa e foi o primeiro a chegar ao serviço. Antes de entrar no gabinete acendeu o seu tremido cigarrito e ficou na porta a espera das justificações de atraso dos seus homens. No fim das cobranças reuniu-os a todos e rispidamente avisou: a partir de hoje não admito nenhum atraso. Estamos percebidos? O silêncio foi a uníssona resposta gelada.
Betinho garantiu avanços irrevogáveis que todos os dias depois do expediente haveria happy hours bem caprichadas com álcool e acepipes. O nível de produção e motivação disparou a olhos gordos. Não houve mais atrasos nem faltas.
Uma semana depois de muito trabalho, dedicação e motivação, Betinho decidiu procurar sua esposa e pedir para voltar com as crianças. Ele defende que não se pede perdão mas sim compreensão. Foi o que fez, foi pedir a esposa que o compreendesse e gostaria de reconstruir uma família destruída há muito tempo. Depois de muita relutância a solicitação de Betinho foi aceite e o regresso rapidamente organizado.
Alegremente visível Betinho foi à Zuzú comemorar o regresso da sua família e brindar pela directoria da empresa. Seus amigos receberam-no euforicamente e as rodadas engordaram a bebedeira. Todos ansiavam ouvir as novidades do Director Alberto e este, cheio de estilo mandava mais e mais rodadas. A noite já embriagava as tontas conversas e avançava promessas cambaleantes quando, o pretérito agressor/salvador do desmaio do Betinho vomita: você Betinho, está aí a gingar muito porque é Director e já tem muito dinheiro, até foi buscar de volta a mulher. Agora, me diz uma coisa, se você já se tinha entregado à bebida há muito tempo e não fazia nada com sua mulher, de quem acha que são aqueles dois filhos?
O fingimento de Betinho era visivelmente triste e continuou a beber sem responder ao seu “amigo”. A filha da Zuzú saltava a corda na varanda iluminada, Betinho convidou-se perante o espanto de todos. Onde já se viu um homem enfatado a saltar corda e ainda mais com copos na cabeça? Betinho pediu uma caixa vazia para se sentar e passado um tempinho desapareceu. Já aviados de tanto álcool os amigos nem deram conta da sua falta. Pensando que o estiloso do Betinho fugira de tanta bebida, foram se despedindo um a um e a barraca fechada.
Ainda ao alvorecer a vizinhança foi acordada entre gritos estridentes e choros berrantes assistindo o corpo de Betinho suspenso baloiçando na árvore do quintal da Zuzú.

Jornal Notícias de Maputo


Massacre de 1953 em São Tomé e Príncipe

Albertino Bragança 
Comemorou-se a 3 de Fevereiro de 2016, o 63º aniversário dos trágicos acontecimentos de 1953, em que milhares de santomenses foram barbaramente subjugados pelo terror e pelas arbitrariedades e desmandos dos carrascos a soldo do governador Carlos Gorgulho.
Tratando-se de um facto histórico comemorado em cada ano e de que todos temos vindo a tomar conhecimento, ainda que de forma avulsa, optei por incidir a tónica desta comunicação nas causas remotas e próximas que lhe estiveram na origem, de modo a encontrar um fio condutor susceptível de facilitar o seu melhor entendimento, em particular às novas gerações.
Daí que tenha enveredado por um texto que espero suficientemente esclarecedor, capaz de ser acompanhado sem dificuldade por todos e de servir de base a um diálogo aberto acerca de um tempo de repressão e barbárie que tanto marcou a nossa história.
Tudo começou com a chegada a S. Tomé e Príncipe, em 5 de Abril de 1945, do governador Carlos de Sousa Gorgulho, militar português da ala reacionária e conservadora que pusera fim, com o golpe desencadeado pelo General Gomes da Costa em 28 de Maio de 1926, à 1ª República Portuguesa.
Gorgulho trazia consigo dois grandes objectivos, duas verdadeiras obsessões que se articulavam num plano que teria de levar a cabo a qualquer custo:
·        Resolver o crónico problema da mão-de-obra com que se confrontava a economia de STP, traduzido pela necessidade de importação, sob o regime de contrato, de trabalhadores de outras colónias, perante a firme recusa dos santomenses de trabalharem sob esse regime;
·        Em função da concretização deste objectivo, ser nomeado para o cargo de Governador-Geral de Angola. 
Para o efeito, durante os três primeiros anos do seu mandato, Gorgulho procurou ganhar a estima da população, através de uma governação verdadeiramente realizadora, como primeira etapa para a sua reeleição: os passeios em carro descoberto, distribuindo rebuçados e guloseimas pelas crianças, o sorriso constante nos lábios saudando a multidão, as obras de reestruturação da cidade, fixação do salário mínimo para os trabalhadores do comércio, indústria e agricultura, limitação do horário de trabalho, criação da Escola das Artes e Ofícios, saneamento e aterro de pântanos, a terraplanagem de pistas para aviões, reparação de estradas e construção de aquedutos, construção de casas para funcionários, construção de um pavilhão de isolamento para tuberculosos, etc.
O que terá então acontecido para Gorgulho mudar a sua política de aproximação à população e enveredar pelo caminho das rusgas e prisões por que se caracterizaria a partir daí a sua governação, que iria redundar no massacre de 1953?
Vejamos as causas remotas desse trágico acontecimento:
·        A necessidade de mão-de-obra
Nos finais da década de 40, debatendo-se elas próprias com graves problemas de escassez de mão-de-obra para o seu desenvolvimento, as colónias fornecedoras de contratados, sobretudo Angola e Moçambique, começaram a restringir a saída dos mesmos para S. Tomé e Príncipe.
Esta mesma época foi marcada pela baixa de produção do café e do cacau, o que fez elevar no mercado internacional a sua procura e, daí, os respectivos preços. Havia, pois, que intensificar a sua produção e isso só era possível mediante o concurso de uma mão-de-obra abundante e barata, isto é, através do recrutamento da mão- de-obra local. Ou seja, os forros tinham forçosamente que trabalhar sob o detestável regime de contrato.
Encontrando resistência, Gorgulho recorreu à força: rusgas constantes, trabalhos forçados, espancamentos, prisão arbitrária dos nativos.
·        A mentalidade de superioridade dos forros
No passado senhores de terras, do que resultou a existência de uma importante elite que tanto no interior como em Portugal se empenhou na defesa das respectivas populações, o forro, a quem nunca foi atribuído o estatuto de indígena, considerava-se por isso superior aos trabalhadores contratados das roças e mesmo aos europeus, sentimento que se constituiu numa poderosa arma de oposição ao regime colonial.
·        A aversão dos serviçais contratados pelo facto de os forros não trabalharem nas obras públicas e nas roças sob o regime de contrato, não obstante as várias tentativas feitas após a abolição da escravatura (1875) por governadores coloniais, a pedido dos proprietários brancos de grandes latifúndios visando a contratação dos nativos.
·        Firme e persistente rejeição dos forros, sempre apegados ao trabalho livre e de empreitada ou nas suas glebas.
·        As políticas falhadas de transferência de forros de STP para outras paragens e de fixação no país de milhares de contratados de Angola, Moçambique e Cabo Verde, esta última a levar à construção de aldeamentos para o seu acolhimento: o objectivo consistia no significativo aumento da população e na consequente diminuição da importância dos forros.
·        A ideia de liquidação da elite esclarecida e dizimação da população forra.
·        A destruição da vida económica dos forros, através da:
  - promulgação da Portaria nº 32 de 1 de Julho de 1930, pela qual foi criado o imposto individual indígena, o chamado imposto de cabeça;
- proibição de extração e venda do vinho de palma (portaria de Janeiro de 1947);
  - interdição do fabrico e venda da aguardente de cana (portaria de Junho de 1947);
  –erradicação de algumas associações nativas (Associação dos Socorros Mútuos e o Sporting Club de S. Tomé)
·        Trindade: Palco de oposição ao poder colonial:
- O incidente no dia de Deçu Padê (Junho de 1900), com a morte de um santomense;
- Movimento dos soldados nativos do Corpo de Polícia em 1921 contra europeus, com fortes repercussões na Trindade, de que resultaram mortes.
- Incidentes em 1926 ocorridos na eleição do Dr. Aires de Menezes a membro do Concelho Colonial, que redundaram na destruição por europeus do recheio da sala da Liga dos Interesses Indígenas, importante associação dos nativos.
- Fraca participação dos trindadenses nas eleições presidenciais portuguesas (fraudulentas) de 1949.
- A recusa da população da Trindade em ir receber Gorgulho no aeroporto aquando do seu regresso de Portugal em Outubro de 1951.
- Trindade era, por sua vez, residência do grande nacionalista e símbolo da resistência popular ao domínio colonial, o Eng.º Salustino da Graça do Espírito Santo, a quem Gorgulho imputava toda a rebeldia e a irreverência da população local.
A estas causas vieram juntar-se as seguintes causas próximas:
·        Carta dos naturais de STP enviada a 30 de Setembro de 1950 para o Ministro do Ultramar, dando-lhe conta das injustiças praticadas por Carlos de Sousa Gorgulho contra a população nativa, o que enfureceu sobremaneira o Governador
·         O descontentamento e a tensão provocados na população forra pela entrevista dada em 8 de Janeiro ao jornal Voz de S. Tomé pelo Inspector da Curadoria Geral dos Serviçais, Franco Rodrigues, preconizando o nivelamento social, colocando no mesmo patamar forros, angolares, minuiês e serviçais contratados das roças, prenunciando o advento do contrato para todos.
·        A afixação de panfletos de revolta nas paredes de diversos edifícios na cidade (madrugada do dia 2 de Fevereiro), ameaçando de morte o Governador se ele permitisse que tal viesse a ocorrer.
·        Nota oficiosa do Governador desmentindo a ideia de pretender contratar os nativos (Início da tarde do dia 2 de Fev).
·        Destruição de muitas das citadas notas oficiosas, sobretudo na Trindade.(manhã de 3 de Fevereiro).
OS PRIMEIROS ACONTECIMENTOS 
·        A morte de Pontes por José Mulato, que chefiava a primeira equipa de rusga na Trindade, que tinha como incumbência descobrir os autores dos panfletos e quem tinha rasgado as notas oficiosas (dia 3 de Fev., pelas 22horas).
·        Interrogatório e prisão do Eng.º Salustino Graça, de imediato enviado para o Príncipe, em companhia de outros presos. (madrugada do dia 4).
·        Rusgas ferozes na Trindade e suas localidades feitas por polícias recrutados dentre criminosos, contratados das roças e por voluntários brancos e mestiços armados à caça do forro. Casas incendiadas, perseguições, prisões de inocentes, mortes. A população aterrorizada escondendo-se no mato (Dia 4 de Fev.)
·        A morte do alferes Jorge Amaral por Zé Cangolo (manhã de 4 de Fevereiro).
·        A partir daí, o cortejo de barbaridades por todos conhecido: intensificaram-se as rusgas, as batidas nos matos de Trindade e arredores, a caça aos nativos desprotegidos e entregues à sua sorte, as suas casas incendiadas, os bens roubados, ondas de terror à solta.
Multiplicaram-se as prisões, as humilhações, as torturas, as correntes nos pés, na cintura e no pescoço, os choques eléctricos, as confissões forçadas, as mortes por asfixia.
Sobre mais de mil santomenses recaiu então o peso da morte, na Trindade e nas celas do Corpo da Polícia e em Fernão Dias. Vidas ceifadas pela irracionalidade e pela intolerância, que tudo procuravam destruir à sua passagem.
Protegidos pelo isolamento das ilhas e movidos pelo mais odioso intuito de repressão, que a impunidade tanto contribuía para estimular, os algozes divertiam-se com a angústia de cidadãos brutalizados e despojados do seu inalienável direito à tranquilidade e à paz. Impunidade que só encontraria fim com a vinda, em 4 de Março de 1953, de uma delegação da PIDE, que desmentiu a versão de Gorgulho segundo a qual os bárbaros acontecimentos se prendiam com a necessidade de combater uma revolta comunista preparada pelos nativos e, sobretudo, com a chegada ao país, em 25 do mesmo mês, do famoso jurista português Dr. Manuel João da Palma Carlos, a convite da família Graça do Espírito Santo, tendo como finalidade tratar da libertação dos presos, o que viria de facto a conseguir.
Mas, infelizmente antes disso, para alguns destes, o fim estava inevitavelmente traçado. Os seus gritos aflitivos, cortantes como lâminas, encheram então as imediações do Corpo de Polícia, bem como o espaço solitário de Fernão Dias. O mar e a terra acolheram então, impotentes, os seus corpos martirizados e desfalecidos.
Noutros, vítimas das mais horríveis crueldades, a prisão deixou marcas indeléveis e encurtou o percurso de uma vida lesada pela mais degradante e repulsiva violência.
Outros ainda, os que restam de tão vergonhosa tragédia, continuam juntos de nós, testemunhas dolorosas de uma época que a marcha implacável do tempo como que nos leva a esquecer e banalizar.
A todos eles nos cumpre o dever de homenagear e resgatar a memória, pela grandeza do seu gesto e pela forma generosa como se empenharam para reforçar em nós o sentimento colectivo de nação, que o seu sacrifício tanto contribuiu para cimentar.
Por eles, pelo sacrifício que consentiram para que esse sentimento se revelasse de forma tão dinâmica e congregadora, construamos um país solidário e fraterno, centrado nas suas raízes, mas aberto ao contributo de outros povos e civilizações. Um país soberano, democrático e preocupado com o desenvolvimento humano, que se reveja na sua memória colectiva e entenda a história como a interpenetração dinâmica do passado, do presente e do futuro. Um país constituído por um povo que deve manter-se firme nas suas convicções, que delas não abdique por dinheiro ou benesses afins, digno da grandeza e da dignidade de que eles, em circunstâncias tão difíceis, foram capazes de demonstrar.

Façamo-lo assim, de modo a comungarmos com Francisco José Tenreiro e com ele dizer ao mundo: ” Os teus filhos não morreram, Mãe, Eu oiço um rio de almas reluzentes cantando: nós não nascemos num dia sem sol ”.

Téla Non

Macacão de wax com padrões da África Ocidental

O Macacão é uma peça de roupa bastante ecléctica, sobretudo para as mulheres elegantes. Não precisa de mais nada para combinar, para além dos acessórios e cria a sensação de se ser mais alta. Nestas imagens, o macacão, que volta a estar na moda, em pano wax com padrões da África Ocidental, constitui peça ideal para reuniões/encontros informais. 




Odete Moniz