sábado, 29 de agosto de 2015

Obras de arte de cimento


Por Samuel Uamusse
Samuel Macaringue é um artista moçambicano anónimo, apaixonado pela natureza, que manifesta os seus sentimentos de alegria e tristeza através da escultura feita de forma diferente da habitual. Ele usa cimento de construção para produzir obras que representam animais de grande porte.

Macaringue conta que se apaixonou pelas artes aos nove anos de idade quando, juntamente com outras crianças da sua zona de origem, no Posto administrativo de Lionde, em Gaza, pastava gado bovino, caprino e ovino que pertencia à sua família.

Foram estes animais que o inspiraram e, na altura, recorrendo a argila moldava imagens de bois, cabritos e ovelhas, animais com os quais lidava diariamente nas planícies atravessadas pelo rio Limpopo.

Nessa altura outros meninos da sua idade usavam a mesma argila para moldar automóveis, particularmente tractores agrícolas que lavravam extensas terras, e camiões que vinham carregar produtos agrícolas para os mercados do país, com maior escala para Maputo e Xai-Xai.
Entretanto, ele revela que a sua paixão era mesmo pela natureza pelo que se contentava em esculpir animais

A procura de melhores condições de vida, em 1972 fixa-se em Maputo e trabalha nos Caminhos de Ferro-de-Moçambique (CFM) durante dois anos. Depois retoma a produção de escultura, mas já como fonte de subsistência e, para efeito, usava barro que adquiria em Magul, distrito da Macia, província de Gaza, para produzir obras como vasos, porta-velas e vários tipos de animais para a venda.

A sua carreira atingiu o pico em 2007 quando descobriu o cimento como matéria-prima para a sua actividade. Nessa altura começa a esculpir imagens de animais de grande porte e com maior resistência em relação a todos os outros objectos que já tinha produzido.
“Eu produzo estátuas de todo tipo de animais com cimento, desde aves, rastejantes, bípedes e quadrúpedes”- disse Macaringue.

Queria apetrechar jardins municipais

No auge da carreira, Samuel Macaringue chegou a manifestar a intenção e a disponibilidade de apetrechar os jardins municipais com vasos e outras obras de artes a preços bonificados, mas o projecto ficou pelo caminho devido a excessiva burocracia na administração pública.

“Contactei o Conselho Municipal da Cidade de Maputo no sentido de estabelecer uma parceria para fornecer obras de arte a preços simbólicos relativamente ao valor das obras ou dos valores praticados pelos outros artistas de renome na praça, mas não passou daí”, conta o artista.

A fonte disse que nas negociações não houve sucesso devido ao excesso de burocracia instalada nas instituições públicas e duvida que a sua proposta tenha, inclusive, chegado a quem cabia a responsabilidade de dar o aval.
“Eu não estudei, mas acompanho através da imprensa a falar-se da conservação do meio ambiente. E queria contribuir com a minha arte, a educar, e mobilizar o cidadão a ter gosto pela natureza e preservá-la, através das obras de arte como animais e desencorajar a caça furtiva que dizima várias espécies no país”, acrescentou.

Macaringue queixa-se de falta de espaço para execução da sua arte e promoção das suas obras, para que ele saia do anonimato. “Sinto que o meu talento está perdido porque não exploro o máximo dele, faço trabalhos de pequenas encomendas caseiras e isso nem constitui a metade do meu potencial”, revelou.

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