quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Festival Internacional da Moda Africana


Depois de adiado, por causa de ameaça terrorista, a décima edição do FIMA, Festival Internacional da Moda em África (que devia ter lugar entre 25 e 29 de Novembro, em Niamey, Níger), poderá ter lugar proximamente em Abidjan, capital da Costa do Marfim.

Description image
O estilista nigerino Alphadi, organizador do evento e presidente da Federação Africana dos Criadores de Moda, anunciou que se reuniu com o ministro marfinense de Integração Africana e da Diáspora marfinense, a quem apresentou o projecto e com o qual voltará a reunir-se brevemente para estudar as possibilidades do estado marfinense apoiar o certame.
KikoRomeo
O evento tem previsto reunir centenas de criadores, manequins e celebridades de todo o mundo, onde se destacam as estrelas do futebol africano Samuel Eto’o e Yaya Touré, o actor português Joaquim de Almeida, a cantora nigeriana Yemi Alade, num total de 350 estilistas, manequins e personalidades do Show-biz e dos médias.
Xuly Bët

Para este mega evento, que abrange também concertos, para além dos desfiles, esperam-se mais de três mil participantes de todo o mundo.

jeune afrique

"Existimos porque temos línguas" - governante moçambicano


Por Eliseu Bento
 
O Professor catedrático Armindo Ngunga, actual vice-ministro da Educação e Desenvolvimento Humano, defendeu que o povo moçambicano existe enquanto tal pelo facto de ser detentor de suas línguas.
Armindo Ngunga falava há dias na cidade da Beira, durante o lançamento do livro “Elementos de Linguística Teórica e Descritiva das Línguas Bantu”, obra na qual participa como editor.
Na ocasião, o académico recordou que as línguas moçambicanas sofreram humilhações, algo que foi aconteceu ao longo de vários séculos, com o sistema colonial então instalado a recusar reconhecer o valor das línguas nacionais.
“Vivemos muitos anos em que, de tanto sermos oprimidos, não aceitamos ser livres. A nossa mente e inconsciente traem-nos e dizem a verdade sobre nós mesmos. As línguas são a alma colectiva de um povo”, anotou, adiantando que: “Nós existimos como povo, no caso de Moçambique, mas só o somos porque temos as nossas línguas”.
Bem ao seu estilo, descontraído, e como que a querer relaxar igualmente a imensa plateia maioritariamente composta por estudantes das línguas bantu, o Professor Catedrático afirmou que “quem não fala uma língua nacional não faz campanha eleitoral. E se o faz não ganha as eleições. E o pior é que quando ganha as eleições depois divulga os resultados em português”, brincou, perante os aplausos aprovativos dos presentes.
Armindo Ngunga foi mais longe, afirmando que: “Vamos desenvolver as nossas línguas que nos dão o voto, ou as línguas que usamos quando vamos ao médico de que não falamos de dia”.
O Professor recordou que a língua encerra o conhecimento universal.
Falando mais particularmente das nossas línguas, Ngunga fez um vigoroso apelo para a sua investigação e preservação tendo em consideração que há muito conhecimento que se perde porque os moçambicanos não sabem usar as suas línguas. E mais, elas não estão documentadas.
Deu o exemplo de uma criança que antes de ir à escola sabe contar até 30 e sabe mesmo somar e multiplicar, na língua dos seus pais, mas quando vai a escola formal tem que começar tudo do zero.
A propósito, fez questão de sublinhar que a língua é um meio de acesso ao conhecimento.
Um outro reparo feito por Armindo Ngunga  é o de que o conhecimento que temos nas nossas línguas tem sido passado de pessoa para pessoa, ao longo de várias gerações. Não se escreve. Ou seja, os moçambicanos não são abertos em relação ao seu próprio conhecimento.
O académico manifestou igualmente o seu desacordo perante o tratamento que, em algumas circunstâncias, tem sido dado a língua portuguesa que é considerada como uma língua moçambicana.
“Existe a língua portuguesa e existem as línguas moçambicanas”, defendeu Ngunga, dando como exemplo o Brasil onde em determinada altura se debateu sobre a existência do brasileiro como língua.
“Não há brasileiro. Há língua portuguesa, como há língua portuguesa e há as línguas moçambicanas”, frisou.
O académico lamentou o facto de em Moçambique ainda haver muito conhecimento que não está estudado e sistematizado e que, na sua opinião, podia ser bastante útil no desenvolvimento do país nas suas mais variadas vertentes.
“O problema também é que nós vamos a universidade ocidental e depois ensinamos também a ciência europeia. Mas é verdade que eles não sabem o que nós sabemos, mas nós sabemos o que eles sabem. Quem disse que a gente não tem ciência?”, interrogou.

UM PAÍS LINGUISTICAMENTE DEMOCRÁTICO
O livro “Elementos de Linguística Teórica e Descritiva das Línguas Bantu” foi primeiramente lançada na cidade de Maputo no passado dia 3 de Dezembro.
Na ocasião, o vice-ministro da Educação e Desenvolvimento Humano dirigiu um seminário nacional sobre as línguas Bantu, no qual abordou temas como “Metodologia de Ensino Bilingue” e “Línguas de Sinais”. Participou igualmente em duas cerimónias de graduação de 1090 novos professores primários.
O livro foi apresentado pelo director da Faculdade de Ciências Sociais e Humanidades da Universidade Zambeze (UniZambeze), Martins Mapera que nas suas notas introdutórias disse que este lançamento era também uma espécie de apelo à necessidade de aprendermos e ensinarmos as línguas moçambicanas.
“Moçambique é um país rico e linguisticamente democrático”, resumiu o académico.
Fez saber que o livro, que reputou de “fabuloso”, estava estruturado em seis capítulos compostos por dissertações de mestrado de oito estudantes sendo que o professor Armindo Ngunga se encarregou pela sua edição.
Martins Mapera considerou também que “Elementos de Linguística Teórica e Descritiva das Línguas Bantu” lançava um apelo sócio-metodológico muito importante num país multilingue como é o caso de Moçambique.

“O nosso destino comum é o futuro”, concluiu.

jornal notícias de maputo

sábado, 26 de dezembro de 2015

Filme argelino sobre Mandela estreia em 2016




O filme Mandela's Gun, que retrata a vida e o percurso do primeiro Presidente negro da África do Sul, Nelson Mandela, terá a sua estreia no inicio de 2016, anunciou, em Argel, o ministro argelino da Cultura, Azzeddine Mihoubi, no termo de uma reunião com o seu homologo sul-africano das Artes e da Cultura, Mathi Mthethewa, em visita à Argélia.

O filme, argelino-britânico, realizado pelo inglês John Ervin e pronto a 95%, constitui «um testemunho histórico importante, porque revela uma etapa da luta de Mandela na Argélia», acrescentou Mihoubi.

Por seu turno, o ministro sul-africano congratulou-se com as relações de amizade entre a Argélia e a África do Sul e com o papel que desempenham os dois países no plano continental, sublinhando a necessidade de salientar o património cultural dos dois países nos projetos comuns, como o filme sobre Mandela.

Lembrou, a propósito, o acordo assinado entre os dois países relativo a vários domínios, incluindo um programa de intercâmbio cultural.

noticias de maputo


Nova colecção de clássicos da literatura angolana

A terceira colecção dos 11 clássicos da literatura angolana lançada, segunda-feira, em Luanda, em simultâneo com outra, intitulada clássicos infantis,  inclui os livros: “O canto do matrimónio”, do escritor Ernesto Lara Filho, “Ondula, savana branca”, de Ruy Duarte de Carvalho, “Poemas”, de Alexandre Dáskalos, “Undengue”, de Jacinto de Lemos, e “Chuva Novembrina”, de José Luís Mendonça.

Consta ainda da lista, organizada pelo Gabinete de Revitalização e Execução da Comunicação Institucional e Marketing da Administração de Angola (GRECIMA), “Terra morta”, de Castro Soromenho, “Ritos de passagem”, de Ana Paula Tavares, “O feitiço da rama de abóbora”, de Cikakata Mbalundo, “Subscrito a giz”, de David Mestre, “Nzinga Mbandi”, de Manuel Pedro Pacavira, e “Baixa & Musseques”, de António Cardoso.
Já na primeira colecção de clássicos infantis foram editados os livros “E na floresta os bichos falaram”, da escritora Maria Eugenia Neto, “O país das mil cores”, de Octaviano Correia, “Lutchila”, de Rosalina Pombal, “Kibala, o rei leão”, de Gabriela Antunes, e “A árvore dos gingongos”, de Maria Celestina Fernandes.

Constam também os clássicos infantis “Duas histórias”, de Zaida Dáskalos, “As sete vidas de um gato”, de Dario de Melo, “A velha sanga”, de Cremilda de Lima, “Fábulas de Sanji”, de António Jacinto, “O circulo de giz de bombo”, de Henriques Guerras, e “A viagem das folhas de caderno”, de Maria João Chipalavela.

angop

Manuel Rui escreve livro de poesia para crianças


"Duas Abelhas Amigas de Um Girassol", é a nova obra literária de Manuel Rui, cujo lançamento está para breve.

“Duas Abelhas Amigas de Um Girassol” é um livro de poesia infanto-juvenil cuja realidade interna exala a polida sensibilidade do poeta Manuel Rui.
“Com a sua mestria e forma singular de captar momentos, leva-nos a ouvir sons de liberdade produzidos pelo bater das asas de abelhas vaidosas que, no labor diário, sugam o néctar dos girassóis e poetizam a existência, sublinha a editora da obra, Mayamba Editora. 
Manuel Rui nasceu no Huambo, planalto central, em 1941. Licenciou-se em Direito na Universidade de Coimbra, Portugal, onde desenvolveu advocacia e foi membro fundador do Centro de Estudos Jurídicos e redactor da revista de cultura e arte Vértice.
Ainda co-autor do suplemento Sintoma do Jornal do Centro e membro da editora Centelha. Figura incontornável das artes angolanas, ao longo da sua vida de escrita, Manuel Rui manteve ainda, sempre, uma estreita colaboração com diversos jornais e revistas de renome, desde os tempos de Coimbra, no triângulo da Língua Portuguesa entre Angola (Jornal de Angola, Diário de Luanda, entre outros), Portugal (Público, Jornal de Letras) e Brasil (Terceiro Mundo).
Foi fundador das edições Mar Além, onde foi editada a Revista de Cultura e Literatura dos Países de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), e fundador e subscritor da proclamação da União dos Escritores Angolanos (UEA), bem como da União dos Artistas e Compositores Angolanos e da Sociedade de Autores Angolanos. Manuel Rui, ensaísta, cronista, dramaturgo, poeta, é igualmente  autor do Hino Nacional de Angola e de outras canções nacionais. 
A sua vertente literária inclui uma vasta obra de textos de poesia e de ficção publicados desde 1967 até à presente data. 
É autor do primeiro livro de poesia e do primeiro livro de ficção publicados em Angola após a independência. Galardoado com váriosprémios, recebeu o Prémio Caminho das Estrelas 1980, pela emblemática obra Quem Me Dera Ser Onda, já adaptada para teatro em vários países, nomeadamente em Portugal, Angola, Moçambique e Cabo Verde e recentemente publicada pela Mayamba Editora.
Em 2003, foi galardoado com o Prémio Nacional de Cultura na área da Literatura pelo conjunto da sua obra. Prémio que o autor renunciou.
Os seus textos encontram-se traduzidos para umbundu, alemão, espanhol, hebraico, finlandês, italiano, servo-croata, sueco e russo.
Obras de Manuel Rui
Poesia
Poesia Sem Notícias
A Onda  
11 Poemas em Novembro: Ano Um.  
11 Poemas em Novembro: Ano Dois.  
11 Poemas em Novembro: Ano Três.
Agricultura.
11 Poemas em Novembro: Ano Quatro.  
11 Poemas em Novembro: Ano Cinco.  
11 Poemas em Novembro: Ano Seis.
11 Poemas em Novembro: Ano Sete.
Assalto.  
Ombela  
O Semba da Nova Ortografia.

Prosa  
Regresso Adiado Lisboa  
Sim Camarada!.  
Luanda: Cinco Dias depois da Independência.
Memória de Mar.  
Quem me dera ser Onda.  
Crónica de um Mujimbo.  
Um Morto & Os Vivos.
Lisboa  
Rio Seco  
Da Palma da Mão
 Saxofone e Metáfora  
Um Anel na Areia. Nos Brilhos.
Luanda  
 Conchas e Búzios.  
O Manequim e o Piano  
Estórias de Conversa  
A Casa do Rio
Janela de Sónia.

Teatro
O Espantalho (Obra inspirada na tradição oral e representado por trabalhadores da construção civil da cidade do Lubango)

Meninos de Huambo.
angop

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Escritora marfinense lança em Luanda livro sobre massacre do Rwanda

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A escritora marfinense Véronique Tadjo vai lançar no próximo sábado, na União dos Escritores Angolanos (UEA), em Luanda, a sua obra literária intitulada "A sombra de Imana", a ser apresentada pelo ensaísta angolano Luís Kandjimbo.


O livro, uma co-edição da UEA e da Texto Editora, traduzido em português uma sátira ao genocídio ocorrido no Rwanda, de 6 de Abril a 4 de Julho de 1994.

Para Véronique Tadjo, A Sombra de Imana é uma prova da capacidade da literatura em dar um novo olhar sobre o passado e ajudar as pessoas a reaprenderem a viverem juntas e em harmonia”.
A sombra do Imana, que escreveu depois das suas duas estadas na capital rwandesa, Kigali (1998 e 1999), é resultado dessa experiência. A primeira parte fala do contacto com os Rwandeses e da descoberta dos lugares do genocídio. A segunda parte centra-se nas questões relacionadas com a natureza humana, como, por exemplo, a ignorância que manifestamos em relação ao nosso eu: quem somos e o que somos capazes de fazer? Para Tadjo, era importante fazer estas perguntas, porque a barbárie dos massacres, «o Ruanda está em cada um de nós».
O problema étnico é real no continente africano. Tadjo diz que, como escritora, não pode ignorá-lo. Tanto mais porque na raiz da profunda crise que a Costa do Marfim enfrenta está o conceito de «ivoirité». Este termo foi criado pelo antigo presidente costa-marfinense Henri Konan Bédié, em 1995. O sentido que lhe quis dar foi o da identidade cultural comum a todos os que vivem na Costa do Marfim, apelando, especialmente, aos estrangeiros, que representam um terço da população. Mas, posteriormente, frisou-se a questão de quem é da Costa do Marfim e quem não é. Ou seja, quem é costa-marfinense de verdade. E, presentemente, ivoirité está associado à actual guerra civil étnica.
A ideia de legitimidade atribuída aos nacionais e consequente exclusão dos estrangeiros tem fracturado a sociedade da Costa do Marfim. No entanto, o país prosperou em grande parte graças à força de trabalho de imigrantes, oriundos principalmente de Burkina-Faso, Mali e Guiné. Estes instalaram-se e os filhos deles nasceram no território. Então, a questão de identidade e a pergunta «Como podemos viver juntos hoje?» inspiraram Véronique Tadjo a escrever Reine Pokou, concerto pour un sacrifíce, em 2005. Esta obra valeu-lhe, nesse ano, o Grand Prix Littéraire d’Afrique Noire.

Poeta, romancista e autora de livros infanto-juvenis, que ela própria ilustra. Dá vida ao seu sonho de contribuir para o surgimento da literatura africana para as crianças, reinterpretando mitos e lendas e analisa pessoas e acontecimentos de hoje à luz dos heróis antepassados.

Filha de mãe francesa e pai costa-marfinense, Véronique Tadjo, 60 anos, doutorada em Civilização Afro-Americana pela Universidade de Sorbonne, Paris IV, é poeta, romancista e ilustradora. Nasceu em Paris, cresceu na Costa do Marfim, vive na África do Sul.

No seu romance, Loin de mon père («Longe do meu pai»), editado em 2010, aborda o difícil retorno de uma costa-marfinense ao seu país natal por medo do peso da tradição.
Não é uma obra autobiográfica, embora pudesse sê-lo. Véronique Tadjo leva uma vida errante: já passou pela Nigéria, Quénia, Estados Unidos, México e Grã-Bretanha, até que se instalou em Joanesburgo, na África do Sul. Vive longe de Costa do Marfim desde 1993.

Em Loin de mon père, ela conta a história de Nina, uma jovem mulata que decidiu morar em França, o país da sua mãe. Após uma longa ausência, ela retorna à sua terra natal, onde cresceu. Todavia, a Costa do Marfim mudou e Nina acaba por se sentir estrangeira na sua pátria.

Por outro lado, em Reine Pokou, a escritora analisa igualmente a natureza do poder e da violência. O sacrifício de Pokou poderia ser comparado ao das mulheres a quem é pedido, tantas vezes, que «sacrifiquem» os seus filhos, enviando-os para a guerra em nome de uma «causa justa». Hoje, Tadjo interroga-se se as crianças-soldados não são uma ilustração contemporânea desse sacrifício.

Segundo a lenda, a rainha Pokou foi obrigada a fugir do grande reino ashanti (no actual Gana) após uma guerra de sucessão. Quando, na fuga, ela e o seu séquito tiveram de interromper a marcha ao depararem com um rio grande, o Comoé, os adivinhos pediram a Pokou que lançasse o seu filho às águas, a fim de salvar o seu povo. E foi isso o que ela fez. As águas separaram-se e a comitiva pôde avançar. Mais tarde, Pokou fundou o reino baulé (termo que deriva de «baouli», que significa «o menino morreu»).

Historicamente, os antepassados dos Baulé têm raízes para lá das fronteiras da Costa do Marfim, contudo, eles são reconhecidos como os costa-marfinenses por excelência. Isso leva a relativizar a ideia de pertença étnica. Comenta Tadjo: «A personagem da rainha Pokou suscitou-me várias perguntas: será Pokou uma heroína ou uma mulher disposta a fazer qualquer coisa para conseguir o poder?» E acrescenta: «Pokou fez-me pensar sobre quem são os nossos heróis e se eles merecem sempre o estatuto de herói. É uma pergunta que continuo a fazer no novo romance que estou a escrever, mas esta história foca mais o tema da transformação pessoal.»

Tadjo encontra uma grande liberdade de expressão na literatura infanto-juvenil. Nos seus dez livros para crianças, foca temas que o público adulto pode encontrar nos seus romances e poemas. Simplesmente, trata-os de outro ângulo. Por exemplo, no livro Ayanda, la petite fille qui ne voulait pás grandir (2007) fala da guerra e da dificuldade de superar a perda de alguém a quem se quer como a um pai. Ayanda recupera a alegria de viver apenas indo ao encontro dos outros. E a obra mais recente é Mandela, non à l’apartheid.

A própria Tadjo ilustra a maior parte dos seus textos, porque acredita que isso lhe permite criar um universo coerente. O desenho torna-se outra forma de escrita, mais directa, mais física. As imagens são, em si mesmas, independentes. Doam algo.
O seu segundo livro, Mamy Wata et le monstre, ganhou o Prémio UNICEF em 1993.

angop, além-mar

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Retrato literário da guerra moçambicana

 
Guerra. Ele viveu a guerra civil de frente. As suas mãos manejaram uma arma de fogo. Os seus dedos tocaram no gatilho por várias vezes. O seu corpo conhece os tremores que o medo da morte traz. Os seus olhos viram imagens que hoje lhe trazem dor e perturbam o seu sossego.
Augusto Macaba esteve na frente de combate e hoje combate a violência, através da escrita, mostrando os vários caminhos que ela tomaO livro“Caminhos da Violência” é a sua primeira obra, lançada recentemente em Maputo sob chancela da editora Ndjira.
Durante mais de 20 anos, batalhou para encontrar tempo para escrever, lutou para a publicação e isso só foi conseguido finalmente este ano.
O romance inicia com Zeca, personagem principal, aceitando o chamamento da Nação: “A pátria chama por nós”. Existe uma relação entre o percurso de Macaba na guerra e as trilhas a que Zeca nos conduz na obra.
A guerra de Augusto Macaba
Macaba foi a tropa em 1979. “Tinha 17 anos, meu nome foi indicado para o Serviço Militar Obrigatório (SMO). Era um imperativo nacional. Frequentava a 7.ª classe na Escola Secundária Josina Machel, cidade de Maputo. Fiquei abalado. Falei com o meu pai e ele tranquilizou-me. Disse que seria apenas por dois anos”, narra, com certa tranquilidade.
As informações sobre o decurso da guerra não chegavam à cidade devido à condição da época: os meios de comunicação (rádio, televisão, jornais, telefones) ainda não eram tão desenvolvidos como agora. Quando chegou à localidade de Malova, distrito de Massinga, província de Inhambane, o clima era outro: guerra. Macaba teve de combater. E como combateu!
“A guerra é um terror absoluto. A guerra não presta”, disparou, visivelmente incomodado.
No ano de 1984, Macaba saiu da guerra. Ele argumenta que foram os problemas de saúde que o tiraram do fogo cruzado. “Tenho um problema de saúde crónico: hérnia discal na coluna cervical. São coisas que doem muito”, conta.
Quando regressou à casa, vivo, sem nenhuma lesão corporal, a família acolheu-o e a mãe disse, religiosamente: “As minhas preces resultaram”.
Lembranças. Sim, foi com base nas recordações dos momentos trágicos da guerra e uma grande dose de imaginação que Macaba redigiu a obra. As recordações mexem nele, perturbam, ferem, mas são um mal necessário.
Depois da guerra, ele não mais retornou aos locais em que combateu. “Sinto nostalgia. Até tenho vontade, mas talvez um dia”.
Ficção ou realidade, realidade ou ficção
O Real e o imaginário confundem-se em “Caminhos da Violência”. Macaba mesclou os momentos que viveu na guerra e conferiu um toque de ficção para dar outro sabor à sua primeira obra.
Zeca, o personagem elementar do romance, é o epicentro de toda essa fusão. Podemos dizer que Zeca é a personificação da passagem de Macaba na guerra. O seu trajecto é similar a do autor, exceptuando alguns aspectos, como o facto de Zeca continuar na guerra até ao seu fim.
“Zeca é a encarnação do sofrimento da guerra. Do teatro macabro da guerra. É a imagem do sofrimento, da dor, do caos, da resistência, da sobrevivência. Zeca é o espelho da tristeza: um milhão de moçambicanos mortos e milhões de moçambicanos deslocados”, anota o escritor.
Como um repórter de guerra, Macaba, através de Zeca, imerge no cenário de guerra e narra os factos: “Inicialmente pensei em contar a estória na primeira pessoa, mas com o passar do tempo optei por narrar na terceira pessoa, pois possibilita maior abrangência”. Em termos práticos, possibilita manipular as personagens a seu bel-prazer.
Na obra, o autor investiu nos diálogos. O romance é cheio de conversas. Os diálogos dão outra dinâmica à estória.
Na guerra, o amor não tem espaço mas, em “Caminhos da Violência”, Macaba conseguiu arranjar um: “O amor dá musicalidade e melodia ao romance. É o tempero necessário para uma bela estória”.
O autor desta obra conhece a gramática da guerra, todos os vocábulos e regras que a compõem. No seu percurso, neste acontecimento histórico, Macaba participou num número considerável de operações.
Mas uma operação não sai da sua cabeça e, para eternizá-la, transportou-a para o livro: A “Operação Quinquagésimo Aniversário”.Foi algo marcante. Esta operação tinha como finalidade vencer a guerra e oferecer esta vitória ao então Presidente Samora Machel, pelo seu quinquagésimo aniversário natalício. Nesta operação, várias bases do adversário caíram”. Mas a intenção não foi alcançada. E a guerra continuou.

Sem ideologias
A Guerra é uma chacina. Indivíduos matam-se e usam a ideologia como desculpa. Irmãos derramam sangue por causa das suas diferenças e, no fim, percebem que o sangue que jorra dos seus corpos é igual.
“Na guerra, o vencedor é o perdedor. Os intervenientes perdem com a guerra: vários dos seus soldados morrem. O povo perde com a guerra, escolas são destruídas, hospitais são destruídos, infra-estruturas são destruídas. Enfim, o país perdeu com a guerra civil”, sublinha.
Em Macaba, o lado humano sobrepõe-se ao ideológico. Não é a ideologia que vinga, mas a dignidade do ser humano”, sintetiza o escritor Suleiman Cassamo, no prefácio da obra. Em “Caminhos da Violência”, Augusto Macaba distancia-se da parte ideológica e foca-se no drama vivenciado pelos intervenientes na guerra. “Procurei não trazer a ideologia das partes envolvidas na guerra: o Governo e a Renamo.”
Guerra contra guerra
O Livro é um desabafo. Nele, Macaba expressa o seu sentimento de repulsa à guerra, através da voz das personagens e dos comentários leves do narrador.
A ideia do autor é recordar aos mais velhos o que foi a guerra, mostrar às novas gerações a guerra crua e dura como é. “Espero que assim não voltemos a repetir os mesmos erros. Dá-me calafrios pensar no retorno à guerra”, comenta.
O que leva à violência? Macaba aponta três sentimentos: ódio, revolta e espírito de vingança. “Mas, para entender a manifestação da violência, temos de perceber em que contexto ela surge, quais as motivações que levam os homens ao ódio e à revolta. O meio social em que os homens vivem, a sociedade é a culpada”, sublinha.
Na visão do autor, é preciso conhecer as motivações do comportamento desviante para poder-se modificá-lo. “De pequeno se torce o pepino. Temos de conhecer os caminhos que levam à violência para combatê-la”, refere.
O romancista não tem dúvidas de que a guerra é a manifestação máxima da violência. “A guerra surge pelos três sentimentos, ódio, revolta e vingança, e por algumas ambições pessoais (políticas e económicas) ”.
Quanto aos vestígios de certa instabilidade político-militar que se vivem em Moçambique, Macaba, como a maioria dos moçambicanos, apela ao diálogo. “Através da conversa podemos resolver as diferenças”, apela.
O livro da vida de Macaba
Em 1978, três amigos prometeram escrever uma obra. Dois fizeram juras da boca para fora, mas Macaba levou aquela promessa consigo. Até no calor da guerra guardou aquele juramento. Depois da experiência macabra que passou na frente de combate, decidiu escrever. Fez alguns rabiscos incipientes e logo percebeu que faltava algo: tinha de ter métodos, ferramentas para redigir.
Como a maioria, iniciou na leitura, com as clássicas bandas desenhadas. Depois experimentou outros voos.
“Lia muito. Aprendi muito. Conheci autores como Herold Robbins, Hans Helmut Kirst, Leon Uris, Frederick Foreshity, Irving Wallace. Alguns dos livros retratavam a guerra. A Primeira e a Segunda Guerra Mundial. Em Moçambique li autores como Luís Bernardo Honwana, Mia Couto, Ungulani Ba Ka Khosa, Aldino Muianga, entre outros.” Com a leitura ganhou a experiência necessária para escrever com firmeza.
No entanto, o trabalho foi um obstáculo para a escrita. “Trabalhava em turnos, não tinha tempo para repousar e escrever. Existia um dia de folga, que reservava para a família e para o lazer. Nas férias poderia ter apenas 30 minutos para escrever”.
Macaba conta que para ter mais tempo para a escrita ensinou a sua filha mais nova a omitir mas, como crianças são crianças, passou por um embaraço. “Quando ficava a escrever não queria incómodo. Pedia que a minha esposa escondesse aos meus amigos que estava em casa. Um dia, um amigo veio e ela seguiu as recomendações, disse que não estava, minha filha mais velha, que ainda era criança, desmentiu-a: papa está, mamã está a mentir”. Sem argumentos, Macaba teve de sair e atender o amigo.
Estava complicado escrever. “Existiam dias em que não saía nenhuma página. Noutros saíam dois parágrafos”.
Apesar das dificuldades, Macaba tinha a certeza de que o livro sairia, até já tinha o título. “Foi uma das primeiras coisas a fazer. Escrevia de forma leve, com calma, via e revia os textos à procura do toque certo: a qualidade.”
Rigor. “Tenho de ser exigente comigo próprio, tenho de ter a certeza de que o que escrevo me comoveu, pois o público é exigente.
Os vários manuscritos, cadernos, folhas dispersas provam o trabalho executado. Em alguns dos cadernos existem páginas recortadas e alguns borrões. Apesar do esforço, Macaba precisava de tempo para concluir a estória.
Estabilidade profissional
Depois de sair da guerra, Macaba já havia perdido motivação para estudar. Mas, por incentivo de amigos, voltou a pegar na caneta que havia trocado por uma AK-47. Fez uma formação na Escola Aeronáutica e ingressou nos Aeroportos de Moçambique como operacional. Em 2000 concorreu e ingressou na Unidade de Formação e Investigação em Ciências Sociais (UFICS). Fez o bacharelato em Ciência Política e licenciou-se em Administração Pública, em 2006. Actualmente é técnico superior de Comunicação e Imagem na Direcção de Marketing na Sede dos Aeroportos de Moçambique.
Mas o que isso tem a ver com a vida literária de Macaba? Tempo, quando muda de cargo ganha mais tempo para a escrita. Termina a obra em 2010 e procura os mecanismos para a publicação da obra.
O lançamento
A obra, de 311 páginas, foi lançada no início do mês de Novembro.
A luta para a publicação do livro durou cinco anos. A primeira batalha foi a aceitação da obra por parte da editora. “Mostrei o livro à Ndjira; eles apreciaram durante um ano. Disseram: “Nós não costumamos lançar a primeira obra de um novo autor, desconhecido, na categoria romance (género sublime, mais elevado da literatura). Mas pela qualidade da obra aceitaram o desafio”.
Mas ainda faltavam duas etapas. “Tinha de arranjar patrocínio e um prefaciador (padrinho). Consegui o patrocínio e Suleiman Cassamo leu a obra e fez o prefácio de que tanto gosto”. 
Augusto Macaba não desistiu, pois sabia que era capaz. “Fui persistente, venci as adversidades para a realização do meu sonho”, lembra.
Agora, Macaba respira de alívio, olha para a sua obra sorridente na estante da sala. “Espero ansiosamente pela reacção dos leitores. Amigos e conhecidos mostraram o seu parecer satisfatório e espero ouvir mais reacções.”
Demorou mais de 20 anos para lançar a primeira obra, mas adianta que a próxima levará menos tempo. “Já conheço os mecanismos, agora estou a pensar numa nova obra. Estou em dúvida se continuo com a temática da guerra ou escolho outro tema”, promete.
Apesar das dúvidas, uma certeza existe: a obra vai sair.
Família
Macaba morra no bairro Patrice Lumumba, perto do Estádio da Machava. Neste bairro passou a sua infância. Por estar perto do estádio escuta os gritos das vitórias dos “Mambas” e é obrigado a ouvir barulho dos golos contra a nossa selecção.  
O ano de 1989 é marcante para Augusto Macaba e dona Lúcia da Graça Mula. Naquele ano celebraram o lobolo. Macaba não recordava o dia exacto, mas a sua companheira recordou-lhe: “Foi no dia  30 de Junho que ele me lobolou”.
Por pouco a data ia ser alterada. “O pai de dona Lúcia da Graça é um amante do blues. Nesse dia, Eric Clapton tocava no Estádio da Machava e ele queria estar lá, mas já não havia como alterar a data”.
O sogro de Macaba teve de se conformar em escutar o concerto de longe e com interferência dos cânticos e palmas típicos dos lobolos.

O casal tem três filhos, duas meninas e um menino. Eles acompanham a obra do pai, leram as páginas do livro ainda manuscritas e até deram sugestões.
jornal notícias de maputo

Arte e cultura para crianças de rua de Maputo

 
Integrar as crianças de rua, através das artes e cultura, é um dos objectivos de um projecto que será implementado, até Janeiro próximo, pela Casa da Cultura do Alto Maé, cidade de Maputo.
A iniciativa, cujo nome ainda não foi escolhido, pretende juntar crianças de rua para aprenderem técnicas de música, teatro, pintura, dança e outras expressões artístico-culturais de modo a terem uma opção de sobrevivência.  
Para tal, a Casa da Cultura do Alto Maé já possui instrumentos necessários para estas actividades, bem como coordenadores e voluntários prontos para ir à rua e juntar os petizes pela arte e cultura.
O director da Casa da Cultura do Alto Maé, Jorge Langa, disse que a expectativa é que as crianças beneficiárias vejam a iniciativa com bons olhos, se sintam integradas e abracem uma arte para que sejam úteis à sociedade.
“As crianças, que têm a rua como ‘habitat’, possuem um talento e é necessário descobrir e explorar. Esperamos ensinar-lhes arte para a sua profissionalização e que consequentemente consigam ter rendimentos com o trabalho que possam fazer”, afirmou o director.
“Temos instrumentos musicais, de pintura, por exemplo, também temos coordenadores e voluntários prontos para ir à rua e desenvolver esse trabalho”, reiterou Langa.
Por sua vez, Zeca Uamusse, professor de música na Casa da Cultura do Alto Maé, que aceitou trabalhar nesta iniciativa, disse que é preciso incentivar e fazer com que essas crianças se interessem pelo teatro, música e pintura.
“Trata-se de crianças iguais a todas as outras e que, no entanto, precisam de maior atenção e acompanhamento para poderem estar em condições de ter uma opção para deixar as ruas”, afirmou Uamusse.
A Casa da Cultura do Alto Maé é uma instituição que desenvolve actividades culturais com objectivo de formar crianças e jovens em iniciação artística nas áreas de teatro, música, danças tradicionais, entre outras actividades.

Começou a funcionar oficialmente em Outubro de 1978, sob orientação das estruturas governamentais, tornando-se na primeira do género no país. Mesmo com as dificuldades que afectaram o seu funcionamento nos últimos anos, a instituição continua a ser um dos pilares da movimentação cultural do país.
jornal notícias de maputo

Akokoto: ritual do planalto central angolano



O respeito dos túmulos dos reis e sobas, muito comum na região do Huambo (planalto central angolano), é um ritual dos Akokotos pouco divulgado, correndo o risco de desaparecer.

Trata-se de um ritual realizado pelas autoridades tradicionais quando buscam paz, sabedoria e prosperidade. A tradicional cerimónia dos Akokotos, que implica a matança de um boi, cabrito ou galinha, e a oferenda de bebidas alcoólicas, consoante o impacto do que se busca, é realizada principalmente na época de cacimbo.
Segundo o historiador angolanoVenceslau Casese, Akokoto, expressão que na língua nacional umbundu significa caveira, é parte da cultura do povo do Huambo e dentro da perspectiva antropológica e religiosa desempenha um papel muito importante na preservação da crença e espiritualidade.
Venceslau Casese afirmou que nos reinos do planalto central as cabeças das pessoas que se notabilizaram, sobretudo dos soberanos e sobas que deixaram honra, memória e história, não são enterradas, mas sim conservadas nas encostas das montanhas ou em tabernáculos (etambos), locais chamados de Akokotos.
“Temos a crença que aqueles que morreram continuam ainda vivos, mas de uma forma diferente, e têm influência na vida das pessoas, dada a vivência sabia e exemplar que tiveram, daí a importância de serem preservados no tempo e na história, segundo a religião”, argumentou.
Informou que nos momentos de necessidade e calamidades as autoridades tradicionais acorrem a estes locais para suplicarem aos antepassados as necessidades das comunidades.
“Geralmente encontram respostas, porque este ritual faz parte da fé ou dimensão antropológica e espiritual do homem, que deve ser respeitado pela ciência e por todos”, defendeu.
Na opinião do historiador, tendo em conta o seu significado histórico e importância cultural, este ritual deve ser mais divulgado,  no contexto da campanha de resgate dos valores cívicos e morais da sociedade.
"Tal divulgação deve ser feita nas instituições académicas, nas comunidades em geral e nos órgãos de comunicação social, através de palestras, conferências e debates", acrescentou.
Na província do Huambo, a tradição dos Akokotos mantém-se até aos dias de hoje, com grande incidência nas ombalas do Huambo, Bailundo e Chicala-Cholohanga.

angop