quarta-feira, 29 de abril de 2015

Festa do Pilão em Cabo Verde

O pilão em São Filipe
A cidade de São Filipe é por estes dias um dos maiores palcos de animação cultural e desportiva de Cabo Verde. A festa da bandeira segue rija desde o dia 25 de Abril.

O ritual do pilão constitui um dos pontos alto da festa. O acto é público e constitui um verdadeiro espectáculo feito de cânticos, danças e rituais ancestrais.
À volta de um pilão, onde estão três pessoas a pilar o milho num ritmo cadenciado, postam-se vários outros intervenientes que compõem o corpo de uma verdadeira orquestra de percussão.
No dia 30, acontece a matança de animais logo ao amanhecer. E os fogos de artifício à meia-noite anunciam o grande dia: 1 de Maio, dia de São Filipe e do Município. E o almoço dos Cavaleiros, na Casa das Bandeiras dá o sinal de que os festejos já estão no fim.
Juntam-se à festa outras inovações que, de ano para ano, atraem a atenção de centenas de emigrantes, muitos turistas e cabo-verdianos de todos os cantos do país e da diáspora.

 asemana

Numeração em Kimbundu

Luzia Moniz


Números cardinais

Numeração simples sem associação a nomes.

Moxi (1)
Iadi (2)
Tatu (3)
Uana (4)
Tanu (5)
Samanu (6)
Sambuadi (7)
Dinaki (8)
Divua (9)
Dikuinii (10)

Associada a nomes, a numeração é feita da seguinte forma: de 1 a 7 formam-se nomes numerais com o prefixo ki e a partir do 8 mantêm-se os números cardinais da numeração simples.

Mutu Imoxi – 1 pessoa
Atu Kiadi  -    2 pessoas
Atu kitatu    -   3 pessoas
Atu Kiuana   - 4 pessoas
Atu kitanu     - 5 pessoas
Atu Kisamanu -6 pessoas
Atu Kisambuadi - 7 pessoas
Dinaki dia atu - 8 pessoas
Divua dia atu  - 9 pessoas
Kuinii dia atu -10 pessoas

De lembrar que o plural de mutu é atu.

Números ordinários

Exceptuando o uadianga (1º/ª), na numeração ordinária o número é composto pelo cardinal precedido do prefixo ka.

Uadianga (1º/ª)
Kaiadi (2º/ª)
Katatu (3º/ª)
Kauana (4º/ª)
Katanu (5º/ª)
Kasamanu (6º/ª)
Kasambuadi (7º/ª)
Kanaki (8º/ª)
Kavua (9º/ª)
Kakuinii (10º/ª)




domingo, 26 de abril de 2015

El Anatsui do Ghana ganha Leão de Ouro de Veneza



Antes de cada Bienal de Arte em Veneza, o júri atribui um Leão de ouro à um artista pelo conjunto da sua carreira. Este ano, o comtemplado é El Anatsui, nascido no Ghana em 1944 e residente na Nigéria.
Presença habitual de prestigiadas galerias de Nova Iorque, Paris e outras grandes capitais mundiais e com obras em grandes museus, este embaixador das artes africanas, sem filhos, dedicou toda sua vida à arte.
Resultado de imagem para el anatsui art
"El Anatsui é talvez o mais significativo artista africano vivendo e trabalhando hoje no continente", disse o júri, sublinhando a "originalidade da visão artística, o seu compromisso de longo prazo para a inovação formal e a afirmação do lugar das tradições artístico-culturais de África na arte contemporânea internacional". 

O escultor ghanense que expôs na Bienal de Veneza em 1990 e 2007, no Museu do Brooklyn (Nova Iorque) e no Museu Metropolitano de Arte de Miami, tornou-se aos 71 anos um dos artistas mais solicitados do continente africano e do mundo para expor o seu trabalho, pacientemente feito no seu atelier em Nsukka, Nigéria com a ajuda de cerca de 30 empregados.
Resultado de imagem para el anatsui art
É conhecido sobretudo pelas suas sumptuosas esculturas de cores vivas e tapeçarias de parede feitas de tampas de garrafas e metais descartáveis. Ponte quebrada II é a sua maior obra até hoje e evoca um sentimento tipo têxtil com seus padrões e dobras feitas de tecidos de metal, matérias descartáveis, embalagens e tapinhas de garrafas.
Resultado de imagem para el anatsui art
Para El Anatsui, considerado o artista mais caro de África e que se prepara para criar atelieres no Ghana e em Nova Iorque, o prémio atribuído quinta-feira última, 23 de Abril, é sem dúvida mais uma etapa da sua longa e bem-sucedida carreira.

sábado, 25 de abril de 2015

Brasil cria Conselho África

Resultado de imagem para lula da silva
O ex-Presidente do Bra­sil Luiz Inácio Lula da Silva lan­çou em São Paulo o Conselho África, formado por intelectuais, académicos, diplomatas e activistas que se uniram para combater o preconceito contra o con­tinente africano.
“O mundo precisa de acabar com o preconceito contra África”, declarou o ex-presidente durante a cerimónia de lançamento do Conselho, num acto realizado no Instituto Lula.
No seu discurso, Lula lembrou a “escalada” nas relações entre o Brasil e África nos últimos anos, que se intensificou durante os seus dois mandatos e continuou com a sua sucessora, Dilma Rousseff.
Lula pediu aos brasileiros que “promovam mais diálogo” com o continente africano, sem querer dar lições sobre o que cada país deve fazer ou não, mas fortalecendo os investimentos. “O mundo precisa de entender que África é um continente muito promissor”, afirmou.

Para Lula, “o mundo estaria melhor hoje se em 2009 (numa reunião mundial de líderes na qual participou) tivéssemos decidido transformar os pobres em consumidores e desenvolvido África, continente com o qual Brasil tem um compromisso gigantesco, e não somente económico”. Entre os participantes no Conselho África está Celso Amorim, que foi ministro dos Negócios Estrangeiros no Governo de Lula e fomentou as relações entre o Brasil e os países do continente africano. 


O Conselho África “será um espaço para ligar os colaboradores africanistas do Instituto Lula e acompanhar as actividades da Iniciativa África”, diz um comunicado divulgado na ocasião.

sexta-feira, 24 de abril de 2015

Filme sobre Kimpa VIta - heroína da resistência

Um filme sobre a profetiza Kimpa Vita no reino do Congo, começa a ser gravado nos próximos dias na província do Uíge, revelou o realizador Manuel Narciso “Tontón”.
O filme começou a ser produzido em 2013 e tem como objectivo mostrar ao público o valor cultural de Kimpa Vita, o seu contributo no resgate e defesa da identidade cultural e religiosa africana, além da resistência demonstrada na defesa do reino do Congo.

Em declarações ao Jornal de Angola, Tontón disse que a película vai ser inteiramente dedicada aos feitos de Kimpa Vita, a mulher, heroína e profetiza popular do reino do Congo.
“O filme vai retratar a vida e obra da profetiza Kimpa Vita (1682-1706) e a importância da cultura africana”, sublinhou. Até agora já foram produzidas algumas cenas do filme que aguarda apenas pelo reforço do patrocínio para a sua conclusão. Segundo o realizador, no filme os actores falam em português e kikongo para facilitar a compreensão do público.
“Os actores vão utilizar roupas semelhantes às que a profetiza e os padres missionários vestiam na época. As cubatas de capim vão ajudar a situar o filme no tempo e no espaço”, explicou.
O projecto orçado em mais de 25 milhões de kwanzas conta com o patrocínio dos governos provinciais de Luanda, Uíge e Zaire, além de outras entidades singulares interessadas na promoção da história da heroína.

“Se eu for aprovada no teste vou desempenhar o papel que me for atribuído com muita responsabilidade e sentido de patriotismo” disse a actriz Chantal Odón, de 29 anos. 
Daniel Fernando, 26 anos, disse que se apercebeu do casting do filme através de um amigo. “Estou entusiasmado e muito emocionado. Quero participar no filme e ser considerado um bom actor”, acrescentou o jovem actor.

Kimpa Vita é uma figura emblemática. Nasceu em 1682 e cresceu num ambiente de poder absoluto do reino. Defendia os ideais da cultura e religião  africana. Em 1706, a heroína foi condenada à morte e queimada viva com uma criança de três anos às costas, por ordens do Manikongo (D. Pedro IV), que tomou tal decisão sob influência dos missionários capuchinhos, Bernardo de Gallo e Lorenzo de Luca.
 jornal de angola


quinta-feira, 23 de abril de 2015

Gramática de Kimbundu de 1888-89

"Vamos lá aprender o kimbundu, uma língua fácil de expressar" Luísa Fresta

3 – Ortografia e fonologia
O Kimbundu deve sempre grafar-se com escrita sónica. As cinco vogais, a, e, i, o, u, são todas abertas. Antes de outra vogal, ie u funcionam como semi-vogais.
mbcomo em mbambi, “gazela”, “frio”
nvcomo em nvula, “chuva”nd como em ndandu, “parente”
ngcomo em ngiji, “rio”
nj como em njila, “pássaro”, “caminho”
h como em hima, “macaco”, distinto de ima, “coisas”
O m e o n servem para nasalar, daí que tenham surgido, por exemplo, vocábulos como Angola derivado de ngola (rei) ou embondeiro derivado de mbondo (árvore).
O h é sempre aspirado, como em henda (graça, misericórdia).
O r é sempre brando e pode ser trocado por d ou, menos frequentemente, por l. Por exemplo, kitari ou kitadi (dinheiro), ditadi ou ritari (pedra); kudia ou kuria (comer); kolombolo ou koromboro (galo).
O k substitui sempre o q da língua portuguesa, bem como o c antes de a, o e u.
O g nunca tem o valor de j, mesmo antes de e ou i. Ndenge (mais novo) e ngindu (trança) lêm-se ndengue e nguindu.
O som nh deve, em nosso entender, escrever-se como em português, embora haja quem escreva ni ou ny. Por exemplo, dikanha, dikania ou dikanya (tabaco).
Não vemos, de resto, necessidade do emprego do y em Kimbundu, embora certos autores o usem enquanto prefixo para fazer o plural de ki. Em tal caso sugerimos a grafia i (V. Infra).

quarta-feira, 22 de abril de 2015

UNESCO reconhece Igreja do Quéssua como Património histórico-cultural

Igreja Metodista do QUÉSSUA, cedida por  Palanca  Negra


A Missão Evangélica do Quéssua (Malanje), afecta à Igreja Metodista Unida de Angola, ascendeu, no fim-de-semana, à categoria de monumento histórico-cultural, com reconhecimento da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO).

A outorga do título à Missão, situada a 12 quilómetros a norte da cidade de Malanje, aconteceu no âmbito do Dia Mundial dos Monumentos e Sítios, assinalado a 18 de Abril.
Além da Missão Evangélica do Quéssua, foram igualmente elevadas à categoria de monumentos histórico-culturais de Malanje o antigo palácio da administração colonial e o edifício central Banco Nacional de Angola (BNA), ambas infra-estruturas localizadas na cidade capital.

 A Igreja Metodista Unida Central do Quéssua foi construída entre 1951 e 1953.
angop

terça-feira, 21 de abril de 2015

Projecto para dar continuidade ao legado de Cesária Évora

Resultado de imagem para cesaria evora a fumar
O produtor de Cesária Évora, José  da Silva, anunciou que está a preparar um novo trabalho com temas da cantora, com o apoio de uma geração de jovens talentos cabo-verdianos para dar continuidade ao legado da “Musa dos Pés Descalços”
Lura, Élida Almeida e Albertino Évora participam no trabalho, que pode igualmente vir a contar com a colaboração da guineense Karyna Gomes, o nigeriano Kuku e as norte-americanas Pura Fe.

Cesária Évora (1941 - 2011) é cantora de maior reconhecimento internacional de toda história da música popular cabo-verdiana. Apesar de bem-sucedida noutros géneros musicais, foi a morna que a tornou internacionalmente conhecida. A “Diva” conquistou em 2004 o Grammy de melhor álbum de world music contemporânea.

 jornal de angola

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Feira internacional do livro de Maputo

Paulina Chiziane
Escritores da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) irão participar na primeira Feira Internacional do Livro de Maputo, a decorrer entre 7 e 10 de Maio próximo, na capital do país.
Trata-se de uma iniciativa do Conselho Municipal de Maputo que visa promover a literatura nacional, facilitar o acesso ao livro e incentivar o gosto pela leitura.
Lopito Feijó, Angola, Ana Paula Maia, Brasil, António Marques, Portugal, entre outros, são alguns dos escritores que já confirmaram a sua participação do evento.
Paulina Chiziane e Calane da Silva, que igualmente far-se-ão presentes, para além de outros escritores nacionais, têm a missão de orientar uma palestra subordinada ao tema “O livro como instrumento de combate à pobreza”.
A Feira Internacional do Livro de Maputo vai consistir na exposição, venda e troca de livros, palestras subordinadas a determinados temas, sessão de conversas com os autores, assinaturas de autógrafos e ainda na criação de oficinas para troca de experiências entre os escritores nacionais, estrangeiros e os leitores.
Para tal, foram convidadas editoras e produtoras de livro a exporem os seus produtos na feira e criar condições para que se possam reduzir os preços de modo a que mais pessoas possam adquirí-los.
domingo
  

domingo, 19 de abril de 2015

Literatura angolana estudada em Itália

 
O primeiro seminário de introdução à Cultura e Literatura angolanas está a ser ministrado até 8 de Maio, na Universidade de Roma Tre, em Itália, a mais de  40 estudantes de diversas nacionalidades, do curso de licenciatura na área de línguas, literaturas e culturas estrangeiras da Faculdade de Letras e Filosofia.
O curso, de seis módulos, teve o seu início em Abril, totalizando 30 horas lectivas e está a ser ministrado por António Quino. O seminário tem como objectivo dar a conhecer os elementos da História da Literatura Angolana e das principais obras e autores, além de enquadrar os escritores angolanos em períodos temporais e sócio-culturais. Reconhecer e distinguir o estilo individual e desenvolver métodos e técnicas de trabalho individual, de grupo e em grupo, que contribuam para a construção e desenvolvimento da aprendizagem da Cultura e Literatura angolanas são outros objectivos.

No seu primeiro contacto com os estudantes, António Quino disse que ficou impressionado pela manifesta vontade de conhecerem a cultura e literatura angolanas. “Fiquei satisfeito pois, se tudo correr bem, podemos futuramente ter um forte núcleo de investigadores, tradutores e leitores aqui na Itália, recuperando uma relação cultural que já foi muito boa no passado. Só para termos uma ideia, o curso está a ser ministrado em português e a maioria dos estudantes inscritos tem um fraco domínio da língua, mas foram vencidos pela curiosidade e vontade de conhecer esta Angola que precisa de se dar mais a conhecer, em particular a sua literatura”, acrescentou. 

Na abertura do seminário, a União dos Escritores Angolanos (UEA) procedeu à oferta de mais de 25 títulos de autores angolanos à Biblioteca da Universidade Roma Tre.

A primeira etapa do curso, coordenada pelo professor italiano Giorgio de Marchis, foi marcada por uma tele-conferência com o escritor Pepetela, em que os alunos tiveram a oportunidade de colocar questões, em particular sobre o seu livro traduzido recentemente para italiano e disponível nas livrarias de Roma, “Jaime Bunda - Agente Secreto”.


O seminário é resultado da materialização do acordo tripartido que instituiu a 24 de Março de 2014 uma cátedra na Universidade de Roma Tre com o nome do poeta Agostinho Neto, e está destinada exclusivamente à divulgação e à promoção da Literatura e Cultura angolanas.
jornal de angola

Papoilas em jarro de pau rosa moçambicano


















Dya Kaíta

sábado, 18 de abril de 2015

Wax & pilão em cortinas de cozinha











Dya Kaíta

Krystal Shabani jovem estilista de sucesso



Krystal Shabani 23 ans, styliste.
Aos 23 anos, a jovem estilista burundiana é já uma referência no mundo da moda no continente africano. As suas colecções estão presentes, para além do Burundui, seu país, também no Quénia, Uganda, Tanzânia e Rwanda.

Kristal Shabani criou, há três anos, a sua própria marca Krysbel Design com o objectivo principal de elevar o algodão africano ao lugar de honra. E lançou mãos à obra com vestuário e acessórios, como bijuteria (brincos, pulseiras e colares), sapatos e óculos.

Fashion Week Zanzibar Models


Presente em todas as semanas de moda da sub região, África Oriental, Krystal Shabani tem nos tecidos africanos ( wax, java, kente, batik, bongolan) o centro do seu trabalho. 

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Bonecas de capulana


A maneira como uma mulher moçambicana “veste” a capulana esconde significados e códigos sociais, e essa é a grande riqueza cultural que representa em Moçambique.

No catálogo “Festa na Ilha”, para uma das suas exposições, Suzette
Honwana escreveu: “Sempre gostei de ver numa festa ou numa cerimónia uma senhora vestida de mukume ni vemba. É um conjunto clássico do Sul de Moçambique. Consta de duas capulanas cortadas numa mesma peça de pano. A maior, a mukume, com a sua renda branca, vai amarrada à cintura, e a mais pequena, a vemba, traz-se pelos ombros, como um xaile.

Antigamente usava-se amarrada acima dos seios, por sobre amukume, uma outra peça mais pequena, mas do mesmo padrão, a meiopano. Com mukume ni vemba usa-se normalmente uma blusa de corte simples, cor lisa e de mangas cingidas”.
 
As bonecas produzidas por Suzette Honwana têm uma dimensão cultural para além da graciosidade e perfeição nos detalhes das próprias bonecas. Elas representam uma homenagem da sua criadora às mulheres moçambicanas e à cultura de Moçambique, tão bem representada pelo vestuário centrado na capulana, nas suas variantes do Norte ao Sul.

Suzette, oriunda do Sul, mas fascinada pelas mulheres envoltas nas suas capulanas, foi à procura delas pelo país fora e descobriu a riqueza e diversidade das diferentes regiões no modo de vestir, acabando por criar a sua própria galeria de traje. Ela não reproduz apenas mulheres estaticamente vestidas enfeitadas com capulanas, missangas e rendas. Através da base flexível que representa “o corpo” em que o vestuário se apoia, Suzette dá-lhes a expressão que as torna tão vivas. São velhas e jovens, com o bebé às costas ou ao colo, a dançar ou a conversar em grupo. São curandeiras sentadas consultando instrumentos de adivinhação. São até homens, dançarinos de Mapico artisticamente retratados nos bonecos que ela molda e veste.

Indo às origens do significado social da capulana, a historiadora Benigna Zimba escreveu para o catálogo da exposição das bonecas Tiassú: “Em áreas como Zavala (Inhambane), Mecúfi (Cabo Delgado) e Memba (Nampula), o uso do tecido importado associava-se a marcantes distinções sociais entre as mulheres. Enquanto que em Zavala a mulher que usava capulana distinguia-se daquela que usava chivenhula, em Mecúfi e Memba a mulher que usava capulana diferenciava-se daquela que usava nakoto. Embora usando técnicas diferentes de manufactura, chivenhula e nakoto são peças de vestuário feitas à base de casca de troncos de árvore”.

A GÉNESE DAS TIASSÚ

Suzette Honwana sempre gostou de trabalhar com as mãos e ao sabor da inspiração momentânea. E, a certa altura, inspirando-se nas mulheres suas conterrâneas e no uso da típica capulana, pensou em fazer uma boneca.

Em vez de deitar fora o tubo que vem com a linha de croché, aplicou-lhe uma cabecinha e vestiu-o com pequenos retalhos de tecido, procurando “reproduzir” uma mulher vestida de capulana. O resultado não a satisfez mas foi o ponto de partida para dar asas à imaginação e à sua habilidade.

Usando arame revestido com tecido almofadado, conseguiu uma estrutura flexível que se tornou o suporte para o corpo das bonecas e se revelou fundamental ao permitir diferentes posições e expressões corporais. A fonte de inspiração parece inesgotável. Se, com dez bonecas, parece que já se viram todas as variedades de capulanas de todas províncias do país, Suzette descobre sempre mais uma como se as figurinhas brotassem em torrente da sua imaginação.
Passei a observar as mulheres e a capulana de outra maneira,
a tentar captar o essencial para o reproduzir nas bonecas”, diz ela.
Alguns homens que usam capulana, como os dançarinos de Mapico, a curandeira sentada em plena acção, mulheres ataviadas com colares, outras com bebé às costas, velhas apoiadas no cajado e transportando a sua trouxa, com lenço ou com penteados habilmente sugeridos, e até figuras históricas, como as esposas de Gungunhana reproduzidas a partir de gravuras antigas, são uma galeria de símbolos sociais, de história e sobretudo de um mundo particular que as mulheres construíram para si e para o seu lugar na sociedade”.

Quando Suzette se viu perante tantos personagens, compreendeu que tinha representado uma parte essencial da cultura moçambicana e reproduzido a imagem que fica na memória de quem visita o nosso país. E lembrou-se de que, ao contrário do que sucede nos países que conhece, em Moçambique nunca se tinham feito bonecos e bonecas simbolizando costumes e vestuário tradicionais. As suas figurinhas podiam tornar-se ícones do país e, ao mesmo tempo, uma homenagem feminina à sua cultura nacional.

Ela considera que Moçambique terá também de ter um Museu da Capulana porque é importante reconhecer e preservar aquilo que as moçambicanas construíram à volta deste rectângulo de tecido: um código social que a torna uma peça fundamental para o conhecimento antropológico, histórico e sociológico do país.

Os moçambicanos da cidade, já longe do passado rural e tradicional, descobrem em cada boneca memórias da sua infância, as mulheres da sua família e do que elas falam. E revêem a paisagem humana familiar nestas figuras que, de tão expressivas, até parece que as vemos em movimento, rindo e conversando pelas estradas de terra a caminho da machamba, ou dançando em ocasiões especiais, ou simplesmente caminhando pelas ruas das vilas e cidades, ora exibindo ora parecendo esconder a sua graça e poder de sedução.

O FASCÍNIO DA CAPULANA SOBRE ESTRANGEIROS

Em geral os turistas, mas também mulheres e homens estrangeiros que aqui vivem temporariamente, mostram grande interesse e curiosidade pela capulana. É frequente ver mulheres europeias nas lojas dos indianos e nos mercados rurais deixarem-se seduzir por um desses rectângulos de pano de cores sombrias ou muito vivas.

É uma atracção irresistível, mesmo quando não tem para elas uma utilidade imediata. A capulana começa entretanto a atrair modistas amadoras e estilistas profissionais que a experimentam como material de base para suas criações de renovação e adaptação do seu próprio vestuário à “moda moçambicana”.

As bonecas de Suzette privilegiam o modo tradicional de vestir das mulheres de Moçambique, com as suas variações de Norte a Sul e algumas incursões no universo masculino ou moderno e fixando um vestuário que tem lugar num futuro Museu do Traje.


A sua comercialização está a dar os primeiros passos porque a sua criadora só tinha feito experiências até criar a marca Tiassú para organizar uma exposição. A aceitação que recebeu convenceram-na a comercializá-las e aceitar encomendas em locais de exposição como a Galeria da “Kulunguana-Associação para o Desenvolvimento Cultural”, na Estação dos Caminhos-de-Ferro de Moçambique.

Índico (revista de bordo da LAM)