segunda-feira, 21 de março de 2016

Lançada em Moçambique primeira Bíblia em guitonga

  

Maxixe, província moçambicana de Inhambane, assisitiu, no fim de semana, ao lançamento da primeira Bíblia ecuménica traduzida em guitonga.
A obra foi traduzida sob coordenação da Sociedade Bíblica de Moçambique e numa primeira fase foram produzidos quatro mil exemplares.

Este livro sagrado será um importante instrumento de oração e devoção à Deus, sobretudo para os falantes da língua gitonga espalhados pelo país e pelo mundo fora, particularmente para os que residem nos distritos de Jangamo, Maxixe, Morrumbene e a cidade de Inhambane.

Na ocasião, o governador de Inhambane, Daniel Chapo, congratulou a iniciativa, salientando que a Bíblia deve ser assegurada como instrumento de devoção e perdão entre os moçambicanos. 

Para Daniel Chapo, a tradução da Bíblia sagrada em guitonga revela a preocupação na valorização das línguas nacionais, o que é positivo na medida em que os ensinamentos de Deus irão alcançar muito mais crentes, para além de ser um veículo de estudo e aperfeiçoamento da própria língua.

O governador da província de Inhambane, pediu maior envolvimento das confissões religiosas na mobilização da sociedade  para a promoção da paz, concórdia e combate a outros males  que grassam nas comunidades.

Daniel Tchapo falava na cidade da Maxixe perante centenas de crentes de várias igrejas que testemunharam o lançamento da primeira Bíblia ecuménica traduzida em guitonga.

Indicou que a igreja tem um papal soberbo na promoção da moçambicanidade, daí que os crentes devem unir e lançar a semente da paz dos corações dos que criam instabilidade em algumas regiões do país. 


Por seu turno, o director executivo da Sociedade Bíblica de Moçambique, o Reverendo Valentim Tseco, responsável pelo projecto de tradução da Bíblia, fez saber que, o mesmo iniciou em 1978, mas só veio a materializar-se 38 anos depois.


radio moçambique

"Cores do Mundo": festival de exaltação cultural em Maputo

 
A Cidade de Maputo vai acolher o 14º Festival Internacional de Língua e Cultura, no próximo dia 26 do mês em curso. Trata-se de um evento organizado pela Willow International School cujo lema é “Cores do Mundo”.
O festival irá decorrer no Centro Cultural da Universidade Eduardo Mondlane e contará com 50 jovens mo­çambicanos e 70 de países con­vidados.
A iniciativa tem o objectivo de difundir entre os jovens a cultura de paz, união, tolerância, solidariedade e amizade entre os povos de diferentes quadrantes do mundo.
Presente em Moçambique desde 2003, a Willow convidou para o evento cultural 15 países designadamente: EUA, Tunísia, Uganda, Brasil, Alemanha, Ban­gladesh, Roménia, Zâmbia e Bie­lorrússia.
Segundo o Director daquela instituição, Erdal Polat, o festival será um momento único para os grupos culturais de cada um dos países exibir os aspectos princi­pais de sua cultura e língua.
O Festival Internacional de Língua e Cultura servirá para estudantes de diferentes cul­turas partilharem emoções, estabelecer amizade e talvez mudar as suas mentes e con­ceitos acerca da cultura e do mundo, disse.
Num outro momento acres­centou que o festival será uma oportunidade para os estudantes estrangeiros estabelecerem contacto e conhecer Moçambique. Desde o seu povo, línguas, his­tória, cultura, turismo, dado que ao longo da sua estadia terão a ocasião de efectuar visitas a lo­cais de referência para o feito.
Por seu Turno, Asman Yildi­rim, porta-voz do Festival em Moçambique, avançou que tam­bém vão participar do evento crianças e adolescentes do In­fantário 1º de Maio.
Este festival visa criar união entre o mundo pois ac­tualmente vivemos num mun­do global e “sem” fronteiras, disse.

Refira-se que eventos simila­res terão lugar em vários países do mundo ao longo do presente ano. O Grupo moçambicano que irá desfilar no festival de Mapu­to tem convites para actuar nos Estados Unidos da América, Bél­gica, Alemanha, África do Sul, Tanzânia, Romênia, Cazaquistão. ­

domingo

A presença da voz em Niketche de Paulina Chiziane

Por Cristina Mielczarski dos Santos*

Resumo:
Niketche, palavra que dá nome ao livro, é uma dança tradicional do norte de Moçambique. Essa informação cultural e muitas outras são abordadas por meio da narrativa de Paulina Chiziane. A escritora é a primeira a publicar um romance no país, cuja actividade literária é totalmente liderada por homens. O tema que permeia o romance é a poligamia e, nesse contexto, evidencia-se a cultura local por intermédio das lendas e dos rituais de iniciação que fazem parte da tradição oral. Também os provérbios marcam essa presença na linguagem do texto.
“Poligamia é uma rede de pesca lançada ao mar. Para pescar mulheres de todos os tipos. Já fui pescada. As minhas rivais, minhas irmãs, todas, já fomos pescadas. Afiar os dentes, roer a rede e fugir, ou retirar a rede e pescar o pescador? Qual a melhor solução?” - Paulina Chiziane
O termo “oral” vem do latim “os, oris” (BUSARELLO, 2004, p.190), e significa boca, linguagem, enunciado pela voz, que se transmite de indivíduo a indivíduo pela palavra falada, verbal, vocal. Daí o termo oralidade, qualidade do que é oral 1, cuja expressão, segundo o antropólogo Eric Havelock (1995, p.17), caracteriza as sociedades que “se têm valido da comunicação oral, dispensando o uso da escrita”. O autor também afirma que a oralidade é “usada para identificar um certo tipo de consciência, que se supõe ser criada pela oralidade ou que pode se expressar por meio dela” (HAVELOCK, 1995, p.17). Então, de acordo com tais considerações, é interessante observar como se processa esse “tipo de consciência” através da oralidade na Literatura Africana de Língua Portuguesa.
Pode-se dizer que o termo “dispensar o uso da escrita”, em se tratando precisamente de Moçambique2, não é o mais específico. Esse país, na actualidade, apresenta um percentual de 80% de sua população não-letrada e não é simplesmente por opção e, sim, por uma imposição político-social de um território devastado por duas guerras consecutivas: guerra anticolonial (1965-1975) e guerra civil (1976-1992). Entretanto, nesse momento, a discussão em pauta não é sobre política. Tampouco envolve questões como oralidade em oposição à cultura escrita. O escopo é travar um movimento dialéctico entre a escrita e a oralidade. Para tanto, faz-se necessário elucubrar na obra da escritora moçambicana Paulina Chiziane elementos da oralidade como os provérbios, os ditos populares, as expressões quotidianas e máximas constantes no imaginário africano. Conforme esses aspectos, muitos dos provérbios também circulam na tradição oral brasileira.
1. Origens
A oralidade, nos anos 60 do século XX, teve um número significativo de estudiosos que a colocaram em evidência: A galáxia de Gutenberg (The Gutenberg Galaxy), de Mchluhan (1962), O pensamento selvagem (La pensée sauvage), de Lévi-Strauss (1962), As consequências da cultura escrita (The consequence of Literacy), de Jack Goody e Ian Watt (1963) e também Prefácio para Platão (Preface to Plato) de Havelock (1963). Mesmo que tenha sido explorada essa temática em tal década, já em 1928, Milman Parry, com O epíteto tradicional em Homero (L’Epithète tradionelle dans Homère), tinha inaugurado esse género.
Sendo assim, estudos e discussões sobre a Literatura Oral não são recentes e permanecem até à contemporaneidade.
Em 1982, o padre jesuíta Walter Ong, em sua obra “Oralidade e cultura escrita” (Orality and Literacy), destaca o seguinte: denominam-se “culturas de oralidade primária as que se definem por desconhecerem a escrita ou impressão gráfica, e culturas de oralidade secundária aquelas em que a expressão e a criação dependem da escrita e da impressão” (ONG, 1998, p.41). O autor aborda também que a comunicação oral se ampara na alta tecnologia – rádio, telefone, televisão. Nesse contexto, é mais relevante tratarmos do capítulo três, “Sobre a psicodinâmica da oralidade”, do qual constam especificidades do pensamento estruturado em sociedades de cultura oral primária. Segundo Ong (1995, p.42), sem a escrita 2 A taxa de alfabetização, de acordo com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento de 2007/2008.
O índice de alfabetização em Moçambique é de menos de 50 por cento, com quatro dentre cinco mulheres e um de cada três homens incapazes de ler.
 “As palavras em si não possuem uma presença visual, mesmo que os objectos que elas representam sejam visuais. Elas são sons.” O teórico afirma ainda que os povos orais consideram as palavras dotadas de grande poder: “O som sempre exerce um poder” (ONG, 1998, p.41). Ele inclusive aponta inúmeras características do pensamento e da expressão fundados na oralidade. Dentro dessa perspectiva, será dada maior ênfase à estilização formular:
Numa cultura oral primária, para resolver efectivamente o problema da retenção e da recuperação do pensamento cuidadosamente articulado, é preciso exercê-lo segundo padrões mnemónicos, moldados para uma pronta repetição oral. O pensamento deve surgir em padrões fortemente rítmicos equilibrados, em repetições ou antíteses, em aliterações e assonâncias, em expressões epitéticas ou outras expressões formulares, em conjuntos temáticos padronizados, em provérbios que são constantemente ouvidos por todos, de forma a vir prontamente ao espírito, e que são eles próprios modelados para a retenção e a rápida recordação – ou em outra forma mnemónica. (ONG, 1998, p.45)
O autor parte do princípio de que, nessas culturas, a palavra é um produto sonoro que determina “os modos de expressão e os processos mentais”. O questionamento basilar evidencia-se, assim, da seguinte maneira: como os autores empregam elementos característicos da oralidade na literatura escrita?
Sob o viés do antropólogo Amadou Hampaté Bâ, quando falamos de tradição africana, reportamo-nos para a tradição oral: Nenhuma tentativa de penetrar a história e o espírito dos povos africanos terá validade a menos que se apoie nessa herança de conhecimentos de toda a espécie, pacientemente transmitidos de boca a ouvido, de mestre a discípulo, ao longo dos séculos. (HAMPATÉ BÂ, 1980, p.181)
Um dos representantes da tradição oral transmitida de “boca a ouvido” é o provérbio que pertence ao “repertório artístico da textualidade oral” (MOREIRA, 2003, p.170) e que endossa a voz oracular assumindo no texto uma conotação poética.
2.  A oralidade na obra de Paulina Chiziane Paulina Chiziane nasceu em Manjacaze, província de Gaza, sul de Moçambique. Ela é considerada uma das primeiras mulheres a escrever um romance no seu país. No entanto, Chiziane afirma não escrever romances e, sim, estórias. Nas palavras da autora, “sou contadora de estórias e não romancista. Escrevo livros com muitas estórias, estórias grandes e pequenas. Inspiro-me nos contos à volta da fogueira, minha primeira escola de arte.” (CHIZIANE, 2002, contracapa). Sua “contação” de histórias está no sangue, herança de sua avó, que pertencia ao grupo étnico macagandane. A escritora chegou a morar e trabalhar na Zambézia, centro do país.
A escritora escreveu “A balada de amor ao vento” (1990), “Ventos do Apocalipse” (1995), “O sétimo juramento” (1999), entre outros. No entanto, é analisado neste trabalho o romance “Niketche: uma história de poligamia” (2002), cujo nome deriva de uma dança sexual feminina, aprendida pelas meninas durante os rituais de iniciação, para que afirmem ao mundo que são mulheres. A dança macua é originária da Zambézia, região centro de Moçambique. Nessa perspectiva, a autora, no corpo da narrativa, explicita sobre esse ritual: “Niketche. É a dança do sol e da lua, dança do vento e da chuva, dança da criação. Uma dança que mexe, que aquece. Que imobiliza o corpo e faz a alma voar. [...] Movem o corpo com arte saudando o despertar de todas as primaveras. Ao toque do tambor, cada um sorri, celebrando o mistério da vida ao sabor do niketche.” (CHIZIANE, 2004, p.160).
Nesse livro, a autora conta a história do comandante António Tomás, o Tony, e da sua mulher Ana Maria, a Rami. A ficção ocorre no presente, sendo narrada na primeira pessoa por ela, a narradora-protagonista. É por intermédio de sua voz que ouvimos a história dela e também das amantes de seu marido e de tantas outras mulheres que contam suas trajectórias de vida. Seus percalços enquanto indivíduos do sexo feminino ocorrem frente a uma sociedade dividida deste modo: Feminino/Masculino, Matriarcal/Patriarcal, Monogamia/Poligamia, Tradição/Contemporaneidade, Norte/Sul.
O romance é permeado pela cultura africana, com suas lendas, mitos e riquezas da tradição oral. Ao longo da leitura surge um mosaico de culturas: maconde, macua, ronga, tsonga, machangana. O legado dessas culturas é apresentado por intermédio de Rami (etnia ronga) e pelas outras mulheres de Tony: Julieta (sul de Moçambique), Luísa (etnia “xingondo”), Saly (etnia maconde) e Mauá (etnia macua). Elas formam junto com Tony (etnia machangana) “um hexágono amoroso” (CHIZIANE, 2004, p.58).
A tradição oral africana permeia a narrativa. Uma representante dessa cultura é, especificamente, a lenda da princesa Vuyazi, a princesa insubmissa estampada na lua: “Era uma vez uma princesa. Nasceu da nobreza mas tinha o coração de pobreza. Às mulheres sempre se impôs a obrigação de obedecer aos homens. É a natureza. Esta princesa desobedecia ao pai e ao marido e só fazia o que queria. Quando o marido repreendia, ela respondia. Quando lhe espancava, retribuía. Quando cozinhava galinha, comia moelas e comia coxas, servia ao marido o que lhe apetecia. Quando a primeira filha fez um ano, o marido disse: vamos desmamar a menina e fazer outro filho. Ela disse que não. Queria que a filha mamasse dois anos como os rapazes, para crescer forte como ela. Recusava-se a servi-lo de joelhos e aparar-lhe os pentelhos. O marido, cansado da insubmissão, apelou à justiça do rei, pai dela. O rei, magoado, ordenou ao dragão para lhe dar um castigo. Num dia de trovão, o dragão levou-a para o céu e a estampou na lua, para dar um exemplo de castigo ao mundo inteiro. Quando a lua cresce e incha, há uma mulher que se vê no meio da lua, de trouxa à cabeça e bebé nas costas. É Vuyazi, a princesa insubmissa estampada na lua. É a Vuyazi, estátua de sal, petrificada no alto dos céus, num inferno de gelo. É por isso que as mulheres do mundo inteiro, uma vez por mês, apodrecem o corpo em chagas e ficam impuras, choram lágrimas de sangue, castigadas pela insubmissão de Vuyazi” (CHIZIANE, 2004, p.157).
O excerto acima emprega a fórmula clássica para iniciar uma narrativa ficcional: “Era uma vez uma princesa”. A lenda é transcrita em frases curtas, com rimas: nobreza/pobreza/natureza. O tempo verbal utilizado no pretérito imperfeito dá ritmo à narrativa: desobedecia/queria/repreendia/respondia/retribuía. Verificam-se também, por entre as linhas dessa narrativa, os modos de funcionamento do sistema patriarcal: a obediência aos homens – pai e marido, os comportamentos diferenciados relacionados à educação do homem e da mulher, o castigo para a desobediência às tradições, entre outros. Rami, a protagonista, ao longo do romance, irá retomá-los em vários momentos.
Interessante observar que o termo macua “niketche”, o ritual iniciático e a lenda da princesa Vuyazi podem representar a dicotomia cultural pertinente ao norte e ao sul de Moçambique. A dança representa o sul com um posicionamento mais liberal e a lenda representa o norte do país, que segue um modelo paradigmático judaico-cristão, fortemente influenciado pelo patriarcalismo colonial europeu. Essa dicotomia entre Norte-Sul é bem representada nestes trechos:
- Mulheres bonitas só no norte, seus machanganas3! As nortenhas são leves e livres. As nortenhas são belas. As vossas mulheres são pesadas, são grossas, têm o rabo grande de comer tanto amendoim!
A poligamia é um sistema com regras próprias, e, nessa matéria, o sul é diferente do norte [...] - Vocês do norte, são escravos delas. Trabalham a vida inteira só para elas. Até os filhos têm apelido da mãe. Que tipo de homens vocês são?
- E vocês do sul são brutos, tratam as mulheres como bichos. Alguém, neste mundo, sabe que é o verdadeiro pai dos filhos da mulher? O senhor que tanto nos insulta, tem a certeza de que os filhos que diz serem seus o são, de certeza? Na nossa terra, os filhos têm o apelido da mãe, sim.
Pai é dúvida, mãe é certeza. Um galo não choca ovos, nunca. É bom dar a César o que é de César. (CHIZIANE, 2004, p.207).
Nortenhos ou sulistas, cada um quer ser mais alto e chegar primeiro ao umbigo do céu. Cada um quer ser garça, falcão, albatroz, para alcançar mais depressa o alto do monte onde ainda pende um cacho de banana e uma galinha assada no braseiro do mundo. (CHIZIANE, 2004, p.210)
Assim como as lendas e os rituais de iniciação que compõem a tradição oral, formalmente, os provérbios marcam essa presença na linguagem do texto.
3. Provérbio – o poder da palavra. O provérbio, muito embora seja conhecido por muitos em nossa sociedade, enfrenta uma dificuldade imensa quanto à sua definição. Todavia, é feito um pequeno esclarecimento de alguns dos conceitos vigentes para uma maior compreensão a seu respeito nesse contexto.
Conforme Luiz Costa Lima (1974, p.14), destaca-se esta afirmação: 3 Machanganas: uma das etnias tsonga.
A armadura simples do provérbio permite, por conseguinte, que ele seja manejado com facilidade pelo falante; sua formação poética promove a sua retenção; a sabedoria que contém, sua aplicação a um número indefinido de situações. Pelo provérbio, com efeito, é todo um saber comunal que, elipticamente, se precisa e condensa.
Muitas definições possuem traços em comum. Tal como consta no Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa (2001, p.2321), o provérbio é uma “frase curta, de origem popular, com ritmo e rima, rica em imagens, que sintetiza um conceito a respeito da realidade ou uma regra social ou moral. Provérbio, adágio, dito, ditado, rifão, máxima.”
Também Helena Duarte (2006, p.32), após muitas pesquisas, define assim o provérbio: “Um enunciado cristalizado, pertencente ao património linguístico, mas de autoria anónima, transmitido oralmente, ao qual subjaz uma verdade de carácter geral e cuja autonomia sintáctica permite a sua conexão com as múltiplas situações em que se aplica.”
Logo, sabemos que o provérbio é considerado um texto tradicional como os mitos e os símbolos. Possui inúmeros traços que o definem: origem remota e anónima, conteúdo metafórico, carácter diacrónico, valor semântico de verdade universal. O seu carácter rítmico e sua formulação facilitam a memorização, como elucida Ong (1998, p.45-46) nessa passagem:
As fórmulas ajudam a implementar o discurso rítmico, assim como funcionam, por si só, como apoios mnemónicos, como expressões fixas que circulam pelas bocas e pelos ouvidos de todos [...] “Dividir para conquistar.” “Errar é humano, perdoar é divino”. [...] Fixas, muitas vezes ritmicamente equilibradas, expressões desse e de outros tipos podem ser ocasionalmente encontradas impressas; na realidade, podem ser “procuradas” em livros de adágios, mas nas culturas orais não são eventuais, são constantes. Elas formam a substância do próprio pensamento. Sem elas, este é impossível em qualquer forma extensa, pois é nelas que consiste.
Nessas culturas orais, a própria lei está encerrada em adágios formulares, provérbios, que não constituem meros adornos jurídicos, mas são, em si mesmos, a lei.
Dominique Maingueneau, por intermédio de sua perspectiva linguística, assevera-nos que o indivíduo, ao utilizar o provérbio, “toma sua asserção como o eco, a retomada de um número ilimitado de enunciações, anterior do mesmo provérbio”, como vemos:
O provérbio representa um enunciado limite: o “locutor” autorizado que o valida, em lugar de ser reconhecido apenas por uma determinada colectividade, tende a coincidir com o conjunto defalantes da língua, estando aí incluído o indivíduo que o profere. Este último toma sua asserção como o eco, a retomada de um número ilimitado de enunciações, anteriores do mesmo provérbio. (MAINGUENEAU: 1989, p.101)
Esse eco possui, portanto, o saber da tradição oral. Reactivá-lo na escrita significa reactivar no texto esse conhecimento, que modela, (re)cria ou, simplesmente, usa o provérbio para complementar uma afirmação.
In Nau literária: Dossiê: literaturas africanas de LP
*Cristina Mielczarski dos Santos - Mestranda em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), na área de Literaturas Portuguesa e Luso-Africana.

jornal notícias de maputo








Angola ratifica carta da Renascença Cultural africana

 

O parlamento angolano ratificou a Convenção sobre a Carta da Renascença Cultural de África, adoptada pelos Chefes de Estado e Governo da União Africana em Janeiro de 2006.

A Carta da Renascença Cultural de África, que substitui a Carta Cultural de  África, permite incrementar nos Estados Membros, o espírito do Pan-africanismo, assim como reforçar as suas políticas nacionais no domínio das artes e da cultura de forma a contribuir para a integração sócio -económica e cultural do continente.
 De  acordo com o documento, a Carta da Renascença Cultural de África assenta nas premissas de que a cultura constitui  para os povos africanos o meio mais seguro de promover o desenvolvimento tecnológico e a resposta  mais eficiente aos desafios da globalização.
Com esta ratificação, Angola  pretende encorajar a cooperação cultural entre os países africanos, com vista ao reforço da unidade  africana, bem como  encorajar o diálogo  entre culturas,  promover , em cada país, a popularização da ciência e da tecnologia, incluindo sistemas do conhecimento  tradicional como condição para uma melhor compreensão  e preservação do património cultural e natural, lê-se no documento.
Encorajar a cooperação cultural internacional para uma melhor compreensão entre os povos dentro e fora de África , reforçar o papel da cultura na promoção da paz e da governação , assim como desenvolver todos os valores dinâmicos  da herança cultural africana que promova os direitos do homem, a coesão social e o desenvolvimento humanos, são outros dos objectivos preconizados por Angola.
Na opinião das autoridades angolanas, a Carta da Renascença Cultural de África permitirá a afirmação da identidade cultural de todos os povos de África nomeadamente das línguas nacionais, da assistência à criação e expressão artísticas, da cooperação  cultural inter-africana e diáspora africana.
O documento defende o desenvolvimento das línguas africanas, a fim de garantir o seu avanço cultural e aceleração  do seu desenvolvimento económico e social do continente, a implementação  de reformas para a  introdução de línguas africanas no currículo de educação  tomando em consideração  os requisitos da coesão  social, do progresso da tecnologia e da integração  regional africana.
Aponta ainda o estabelecimento de instituições e estruturas que promovam  o reforço da criatividade e expressão artística,  a prestação  de assistência  financeira e técnica e de outras formas de apoio  para estimular a criação e a expressão artística, de preferência através do estabelecimento de fundos  nacionais  para a promoção da cultura e das artes.  

angop

segunda-feira, 14 de março de 2016

Livro de Paulina Chiziane inspira seriado para TV

 


“Niketche: A Rainha das Divas” é o título de um seriado para televisão adaptado do célebre livro da escritora moçambicana Paulina Chiziane. O seriado televisivo foi produzido pelo cineasta brasileiro Joel Zito Araújo.
Com um elenco de luxo composto pelas actrizes brasileiras Adriana Lessa, Sheron Menezes, Érica Januza, Roberta Valente, Juliana Alves, Cristina Lago e Léa Garcia, “Niketche: A Rainha das Divas” conta com a participação do actor angolano Ery Costa, um dos protagonistas da telenovela “Windeck”.
O roteiro do seriado foi escrito pela brasileira Luiza Botelho Almeida e pela norte-americana Shelley Meals e narra uma história que decorre no interior do Brasil, onde uma esposa moçambicana traída pelo seu marido se vinga de uma forma original, impondo as tradições da poligamia africana. 
Inspirado na obra original, cujo título do romance é “Niketche – Uma História de Poligamia”, o seriado tem como personagem principal Rami, mulher casada, honesta e dedicada à família, que toma conhecimento da traição do seu marido, Tony.
Surpreendentemente, descobre que não se trata somente de uma amante, mas de várias, nomeadamente Julieta, Luísa, Saly e Mauá. Descobre também os dezassete filhos do marido. Então Rami decide conhecer cada uma delas.
Esta é a primeira vez que a obra de Paulina Chiziane é adaptada para a televisão, depois de ter sido transformada em peça teatral pelos grupos Mbeu e Luarte.
“Niketche” deu também origem ao primeiro musical moçambicano, criado pela Associação dos Atletas de Dança Desportiva (AADD).  
O livro, lançado em 2003, não é um romance feminista, mas aborda questões ligadas à mulher. A obra inscreve-se numa linha de narrativa feminina africana de crítica à poligamia.
Paulina Chiziane, autora do romance, é para além de uma das vozes mais sonantes da literatura moçambicana uma figura carismática na transmissão de valores aos mais jovens.

Publicou os livros “Balada de Amor ao Vento” (1990), “Ventos do Apocalipse” (1993), “O Sétimo Juramento” (2000), “Niketche: Uma História de Poligamia” (2002), “O Alegre Canto da Perdiz” (2008), “As Andorinhas” (2009), “Na Mão de Deus” (2013) e “Por Quem Vibram os Tambores do Além” (2013).

notícias de maputo

quarta-feira, 9 de março de 2016

Antologia poética angolana no feminino


 
O Canto da Kianda” é o título de uma antologia poética escrita apenas por mulheres a ser lançada no dia 16, próxima quarta-feira, às 18.00, no átrio da Mediateca de Luanda, pela Editora Acácias e o Movimento Literário Lev´Arte.

Com 84 poemas e 156 páginas, assinados por 17 mulheres, a antologia comporta, entre outros temas, a constante luta por uma justiça social que fortaleça a democracia, o questionar dos códigos comportamentais pré-estabelecidos para a mulher, a desilusão do amor e o sofrimento carregado em silêncio, bem como o assumir, em tom de desafio, de uma identidade feminina independente, com vontade e querer próprios.

Lueji Dharma, que prefaciou a colectânea, disse que a antologia reúne um conjunto de poemas que celebram o papel relevante das mulheres no mundo das letras, na medida em que traz para o universo dos leitores uma visão dos ambulantes em corpos de mulher.

“Os poemas propostos por elas, nessa antologia, vão permitir ao leitor descobrir a compaixão mesmo na dor, o desencanto da ingenuidade, a fé apesar dos pesares e a mátria urdida em silêncios, infidelidades, milagres e mistérios divinos”, disse, acrescentando que a obra é, também, mais uma antologia que nasce no feminino no coração, vivência e imaginação das dezassete autoras.

O secretário executivo do movimento Lev´­Arte, Kiocamba Cassua, disse que o livro homenageia as mulheres de todo o mundo. “Procuramos dar voz à mulher poetisa no sentido de expressarem os seus sentimentos e  suas visões sobre o mundo”, disse. Kiocamba Cassua realçou  que todos os poemas são inéditos e a maioria das autoras, com  excepção de Ngonguita Diogo, Mira Clock, Katya Santos, Elisângela Rita e Iracema Cordeiro,  são estreantes.  


Com uma tiragem inicial de 1.500 exemplares, a antologia é apresentada por Lueji Dharma.
“Canto da Kianda” é a segunda antologia do Movimento Lev´Arte e contou com a participação de Ngonguita Diogo ,Suzana Diogo, Djola Guise, Maria Tavares, Helena Dias, Elisângela Rita, Iracema Cordeiro (Popoleta), Sandra Pimentel, Georgina Macuba, Maria Tavares, Hondina Rodrigues, Paula Ribeiro, Alice Cruz, Antónia Soma, Delmira Dinis, Mira Clock e Katya Santos.

jornal de angola

segunda-feira, 7 de março de 2016

Samora Machel por Kok Nam retrata história de Moçambique


SAMORA MACHEL por Kok Nam é o título do livro de fotografias lançado sexta-feira última, 4, em Maputo,  uma compilação de fotos com citações de frases históricas do primeiro Presidente de Moçambique e depoimentos de algumas personalidades.

É uma obra a preto e branco, com perto de setenta fotografias de Samora Machel captadas por Kok Nam, um ícone da fotografia que faleceu em 2012.

Khok Nam deixou um acervo fotográfico do qual fazem parte conjuntos de fotos que documentam importantes fases do início da história de Moçambique Independente, que vão desde a fase de nacionalizações, passando pela guerra de libertação da Rodésia do Sul, hoje Zimbabwe, criação de cooperativas agrícolas e aldeias comunais, até à guerra civil que dilacerou Moçambique durante 16 anos.

RM

Série de TV identifica ancestralidade africana de brasileiros


A Cine Group produziu uma série televisiva que investi­ga e exibe as origens dos afrodescendentes, assim como mostra a importância dos afri­canos no Brasil. Ao todo, foram 150 pessoas que fizeram testes de DNA para descobrir as suas origens através da sua ancestralidade.
Mais de 220 etnias africanas es­tão registadas no banco de dados do laboratório responsável pelos testes, que fica em Washington, nos Estados Unidos. De cada Es­tado, Rio de Janeiro, Bahia, Mara­nhão, Minas Gerais e Pernambu­co, uma pessoa foi escolhida para visitar o "seu" povo em África e Levi Lima foi um dos escolhidos para visitar África, concretamente Mo­çambique.
O exame de DNA de Levi Lima, natural do Brasil, revelou que os seus ancestrais eram macua, descendentes de Moçam­bique falantes de Emakuwa a língua local. Segundo Levi, essa ancestralidade moçambicana revela uma ligação entre os afro­descendentes pelo mundo, pois ele nunca imaginou ser de Mo­çambique, embora a sensação de ter o seu lado Africano seja boa.


 O PAIS

Exposição de pintura no feminino em Luanda





As artistas plásticas angolanas Erika JâmeceLeda Baltazar e Patrícia Cardoso  participam numa exposição colectiva em Luanda, desde quarta-feira, dia 2 , em saudação ao Março Mulher.

Cada artista tem expostas 16 telas que podem ser vistas até ao dia 10 na sede da petrolífera Total sob o título “Elas Expõem” .

  jornal de angola