quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Reino do Kongo em Nova Iorque

 Por Miguel Mixinge*
O Museu Metropolitano de Arte de Nova Iorque acolhe até ao próximo dia 3 de Janeiro a exposição “Kongo: Power and Majesty” (“Congo: Poder e Magnificência”), com comissariado de arte de Alisa Lagamma.

Quando ontem visitei pela primeira vez o museu, atendendo a sua dimensão, pensei em ver esta mostra, inaugurada no passado dia 18 de Setembro, ao pormenor. Os visitantes, normalmente, acedem a exposição através de uma ampla galeria com objectos de Arte Grega.

Porém, além desta mostra, o Museu Metropolitano de Arte de Nova Iorque também apresenta neste momento mais duas exposições que podem ser do interesse dos angolanos, por estarem relacionadas com a História do país e do continente africano: “O rescaldo do conflito: Fotografias de Jo Ractliffe em Angola e na África do Sul” e “Dentro e Fora do Estúdio: Retratos fotográficos da África do Oeste”, onde podemos ver obras de Samuel Fosso e Seydou Keita.

No entanto, quem fizer como eu fiz e entrar na galeria de Arte grega, à meio dela, em absoluto contraste com as formas do classicismo grego-latino, encontrará a exposição “Congo: Poder e Magnificência” que, a meu ver, é uma belíssima mostra porque afronta os problemas da história, como a escravatura e o colonialismo, sem minimizá-los. Além do mais, duas outras razões provocam que esta seja uma exposição relevante: em primeiro lugar o retrato de Dom Miguel de Castro, emissário do Soyo, acompanhado de uma documentação histórica relevante, nomeadamente, a correspondência entre os Reis do Congo e a Santa Sé, que coloca este reino, em pleno século XVI, entre um dos mais importantes nas relações inter-estatais da época ou, se quisermos, no epicentro da primeira globalização que a humanidade conheceu. 

Em segundo lugar, com esta exposição de uma maneira delicada e contra a tendência até agora predominante noutras mostras semelhantes, em relação a estudos antropológicos e etnográficos, esta transfere a atenção para a percepção deste tempo e ao esplendor do reino e da sociedade congolesa através da apresentação de uma sequência de têxteis de luxo muito pouco conhecidos, que careciam de um estudo mais sistemáticos.

Apesar de ser específica sobre um reino, convém recordar que “Congo: Poder e Magnificência” realiza-se 21 anos depois da exposição “Escultura Angolana, memorial de culturas”, em 1994, comissariada por Marie Louise Bastin no Museu de Etnologia de Lisboa e há quatro anos desde que, em 2011, Christiane Falgayrettes-Leveau comissariou “Angola, figuras de poder” no Museu Dapper, em Paris.

Como sabemos, estas duas exposições tinham um objecto mais amplo, o de traçar um panorama da diversidade étnico e cultural e, por esta via, dignificar o país, enquanto “Congo: Poder e Magnificiência” cujo catálogo é distribuído pela Yale University Press, simplesmente dignifica o país exaltando um dos seus reinos mais gloriosos.

Não cabem dúvidas nenhumas de que os angolanos que visitarem a cidade de Nova Iorque neste período e poderem ver a exposição podem ficar orgulhosos e, em geral, o público vai redescobrir a história do Reino do Kongo a partir do seu esplendor.
Convêm fazer mais algumas considerações: por um lado, “Congo: Poder e Magnificência” acontece num momento em que, o mundo precisa saber mais sobre este reino e o Ministério da Cultura, com o empenho da ministra Rosa Cruz e Silva, através do seu projecto “Mbanza Kongo, uma cidade a desenterrar” tem estado a fazer ingentes esforços para inscrever Mbanza Kongo como Património Cultural da Humanidade. 

Por outro lado, se tivermos em conta o anúncio da Fundação Sindika Dokolo a propósito do restauro e apresentação de duas peças Mwana Pwo, no âmbito da III Trienal de Luanda, e todas as declarações do patrono daquela fundação, como por exemplo, na entrevista que deu a 9 de Julho ao Raphael Minder do “The New York Times”, a advogar o regresso às origens das peças e artefactos da arte clássica tradicional africana ao continente.

* Historiador e Crítico de Arte

jornal de angola

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