segunda-feira, 23 de maio de 2016

Manuel Rui lança novo romance em Luanda

 

O escritor angolano Manuel Rui lança amanhã, terça-feira 24, em Luanda, o seu novo romance "A Acácia e os Pássaros".

Com a sua habitual ironia, num estilo satírico, de rara beleza poética, Manuel Rui desfia a narrativa em torno do personagem principal da obra, de seu nome Januário, jornalista  freelancer, que na avidez de um pão vê-se envolvido na trama que o priva da liberdade, impedindo-o  de comer, de se pronunciar, de pensar e mesmo sonhar com pão, mas lhe dá acesso à descoberta de novos sentimentos e de novos sentidos das coisas e da vida. 
Manuel Rui nasceu no Huambo, no Planalto Central, em 1941. Licenciou-se em Direito na Universidade de Coimbra, em Portugal, onde exerceu advocacia, foi membro fundador do Centro de Estudos Jurídicos, redactor da Revista Vértice, co-autor do suplemento Sintoma e sócio fundador da editora Centelha.
Figura incontornável das artes e letras angolanas, ao longo da sua vida manteve, sempre, uma estreita colaboração com diversos jornais e revistas, desde os tempos de Coimbra, nomeadamente Jornal de Angola e Diário Luanda, entre outros, Público e Jornal de Letras e Cadernos do Terceiro Mundo.
Foi fundador das edições Mar Além, editora da Revista de Cultura e Literatura dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), subscritor da proclamação e fundador da União dos Escritores Angolanos (UEA), bem como da União dos Artistas e Compositores Angolanos e da Sociedade de Autores Angolanos.
Manuel  Rui, ensaísta, cronista, dramaturgo e poeta, é  autor do Hino Nacional de Angola e de letras de canções de Rui Mingas, André Mingas, Paulo de Carvalho, Carlos do Carmo (Portugal),  Martinho da Vila e Cláudio Jorge (Brasil).
A sua vertente literária inclui uma vasta obra de textos de poesia como os Meninos do Huambo e de ficção publicados desde 1967 até à presente data.
É autor da primeira obra de poesia e de ficção publicados em Angola após a independência. Foi galardoado com o Prémio Caminho das Estrelas em 1980, pela obra emblemática “Quem me Dera Ser Onda”, já adaptada ao teatro em vários países, designadamente em Angola, Portugal, Moçambique e Cabo Verde.
Em 2003, renunciou ao Prémio Nacional de Cultura e Artes, na modalidade de Literaturas pelo conjunto da sua obra.

As suas obras  estão traduzidas para umbundu, alemão, espanhol, hebraico, finlandês,  italiano, servo-croata, sueco e russo.

angop

segunda-feira, 9 de maio de 2016

Angola e Moçambique na bienal de arte contemporânea de Dakar

 
O angolano Délio Jasse e a moçambicana Euridice Getulio Kala estão entre os cerca de 70 artistas que participam na 12ᵃ edição do Dak'Art, a maior bienal de arte contemporânea de África, que decorre desde o dia 3 Maio, prolongando-se até 3 de Junho próximo, em Dakar, capital do Senegal.
Para o evento, que promete no presente ano revelar as mais novas e interessantes tendências artísticas africanas num espaço de diálogo e de abertura, Délio Jasse vai apresentar a obra "Terreno Ocupado" e Eurídice Kala leva uma instalação intitulada "Imagina Se A Verdade Fosse Uma Mulher…e Porque Não?".
O trabalho responde ao conceito da curadoria que convida aos expositores e ao público a reescrever a trajectória de África, focados para a história de luta pelas independências do continente e expansão dos acervos, incluindo nomes e individualidades femininas que de certa forma se encontram na periferia; nomeadamente: Josina Machel, Pauline Lumumba, Janet Mondlane, Ginette Eboue, Ntisiki Mashalaba, entre outras.
A pesquisa é uma continuação de um estudo fotográfico que a artista Eurídice Kala começou em 2012 intitulado "Entre-de-Lado", um conceito que questiona o vestido de noiva com a cor branca, presente nas celebrações matrimoniais na cultura Africana em geral e moçambicana, de modo particular. Esta realidade, de acordo com a investigação da Eurídice Kala, causa tensões tendo em conta os hábitos culturais africanos e a desconstrução do discurso colonial.
Refira-se que a artista também está a procura de fundos para a produção final deste trabalho.
A Bienal de Dakar foi criada em 1989 como uma grande feira para expor obras de arte contemporânea. Ao longo dos últimos anos, o Dak’Art conquistou respeito não só em África assim como por todos os continentes. O evento estabelece uma rica ligação entre os mais novos artistas que surgem no continente, tendo em conta a necessidade de sustentar o futuro do universo das artes e letras em África.
A Dak'Art começou na semana passada e na cerimónia de abertura o Presidente do Senegal, Macky Sall, anunciou que o subsídio anual para a bienal, actualmente de 300 milhões de francos centro-africanos (457 mil euros), passará para os 500 milhões (762 mil euros).

Sessenta e seis artistas de 24 países foram selecionados para participarem na exposição internacional da Dak'Art, denominada "Reencantamento", uma designação "estreitamente ligada ao tema geral da bienal, que convida os artistas e além deles todos os africanos a inventarem novas formas de reencantar o mundo e o continente"'.

domingo, lusa


Culturas africanas em foco na China


Uma exposição de quadros de artistas plásticos africanos está patente esta semana no Museu da Mulher e da Criança de Beijing, capital da China, no âmbito do Programa Africa em Foco 2016

Denominada “Exhibition of African Impression”, a mostra narra o quotidiano dos povos africanos, seus hábitos e costumes, bem como as diversas manifestações culturais. Desde o grupo étnico Masai do Quénia os Big Five dos parques nacionais (elefantes, leões, leopardos, búfalos e rinocerontes), locais de interesse económico e histórico ao dia-a-dia das populações encontram-se retratados.

A exibição representa o diálogo intercultural, apoio mútuo e reveste-se de grande importância na apresentação das artes africanas tradicionais e contemporâneas. Para os visitantes chineses a mostra representa uma janela para a África e uma aproximação entre os povos africanos e chineses.

Na cerimónia de lançamento do evento que contou com a actuação do grupo sul-africano de dança Simunye Theatrical Faces, que apresentou diversos números das danças Zulu, Xhosa, Sotho e Tsonga estiveram presentes o vice-ministro chinês da Cultura, Ding Wei e embaixadores africanos, nomeadamente de Moçambique e Tanzânia

O diplomata tanzaniano, Abdulahaman Shimbo recordou que durante décadas, as relações entre as duas partes se basearam em intercâmbios pessoais e culturais.
“É através deste engajamento que os chineses são conhecidos em África pelas famosas porcelanas, pinturas e artes acrobáticas. Por outro lado, os africanos são bem conhecidos dos chineses pelas suas danças, esculturas de ébano e pinturas como tingatinga”, disse o embaixador.

De acordo com o prefácio do catálogo da exposição, “África é um polo importante no mundo politico, económico e cultural e um continente cheio de vigor e criatividade, onde países, nações e comunidades com diversas tradições criaram uma civilização profunda cuja presença pode ser encontrada no passado, presente e futuro da Humanidade.”

jornal notícias de maputo



quarta-feira, 27 de abril de 2016

Angola cria academia de letras

A Academia Angolana de Letras (AAL) é a mais recente associação científico-cultural formalmente constituída, que tem por finalidade o estudo e a investigação da literatura angolana, das línguas nacionais, da língua portuguesa e das disciplinas correlatadas.
Com o seu estatuto editado em Diário da República de 28 de Março último, a associação privada sem fins lucrativos, de carácter cultural e científico, teve como outorgantes constituintes os escritores angolanos Henrique Lopes Guerra, António Botelho de Vasconcelos e Boaventura da Silva Cardoso.
A academia tem como patrono o primeiro Presidente da República de Angola, Agostinho Neto, e admite como membros os fundadores, efectivos e beneméritos, para além de colaboradores com a categoria de correspondentes, estes últimos podendo ter nacionalidade diferente que as dos restantes membros.
De acordo com o estatuto, os membros efectivos da Academia Angolana de Letras devem cumprir dois de três requisitos: Ter obra como objecto de estudo em universidades angolanas e estrangeiras; ter ganho prémios literários ou de investigação em Angola ou no estrangeiros e ter obras que tenham sido objecto de ensaios por especialistas em literaturas africanas de língua portuguesa.

A constituição da Academia Angolana de Letras vem corresponder aos ímpetos de uma sociedade angolana cada vez mais engajada com a sua identidade, história, cultura e pensamento, bem como reforçar o pensamento angolano no espaço nacional – quer pelo ensino, quer pela investigação – e espaço internacional – quer pela promoção, quer pela divulgação, defendendo uma política de investigação científica em torno das artes, das letras e demais domínios das ciências sociais e humanas.

angop

domingo, 24 de abril de 2016

História do cinema angolano em livro


O terceiro volume da colecção “O nascimento de uma Nação - O Cinema da Independência”, que faz uma panorâmica da história do Cinema da Independência, desde 1975 aos  dias de hoje, é lançado na terça-feira, 26 de Abril, às 18h30, no Centro Cultural Português, em Luanda.

O livro tem contributos de José Mena Abrantes, Rós Gray, Tatiana Levin e Maria do Carmo Piçarra, assim como entrevistas a Sarah Maldoror e Jorge António.
José Mena Abrantes faz uma análise sob o tema “Cinema angolano: um passado com o futuro sempre adiado”, dividindo a história do cinema em três períodos distintos.
O primeiro período Mena Abrantes refere-se, ao pós-independência até 1985, marcado por um forte dinamismo, quer na produção, quer na formação de quadros da Televisão Popular de Angola (TPA), da Promocine e da equipa Ano Zero, distinguindo-se, na altura, entre os pioneiros do cinema, Ruy Duarte, António Ole e Asdrúbal Rebelo.

O segundo, que considera de “impasse”, entre 1985-2000, em que o cinema mergulha numa “cinzenta e desfocada apatia, sem que se vislumbrasse nenhuma solução para a quase paralisação da actividade produtiva, para a ausência de promoção e distribuição de filmes antes realizados, para a deserção dos melhores quadros do sector e para a degradação e posterior encerramento de estruturas como o IAC e o LNC.”

No terceiro período, que vai de 2001 a 2005, Mena Abrantes explica que começaram a surgir “sinais de revitalização”, pelas expectativas criadas com o fim da guerra em Abril de 2002. Destaca neste período a realização de três filmes: “O Comboio de Canhoca” de Orlando Fortunato, “A Cidade Vazia”, de Maria João Ganga, e “O Herói” de Zezé Gamboa, que conquistaram prémios internacionais.

Construtores da História


Rós Gray esboça um quadro genérico da colaboração recebida no âmbito da solidariedade internacional, particularmente de Cuba e França. A investigadora Tatiana Levin concentra-se no cinema actual produzido em Angola, quer pelo movimento da periferia, designado “cinema da poeira”, quer por alguns realizadores consagrados.

Enquanto que a investigadora Maria do Carmo Piçarra foca-se na obra de Ruy Duarte, destacando o “cinema de urgência” do cineasta - poeta, que procurava no seu trabalho uma linha de equilíbrio  entre dois dinamismos, o do tempo mumuíla e o do um presente angolano.

O livro termina com entrevistas à investigadora Sarah Maldoror, que é considerada a matriarca do cinema africano e a primeira realizadora negra e a Jorge António, realizador estrangeiro que nos últimos vinte anos mais se tem dedicado ao cinema angolano e que, citando Maria do Carmo Piçarra, filmar Angola, muito para além de filmar em Angola, define o seu modo de  fazer cinema.

A equipa de trabalho


O livro “O Nascimento de uma Nação - O Cinema da Independência” tem a coordenação de Maria do Carmo Piçarra e Jorge António.
Doutorada em Ciências da Comunicação, Maria do Carmo Piçarra é pós-doutoranda no Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS), na Universidade do Minho, e no Centre for Film Aesthetics and Cultures (CFAC), da Universidade de Reading.
Para a sua investigação pós-doutoramento, sobre as representações coloniais no cinema, é bolseira da fundação para a Ciência e Tecnologia desde 2013, condição de que beneficiou para a investigação e publicação do ensaio agora publicado. Actualmente é jornalista, crítica e programadora de cinema.
Jorge António nasceu em Lisboa, a 8 de Junho de 1966. Formado pela Escola Superior de Teatro e Cinema de Lisboa, especializou-se na área de produção (1988).
Durante anos tem sido convidado a participar, em Portugal e noutros países, em encontros, conferências, festivais, seminários e colabora na edição de livros e revistas sobre o cinema.
Em Angola é, desde 1995, produtor da Companhia de Dança Contemporânea, com espectáculos em inúmeras cidades em países de África, Ásia, América, Europa.
Além disso foi o consultor do Instituto Angola de Cinema e membro fundador do FIC - Festival de Cinema de Luanda (2008).


Em 1991 estreou-se como realizador com a curta “O Funeral”, que conquistou o prémio para Melhor 1ª Obra no Festival do Algarve, e em 1992 filma “O Miradouro da Lua”, a sua primeira longa metragem e primeira co-produção oficial entre Portugal e Angola.

jornal de angola

UNESCO aprova novos locais caboverdianos com potencial para futura classificação

 UNESCO aprova novos locais com potencial para futura classificação
A UNESCO aprovou a proposta de Cabo Verde de actualização da lista indicativa dos locais com potencialidade para serem classificados património mundial, apresentada em Outubro do ano passado, com quatro novos sítios.

A informação é de José Landin, director de Monumentos e Sítios do Instituto de Património Cultural de Cabo Verde, avançada por ocasião do Dia Mundial dos Monumentos e Sítios (18 de Abril), momento que é aproveitado para a chamada de atenção sobre a preservação e salvaguarda dos sítios históricos.

“Pese embora não se tenha feito ainda a publicação oficial, temos informações de que a lista actualizada foi aprovada e agora Cabo Verde conta com oito sítios inscritos na lista indicativa de bens com potencialidades para serem património da humanidade”, disse.

Na lista de 2004 para além da Cidade Velha, classificada em 2009 como património da humanidade, constavam as Salinas de Pedra de Lume, na ilha do Sal, Centro Histórico da Praia, o Campo de Concentração do Tarrafal e o Centro Histórico de São Filipe.

Na lista actualizada foram integrados Nova Sintra, ilha da Brava, Chã das Caldeiras, na ilha do Fogo, a reserva natural de Santa Luzia, ilhéu Branco e Raso, Cova, Ribeira da Torre e Paúl.
"Significa que neste momento já temos muitos sítios que já estão na lista da UNESCO. A partir da inscrição dos sítios na lista indicativa da UNESCO estamos em condições de trabalhar o dossiê de candidatura, mas isso vai depender das prioridades e das políticas do Governo”, sustenta José Landin.


A Cidade Velha é o único sítio cabo-verdiano classificado como património da humanidade, título conseguido em 2009.

expresso das ilhas (cabo verde)

"O vagabundo da Pátria" - novo romance do moçambicano Panguana


“O vagabundo da Pátria” é o título do novo livro do escritor moçambicano Marcelo Panguana a ser lançado, quarta-feira próxima, na cidade de Maputo.

Produzido sob a chancela da “Alcance Editores”, o romance pretende espelhar certa visão da sociedade moçambicana nos últimos tempos, com as suas glórias, seus sonhos, seus dilemas e crises, tudo visto de um ponto de vista ficcional, embora inspirado na própria realidade.

Marcelo Panguana, citado pela Rádio Moçambique, considera que um dos mais poderosos inimigos do desenvolvimento da literatura do seu país pode ser o esquecimento, a não abordagem das questões essenciais nos livros que vão sendo escritos. Essa abordagem, segundo Panguana, não pode ser vista como forma de confrontação, mas como expressão maior do amor pela Pátria.

“O vagabundo da Pátria” é o quarto livro de Marcelo Panguana, depois dos romances “O Chão das Coisas” (2004), “Como um Louco ao fim da Tarde” (2010) e o livro de reflexões denominado “Conversas do fim do Mundo” (2012).

Panguana é actualmente Presidente de Mesa da Assembleia-Geral da Associação dos Escritores Moçambicanos, tendo antes dirigido o jornal cultural “Lua Nova”, da Associação dos Escritores Moçambicanos, o suplemento cultural Xipalapala, do jornal Notícias e recentemente a revista cultural Proler, do Fundo Bibliográfico da Língua Portuguesa. 

folha de maputo

segunda-feira, 11 de abril de 2016

"Língua portuguesa limita exercício de cidadania" - Luís Bernardo Honwana

O renomado escritor moçambicano Luís Bernardo Honwana defendeu que a obrigação do uso da Língua Portuguesa exclui algumas vozes do exercício da cidadania em algumas regiões de Moçambique.
E justificou: “nem todos as pessoas deste país são suficientemente dominantes da língua portuguesa para se exercerem como cidadãos, titulares de direito e capazes, eventualmente, de contribuir com soluções para os problemas que são comuns de todos nós”.
O autor de “Nós Matamos o Cão-Tinhoso” vai mais longe. Diz que as políticas culturais e linguísticas devem abrir espaço para que hajam acções para se discutir de forma ampla esses assuntos.
Honwana falava na cerimónia de lançamento da colectânea de artigos de cunho científico, intitulada “Multilinguismo e Multiculturalismo em Moçambique” que qualificou como “uma porta para se alcançar esse objectivo, pois só a investigação é que permite esse feito”. 
Honwana é quem inaugura a obra com o texto “A Rica Nossa Cultura”. É por sinal este artigo, outrora publicado num dos jornais semanários de Maputo, que inspirou a realização desta obra.
A colectânea de artigos tem organização de Perpétua Gonçalves e Feliciano Chimbutane, que também são autores de alguns textos. A eles juntam-se para além de Honwana, Lourenço do Rosário e  Bento Sitoe.
 
Depois que Perpétua Gonçalves leu o texto, de seguida procurou o colega Feliciano Chimbutane para materializar o projecto. A ideia que parte de 2010, o mesmo ano que o texto de Honwana foi publicado, percorreu por vários caminhos até que, finalmente, ontem, num dos anfiteatros do Complexo Pedagógico da Universidade Eduardo Mondlane, perante professores, investigadores, estudantes e amigos dos autores viram o nascimento de mais uma ferramenta para a discussão do espaço que as línguas bantu merecem na sociedade.
A preocupação dos linguistas é anular quaisquer problemas que põem em causa a boa convivência linguística e cultural no país. Do ponto de vista linguístico, “esta obra pretende explorar uma relação harmoniosa entre o português e as línguas bantu e do ponto de vista cultural também pretende alcançar a relação harmoniosa com as várias culturas e que nenhuma seja vista como superior com as outras”, esclareceu Gonçalves.
Chimbutane acrescentou que a obra faz um apelo à promoção das línguas locais para que tenham o mesmo espaço, de forma oficial, que a língua portuguesa. “Era desejável que aqueles que não falassem a língua portuguesa conseguissem tratar documentos com a mesma facilidade que aqueles que falam a língua portuguesa”, entretanto, diz, que “há passos a serem dados”. Por exemplo, há alguns municípios que declaram algumas línguas como de trabalho. 

Uma das soluções que o académico sugere é a eleição de algumas línguas locais para que sejam oficiais em algumas regiões do país.

o país (Moçambique)

segunda-feira, 21 de março de 2016

Lançada em Moçambique primeira Bíblia em guitonga

  

Maxixe, província moçambicana de Inhambane, assisitiu, no fim de semana, ao lançamento da primeira Bíblia ecuménica traduzida em guitonga.
A obra foi traduzida sob coordenação da Sociedade Bíblica de Moçambique e numa primeira fase foram produzidos quatro mil exemplares.

Este livro sagrado será um importante instrumento de oração e devoção à Deus, sobretudo para os falantes da língua gitonga espalhados pelo país e pelo mundo fora, particularmente para os que residem nos distritos de Jangamo, Maxixe, Morrumbene e a cidade de Inhambane.

Na ocasião, o governador de Inhambane, Daniel Chapo, congratulou a iniciativa, salientando que a Bíblia deve ser assegurada como instrumento de devoção e perdão entre os moçambicanos. 

Para Daniel Chapo, a tradução da Bíblia sagrada em guitonga revela a preocupação na valorização das línguas nacionais, o que é positivo na medida em que os ensinamentos de Deus irão alcançar muito mais crentes, para além de ser um veículo de estudo e aperfeiçoamento da própria língua.

O governador da província de Inhambane, pediu maior envolvimento das confissões religiosas na mobilização da sociedade  para a promoção da paz, concórdia e combate a outros males  que grassam nas comunidades.

Daniel Tchapo falava na cidade da Maxixe perante centenas de crentes de várias igrejas que testemunharam o lançamento da primeira Bíblia ecuménica traduzida em guitonga.

Indicou que a igreja tem um papal soberbo na promoção da moçambicanidade, daí que os crentes devem unir e lançar a semente da paz dos corações dos que criam instabilidade em algumas regiões do país. 


Por seu turno, o director executivo da Sociedade Bíblica de Moçambique, o Reverendo Valentim Tseco, responsável pelo projecto de tradução da Bíblia, fez saber que, o mesmo iniciou em 1978, mas só veio a materializar-se 38 anos depois.


radio moçambique

"Cores do Mundo": festival de exaltação cultural em Maputo

 
A Cidade de Maputo vai acolher o 14º Festival Internacional de Língua e Cultura, no próximo dia 26 do mês em curso. Trata-se de um evento organizado pela Willow International School cujo lema é “Cores do Mundo”.
O festival irá decorrer no Centro Cultural da Universidade Eduardo Mondlane e contará com 50 jovens mo­çambicanos e 70 de países con­vidados.
A iniciativa tem o objectivo de difundir entre os jovens a cultura de paz, união, tolerância, solidariedade e amizade entre os povos de diferentes quadrantes do mundo.
Presente em Moçambique desde 2003, a Willow convidou para o evento cultural 15 países designadamente: EUA, Tunísia, Uganda, Brasil, Alemanha, Ban­gladesh, Roménia, Zâmbia e Bie­lorrússia.
Segundo o Director daquela instituição, Erdal Polat, o festival será um momento único para os grupos culturais de cada um dos países exibir os aspectos princi­pais de sua cultura e língua.
O Festival Internacional de Língua e Cultura servirá para estudantes de diferentes cul­turas partilharem emoções, estabelecer amizade e talvez mudar as suas mentes e con­ceitos acerca da cultura e do mundo, disse.
Num outro momento acres­centou que o festival será uma oportunidade para os estudantes estrangeiros estabelecerem contacto e conhecer Moçambique. Desde o seu povo, línguas, his­tória, cultura, turismo, dado que ao longo da sua estadia terão a ocasião de efectuar visitas a lo­cais de referência para o feito.
Por seu Turno, Asman Yildi­rim, porta-voz do Festival em Moçambique, avançou que tam­bém vão participar do evento crianças e adolescentes do In­fantário 1º de Maio.
Este festival visa criar união entre o mundo pois ac­tualmente vivemos num mun­do global e “sem” fronteiras, disse.

Refira-se que eventos simila­res terão lugar em vários países do mundo ao longo do presente ano. O Grupo moçambicano que irá desfilar no festival de Mapu­to tem convites para actuar nos Estados Unidos da América, Bél­gica, Alemanha, África do Sul, Tanzânia, Romênia, Cazaquistão. ­

domingo

A presença da voz em Niketche de Paulina Chiziane

Por Cristina Mielczarski dos Santos*

Resumo:
Niketche, palavra que dá nome ao livro, é uma dança tradicional do norte de Moçambique. Essa informação cultural e muitas outras são abordadas por meio da narrativa de Paulina Chiziane. A escritora é a primeira a publicar um romance no país, cuja actividade literária é totalmente liderada por homens. O tema que permeia o romance é a poligamia e, nesse contexto, evidencia-se a cultura local por intermédio das lendas e dos rituais de iniciação que fazem parte da tradição oral. Também os provérbios marcam essa presença na linguagem do texto.
“Poligamia é uma rede de pesca lançada ao mar. Para pescar mulheres de todos os tipos. Já fui pescada. As minhas rivais, minhas irmãs, todas, já fomos pescadas. Afiar os dentes, roer a rede e fugir, ou retirar a rede e pescar o pescador? Qual a melhor solução?” - Paulina Chiziane
O termo “oral” vem do latim “os, oris” (BUSARELLO, 2004, p.190), e significa boca, linguagem, enunciado pela voz, que se transmite de indivíduo a indivíduo pela palavra falada, verbal, vocal. Daí o termo oralidade, qualidade do que é oral 1, cuja expressão, segundo o antropólogo Eric Havelock (1995, p.17), caracteriza as sociedades que “se têm valido da comunicação oral, dispensando o uso da escrita”. O autor também afirma que a oralidade é “usada para identificar um certo tipo de consciência, que se supõe ser criada pela oralidade ou que pode se expressar por meio dela” (HAVELOCK, 1995, p.17). Então, de acordo com tais considerações, é interessante observar como se processa esse “tipo de consciência” através da oralidade na Literatura Africana de Língua Portuguesa.
Pode-se dizer que o termo “dispensar o uso da escrita”, em se tratando precisamente de Moçambique2, não é o mais específico. Esse país, na actualidade, apresenta um percentual de 80% de sua população não-letrada e não é simplesmente por opção e, sim, por uma imposição político-social de um território devastado por duas guerras consecutivas: guerra anticolonial (1965-1975) e guerra civil (1976-1992). Entretanto, nesse momento, a discussão em pauta não é sobre política. Tampouco envolve questões como oralidade em oposição à cultura escrita. O escopo é travar um movimento dialéctico entre a escrita e a oralidade. Para tanto, faz-se necessário elucubrar na obra da escritora moçambicana Paulina Chiziane elementos da oralidade como os provérbios, os ditos populares, as expressões quotidianas e máximas constantes no imaginário africano. Conforme esses aspectos, muitos dos provérbios também circulam na tradição oral brasileira.
1. Origens
A oralidade, nos anos 60 do século XX, teve um número significativo de estudiosos que a colocaram em evidência: A galáxia de Gutenberg (The Gutenberg Galaxy), de Mchluhan (1962), O pensamento selvagem (La pensée sauvage), de Lévi-Strauss (1962), As consequências da cultura escrita (The consequence of Literacy), de Jack Goody e Ian Watt (1963) e também Prefácio para Platão (Preface to Plato) de Havelock (1963). Mesmo que tenha sido explorada essa temática em tal década, já em 1928, Milman Parry, com O epíteto tradicional em Homero (L’Epithète tradionelle dans Homère), tinha inaugurado esse género.
Sendo assim, estudos e discussões sobre a Literatura Oral não são recentes e permanecem até à contemporaneidade.
Em 1982, o padre jesuíta Walter Ong, em sua obra “Oralidade e cultura escrita” (Orality and Literacy), destaca o seguinte: denominam-se “culturas de oralidade primária as que se definem por desconhecerem a escrita ou impressão gráfica, e culturas de oralidade secundária aquelas em que a expressão e a criação dependem da escrita e da impressão” (ONG, 1998, p.41). O autor aborda também que a comunicação oral se ampara na alta tecnologia – rádio, telefone, televisão. Nesse contexto, é mais relevante tratarmos do capítulo três, “Sobre a psicodinâmica da oralidade”, do qual constam especificidades do pensamento estruturado em sociedades de cultura oral primária. Segundo Ong (1995, p.42), sem a escrita 2 A taxa de alfabetização, de acordo com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento de 2007/2008.
O índice de alfabetização em Moçambique é de menos de 50 por cento, com quatro dentre cinco mulheres e um de cada três homens incapazes de ler.
 “As palavras em si não possuem uma presença visual, mesmo que os objectos que elas representam sejam visuais. Elas são sons.” O teórico afirma ainda que os povos orais consideram as palavras dotadas de grande poder: “O som sempre exerce um poder” (ONG, 1998, p.41). Ele inclusive aponta inúmeras características do pensamento e da expressão fundados na oralidade. Dentro dessa perspectiva, será dada maior ênfase à estilização formular:
Numa cultura oral primária, para resolver efectivamente o problema da retenção e da recuperação do pensamento cuidadosamente articulado, é preciso exercê-lo segundo padrões mnemónicos, moldados para uma pronta repetição oral. O pensamento deve surgir em padrões fortemente rítmicos equilibrados, em repetições ou antíteses, em aliterações e assonâncias, em expressões epitéticas ou outras expressões formulares, em conjuntos temáticos padronizados, em provérbios que são constantemente ouvidos por todos, de forma a vir prontamente ao espírito, e que são eles próprios modelados para a retenção e a rápida recordação – ou em outra forma mnemónica. (ONG, 1998, p.45)
O autor parte do princípio de que, nessas culturas, a palavra é um produto sonoro que determina “os modos de expressão e os processos mentais”. O questionamento basilar evidencia-se, assim, da seguinte maneira: como os autores empregam elementos característicos da oralidade na literatura escrita?
Sob o viés do antropólogo Amadou Hampaté Bâ, quando falamos de tradição africana, reportamo-nos para a tradição oral: Nenhuma tentativa de penetrar a história e o espírito dos povos africanos terá validade a menos que se apoie nessa herança de conhecimentos de toda a espécie, pacientemente transmitidos de boca a ouvido, de mestre a discípulo, ao longo dos séculos. (HAMPATÉ BÂ, 1980, p.181)
Um dos representantes da tradição oral transmitida de “boca a ouvido” é o provérbio que pertence ao “repertório artístico da textualidade oral” (MOREIRA, 2003, p.170) e que endossa a voz oracular assumindo no texto uma conotação poética.
2.  A oralidade na obra de Paulina Chiziane Paulina Chiziane nasceu em Manjacaze, província de Gaza, sul de Moçambique. Ela é considerada uma das primeiras mulheres a escrever um romance no seu país. No entanto, Chiziane afirma não escrever romances e, sim, estórias. Nas palavras da autora, “sou contadora de estórias e não romancista. Escrevo livros com muitas estórias, estórias grandes e pequenas. Inspiro-me nos contos à volta da fogueira, minha primeira escola de arte.” (CHIZIANE, 2002, contracapa). Sua “contação” de histórias está no sangue, herança de sua avó, que pertencia ao grupo étnico macagandane. A escritora chegou a morar e trabalhar na Zambézia, centro do país.
A escritora escreveu “A balada de amor ao vento” (1990), “Ventos do Apocalipse” (1995), “O sétimo juramento” (1999), entre outros. No entanto, é analisado neste trabalho o romance “Niketche: uma história de poligamia” (2002), cujo nome deriva de uma dança sexual feminina, aprendida pelas meninas durante os rituais de iniciação, para que afirmem ao mundo que são mulheres. A dança macua é originária da Zambézia, região centro de Moçambique. Nessa perspectiva, a autora, no corpo da narrativa, explicita sobre esse ritual: “Niketche. É a dança do sol e da lua, dança do vento e da chuva, dança da criação. Uma dança que mexe, que aquece. Que imobiliza o corpo e faz a alma voar. [...] Movem o corpo com arte saudando o despertar de todas as primaveras. Ao toque do tambor, cada um sorri, celebrando o mistério da vida ao sabor do niketche.” (CHIZIANE, 2004, p.160).
Nesse livro, a autora conta a história do comandante António Tomás, o Tony, e da sua mulher Ana Maria, a Rami. A ficção ocorre no presente, sendo narrada na primeira pessoa por ela, a narradora-protagonista. É por intermédio de sua voz que ouvimos a história dela e também das amantes de seu marido e de tantas outras mulheres que contam suas trajectórias de vida. Seus percalços enquanto indivíduos do sexo feminino ocorrem frente a uma sociedade dividida deste modo: Feminino/Masculino, Matriarcal/Patriarcal, Monogamia/Poligamia, Tradição/Contemporaneidade, Norte/Sul.
O romance é permeado pela cultura africana, com suas lendas, mitos e riquezas da tradição oral. Ao longo da leitura surge um mosaico de culturas: maconde, macua, ronga, tsonga, machangana. O legado dessas culturas é apresentado por intermédio de Rami (etnia ronga) e pelas outras mulheres de Tony: Julieta (sul de Moçambique), Luísa (etnia “xingondo”), Saly (etnia maconde) e Mauá (etnia macua). Elas formam junto com Tony (etnia machangana) “um hexágono amoroso” (CHIZIANE, 2004, p.58).
A tradição oral africana permeia a narrativa. Uma representante dessa cultura é, especificamente, a lenda da princesa Vuyazi, a princesa insubmissa estampada na lua: “Era uma vez uma princesa. Nasceu da nobreza mas tinha o coração de pobreza. Às mulheres sempre se impôs a obrigação de obedecer aos homens. É a natureza. Esta princesa desobedecia ao pai e ao marido e só fazia o que queria. Quando o marido repreendia, ela respondia. Quando lhe espancava, retribuía. Quando cozinhava galinha, comia moelas e comia coxas, servia ao marido o que lhe apetecia. Quando a primeira filha fez um ano, o marido disse: vamos desmamar a menina e fazer outro filho. Ela disse que não. Queria que a filha mamasse dois anos como os rapazes, para crescer forte como ela. Recusava-se a servi-lo de joelhos e aparar-lhe os pentelhos. O marido, cansado da insubmissão, apelou à justiça do rei, pai dela. O rei, magoado, ordenou ao dragão para lhe dar um castigo. Num dia de trovão, o dragão levou-a para o céu e a estampou na lua, para dar um exemplo de castigo ao mundo inteiro. Quando a lua cresce e incha, há uma mulher que se vê no meio da lua, de trouxa à cabeça e bebé nas costas. É Vuyazi, a princesa insubmissa estampada na lua. É a Vuyazi, estátua de sal, petrificada no alto dos céus, num inferno de gelo. É por isso que as mulheres do mundo inteiro, uma vez por mês, apodrecem o corpo em chagas e ficam impuras, choram lágrimas de sangue, castigadas pela insubmissão de Vuyazi” (CHIZIANE, 2004, p.157).
O excerto acima emprega a fórmula clássica para iniciar uma narrativa ficcional: “Era uma vez uma princesa”. A lenda é transcrita em frases curtas, com rimas: nobreza/pobreza/natureza. O tempo verbal utilizado no pretérito imperfeito dá ritmo à narrativa: desobedecia/queria/repreendia/respondia/retribuía. Verificam-se também, por entre as linhas dessa narrativa, os modos de funcionamento do sistema patriarcal: a obediência aos homens – pai e marido, os comportamentos diferenciados relacionados à educação do homem e da mulher, o castigo para a desobediência às tradições, entre outros. Rami, a protagonista, ao longo do romance, irá retomá-los em vários momentos.
Interessante observar que o termo macua “niketche”, o ritual iniciático e a lenda da princesa Vuyazi podem representar a dicotomia cultural pertinente ao norte e ao sul de Moçambique. A dança representa o sul com um posicionamento mais liberal e a lenda representa o norte do país, que segue um modelo paradigmático judaico-cristão, fortemente influenciado pelo patriarcalismo colonial europeu. Essa dicotomia entre Norte-Sul é bem representada nestes trechos:
- Mulheres bonitas só no norte, seus machanganas3! As nortenhas são leves e livres. As nortenhas são belas. As vossas mulheres são pesadas, são grossas, têm o rabo grande de comer tanto amendoim!
A poligamia é um sistema com regras próprias, e, nessa matéria, o sul é diferente do norte [...] - Vocês do norte, são escravos delas. Trabalham a vida inteira só para elas. Até os filhos têm apelido da mãe. Que tipo de homens vocês são?
- E vocês do sul são brutos, tratam as mulheres como bichos. Alguém, neste mundo, sabe que é o verdadeiro pai dos filhos da mulher? O senhor que tanto nos insulta, tem a certeza de que os filhos que diz serem seus o são, de certeza? Na nossa terra, os filhos têm o apelido da mãe, sim.
Pai é dúvida, mãe é certeza. Um galo não choca ovos, nunca. É bom dar a César o que é de César. (CHIZIANE, 2004, p.207).
Nortenhos ou sulistas, cada um quer ser mais alto e chegar primeiro ao umbigo do céu. Cada um quer ser garça, falcão, albatroz, para alcançar mais depressa o alto do monte onde ainda pende um cacho de banana e uma galinha assada no braseiro do mundo. (CHIZIANE, 2004, p.210)
Assim como as lendas e os rituais de iniciação que compõem a tradição oral, formalmente, os provérbios marcam essa presença na linguagem do texto.
3. Provérbio – o poder da palavra. O provérbio, muito embora seja conhecido por muitos em nossa sociedade, enfrenta uma dificuldade imensa quanto à sua definição. Todavia, é feito um pequeno esclarecimento de alguns dos conceitos vigentes para uma maior compreensão a seu respeito nesse contexto.
Conforme Luiz Costa Lima (1974, p.14), destaca-se esta afirmação: 3 Machanganas: uma das etnias tsonga.
A armadura simples do provérbio permite, por conseguinte, que ele seja manejado com facilidade pelo falante; sua formação poética promove a sua retenção; a sabedoria que contém, sua aplicação a um número indefinido de situações. Pelo provérbio, com efeito, é todo um saber comunal que, elipticamente, se precisa e condensa.
Muitas definições possuem traços em comum. Tal como consta no Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa (2001, p.2321), o provérbio é uma “frase curta, de origem popular, com ritmo e rima, rica em imagens, que sintetiza um conceito a respeito da realidade ou uma regra social ou moral. Provérbio, adágio, dito, ditado, rifão, máxima.”
Também Helena Duarte (2006, p.32), após muitas pesquisas, define assim o provérbio: “Um enunciado cristalizado, pertencente ao património linguístico, mas de autoria anónima, transmitido oralmente, ao qual subjaz uma verdade de carácter geral e cuja autonomia sintáctica permite a sua conexão com as múltiplas situações em que se aplica.”
Logo, sabemos que o provérbio é considerado um texto tradicional como os mitos e os símbolos. Possui inúmeros traços que o definem: origem remota e anónima, conteúdo metafórico, carácter diacrónico, valor semântico de verdade universal. O seu carácter rítmico e sua formulação facilitam a memorização, como elucida Ong (1998, p.45-46) nessa passagem:
As fórmulas ajudam a implementar o discurso rítmico, assim como funcionam, por si só, como apoios mnemónicos, como expressões fixas que circulam pelas bocas e pelos ouvidos de todos [...] “Dividir para conquistar.” “Errar é humano, perdoar é divino”. [...] Fixas, muitas vezes ritmicamente equilibradas, expressões desse e de outros tipos podem ser ocasionalmente encontradas impressas; na realidade, podem ser “procuradas” em livros de adágios, mas nas culturas orais não são eventuais, são constantes. Elas formam a substância do próprio pensamento. Sem elas, este é impossível em qualquer forma extensa, pois é nelas que consiste.
Nessas culturas orais, a própria lei está encerrada em adágios formulares, provérbios, que não constituem meros adornos jurídicos, mas são, em si mesmos, a lei.
Dominique Maingueneau, por intermédio de sua perspectiva linguística, assevera-nos que o indivíduo, ao utilizar o provérbio, “toma sua asserção como o eco, a retomada de um número ilimitado de enunciações, anterior do mesmo provérbio”, como vemos:
O provérbio representa um enunciado limite: o “locutor” autorizado que o valida, em lugar de ser reconhecido apenas por uma determinada colectividade, tende a coincidir com o conjunto defalantes da língua, estando aí incluído o indivíduo que o profere. Este último toma sua asserção como o eco, a retomada de um número ilimitado de enunciações, anteriores do mesmo provérbio. (MAINGUENEAU: 1989, p.101)
Esse eco possui, portanto, o saber da tradição oral. Reactivá-lo na escrita significa reactivar no texto esse conhecimento, que modela, (re)cria ou, simplesmente, usa o provérbio para complementar uma afirmação.
In Nau literária: Dossiê: literaturas africanas de LP
*Cristina Mielczarski dos Santos - Mestranda em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), na área de Literaturas Portuguesa e Luso-Africana.

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Angola ratifica carta da Renascença Cultural africana

 

O parlamento angolano ratificou a Convenção sobre a Carta da Renascença Cultural de África, adoptada pelos Chefes de Estado e Governo da União Africana em Janeiro de 2006.

A Carta da Renascença Cultural de África, que substitui a Carta Cultural de  África, permite incrementar nos Estados Membros, o espírito do Pan-africanismo, assim como reforçar as suas políticas nacionais no domínio das artes e da cultura de forma a contribuir para a integração sócio -económica e cultural do continente.
 De  acordo com o documento, a Carta da Renascença Cultural de África assenta nas premissas de que a cultura constitui  para os povos africanos o meio mais seguro de promover o desenvolvimento tecnológico e a resposta  mais eficiente aos desafios da globalização.
Com esta ratificação, Angola  pretende encorajar a cooperação cultural entre os países africanos, com vista ao reforço da unidade  africana, bem como  encorajar o diálogo  entre culturas,  promover , em cada país, a popularização da ciência e da tecnologia, incluindo sistemas do conhecimento  tradicional como condição para uma melhor compreensão  e preservação do património cultural e natural, lê-se no documento.
Encorajar a cooperação cultural internacional para uma melhor compreensão entre os povos dentro e fora de África , reforçar o papel da cultura na promoção da paz e da governação , assim como desenvolver todos os valores dinâmicos  da herança cultural africana que promova os direitos do homem, a coesão social e o desenvolvimento humanos, são outros dos objectivos preconizados por Angola.
Na opinião das autoridades angolanas, a Carta da Renascença Cultural de África permitirá a afirmação da identidade cultural de todos os povos de África nomeadamente das línguas nacionais, da assistência à criação e expressão artísticas, da cooperação  cultural inter-africana e diáspora africana.
O documento defende o desenvolvimento das línguas africanas, a fim de garantir o seu avanço cultural e aceleração  do seu desenvolvimento económico e social do continente, a implementação  de reformas para a  introdução de línguas africanas no currículo de educação  tomando em consideração  os requisitos da coesão  social, do progresso da tecnologia e da integração  regional africana.
Aponta ainda o estabelecimento de instituições e estruturas que promovam  o reforço da criatividade e expressão artística,  a prestação  de assistência  financeira e técnica e de outras formas de apoio  para estimular a criação e a expressão artística, de preferência através do estabelecimento de fundos  nacionais  para a promoção da cultura e das artes.  

angop

segunda-feira, 14 de março de 2016

Livro de Paulina Chiziane inspira seriado para TV

 


“Niketche: A Rainha das Divas” é o título de um seriado para televisão adaptado do célebre livro da escritora moçambicana Paulina Chiziane. O seriado televisivo foi produzido pelo cineasta brasileiro Joel Zito Araújo.
Com um elenco de luxo composto pelas actrizes brasileiras Adriana Lessa, Sheron Menezes, Érica Januza, Roberta Valente, Juliana Alves, Cristina Lago e Léa Garcia, “Niketche: A Rainha das Divas” conta com a participação do actor angolano Ery Costa, um dos protagonistas da telenovela “Windeck”.
O roteiro do seriado foi escrito pela brasileira Luiza Botelho Almeida e pela norte-americana Shelley Meals e narra uma história que decorre no interior do Brasil, onde uma esposa moçambicana traída pelo seu marido se vinga de uma forma original, impondo as tradições da poligamia africana. 
Inspirado na obra original, cujo título do romance é “Niketche – Uma História de Poligamia”, o seriado tem como personagem principal Rami, mulher casada, honesta e dedicada à família, que toma conhecimento da traição do seu marido, Tony.
Surpreendentemente, descobre que não se trata somente de uma amante, mas de várias, nomeadamente Julieta, Luísa, Saly e Mauá. Descobre também os dezassete filhos do marido. Então Rami decide conhecer cada uma delas.
Esta é a primeira vez que a obra de Paulina Chiziane é adaptada para a televisão, depois de ter sido transformada em peça teatral pelos grupos Mbeu e Luarte.
“Niketche” deu também origem ao primeiro musical moçambicano, criado pela Associação dos Atletas de Dança Desportiva (AADD).  
O livro, lançado em 2003, não é um romance feminista, mas aborda questões ligadas à mulher. A obra inscreve-se numa linha de narrativa feminina africana de crítica à poligamia.
Paulina Chiziane, autora do romance, é para além de uma das vozes mais sonantes da literatura moçambicana uma figura carismática na transmissão de valores aos mais jovens.

Publicou os livros “Balada de Amor ao Vento” (1990), “Ventos do Apocalipse” (1993), “O Sétimo Juramento” (2000), “Niketche: Uma História de Poligamia” (2002), “O Alegre Canto da Perdiz” (2008), “As Andorinhas” (2009), “Na Mão de Deus” (2013) e “Por Quem Vibram os Tambores do Além” (2013).

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